Demasiadas companhias a voar e aumento de indemnizações explicam falências
O melhor período de sempre para o turismo mundial não está a revelar-se tão positivo quanto seria de esperar para as companhias aéreas. Nos últimos dois anos, os melhores de sempre para o setor turístico, 36 companhias desapareceram, deixando para trás centenas de milhares de passageiros em terra e sem indemnização. A mais recente de uma sucessão de falências que está agora a afetar sobretudo a aviação europeia foi a Adria Airways, num mês de setembro negro em que outras duas companhias europeias foram ao fundo (as francesas Aigle Azur e XL Airways).
O que se passa com a aviação europeia? E é de esperar mais más notícias? "Não antecipo muitas nuvens negras... na realidade, a indústria da aviação está bastante saudável, mas há de facto companhias que não estão a ser capazes de aguentar alguns embates", reconhece Chris Goater, diretor de comunicação da IATA, a associação do setor. Para o responsável, ainda que criem dificuldades no negócio, a subida de preços dos combustíveis - que tem pesado bastante nos resultados de todas as empresas neste negócio mas "não é ainda suficientemente mau para justificar falências" - e a concorrência das low cost não justificam esta má performance. Há porém algo que pode explicar mais fielmente porque estão a desaparecer tantas companhias europeias: há demasiadas empresas para o negócio, mesmo quando o mundo inteiro parece viajar.
"É inevitável que haja mais consolidação na Europa", assume Chris Goater. "Basta comparar o número de companhias a voar na Europa e as que existem nos Estados Unidos, que são mercados mais ou menos da mesma dimensão, para perceber que há demasiadas linhas aéreas na Europa." Fusões ou aquisições serão, segundo as conclusões do responsável da IATA, o único caminho para evitar que mais companhias caiam em processos de falência.
Thomas Reynaert, managing director da Aviation for Europe (A4E), concorda que se criou "uma tempestade perfeita": "A subida de preço dos combustíveis, a par de um aumento significativo na concorrência, vieram gerar problemas." É no entanto nas regras europeias que este responsável encontra mais razões para o fracasso de certas companhias aéreas. "Regulamentos como a diretiva EU261, que prevê os direitos e compensações dos passageiros, e o alargar dos direitos dos passageiros pelo Tribunal Europeu a que assistimos na última década, combinados com alguma má gestão dos serviços de navegação aérea - com os consequentes atrasos e cancelamentos de voos - têm um impacto brutal nas linhas aéreas mais pequenas", explica.
Com a lei a garantir indemnizações e compensações a todos os passageiros que sejam afetados por atrasos ou cancelamentos e os aeroportos a trabalhar no máximo da sua capacidade, por vezes é impossível às companhias escapar a estes eventos. E sempre que atrasam ou cancelam um voo, a fatura de custos multiplica-se. O que, para Thomas Reynaert, ajuda a explicar a onda de falências que fez desaparecer uma média de uma companhia aérea europeia por mês, neste ano.