Demissão de Serra reduz lista de candidatos em 2018

Chefe da diplomacia de Temer alega razões de saúde para sair. Lava-Jato contribuiu. Aécio e Alckmin são os nomes do PSDB que restam
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A extensa lista de pré-candidatos às eleições presidenciais no Brasil pode ter perdido ontem um dos nomes mais fortes: José Serra, ministro dos Negócios Estrangeiros do governo liderado por Michel Temer, demitiu-se na noite de quarta-feira alegando problemas de saúde. A notícia ajuda os planos de Aécio Neves e Geraldo Alckmin, os outros presidenciáveis do PSDB, partido de centro-direita. No entanto, os três já foram citados por ex-quadros da construtora Odebrecht no âmbito da Operação Lava-Jato, o vendaval de delações que deve baralhar os dados da política no país.

De acordo com o conteúdo da carta enviada ao presidente Temer, o agora ex-ministro diz precisar de quatro meses para debelar as fortes dores na coluna que o impedem de viajar, condição essencial para o exercício do cargo, e até de se sentar por longos períodos.

Em dezembro, fora operado para tratamento de uma "instabilidade segmentar vertebral", de acordo com o relatório médico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, mas não melhorou. Ao receber a carta, Temer pediu sem sucesso que Serra reconsiderasse e apenas se ausentasse de funções durante o período de recuperação. Aos 74 anos, Serra, candidato derrotado à presidência em 2002 e 2010 e antigo governador e prefeito de São Paulo, já havia reduzido nos últimos meses, por força das dores na coluna, o volume dos seus tradicionais e-mails de madrugada para colegas de governo, colaboradores próximos, amigos e imprensa. "Por isso, os amigos dele não se surpreenderam com a decisão porque já vinham notando abatimento em função da saúde e ainda das delações na Lava-Jato", afirma a comentadora política do canal Globo News Cristiana Lobo. De facto, a acusação de um delator da Lava-Jato de que Serra recebeu 23 milhões de reais [cerca de sete milhões de euros] da Odebrecht para campanhas eleitorais em contas no estrangeiro também atingiu o político na medula.

Funções de senador

Serra, ainda assim, deve passar a exercer funções de senador, tal como Aécio Neves, com quem se aliou nos últimos meses para fazer frente ao favoritismo de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, na corrida pela nomeação presidencial do PSDB. Porém, Aécio, candidato derrotado por Dilma Rousseff em 2014, e Alckmin também foram nomeados, em especial o primeiro, por delatores da Lava-Jato. Nas sondagens já efetuadas, os três surgem claramente atrás de Lula, do PT, da ecologista Marina Silva, do Rede, e do militar na reserva Jair Bolsonaro, do PSC.

No Palácio do Itamaraty, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Serra notabilizou-se por inverter a política externa dos 13 anos de gestão do PT. Confrontou a Bolívia, país que oficialmente classificou de "golpe" a subida de Temer ao poder, isolou a Venezuela no Mercosul e opôs-se ao muro entre os EUA e o México proposto por Donald Trump, cuja eventual vitória nas eleições chegou a classificar de "pesadelo".

Com a saída de Serra sobem para oito as baixas no executivo desde que há nove meses Temer assumiu a presidência, primeiro interina e depois definitivamente, na sequência do impeachment de Dilma Rousseff. Das outras demissões, cinco foram por envolvimento mais ou menos direto na Lava-Jato e duas como consequência do escândalo da aprovação da construção de um prédio em Salvador, na Bahia.

Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, pasta que faz parte da quota governamental do PSDB, o partido equaciona Aloysio Nunes Ferreira, candidato a vice de Aécio em 2014, e o senador José Aníbal como substitutos.

Em São Paulo

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