Delfim de Judite é pai orgulhoso
Vítor Gonçalves nasceu na vila de Sátão, Viseu, mas foi para Lisboa estudar e entrou na RTP em 1992 para, o que pensava ser, "um estágio banal", só que passado uma semana já trabalhava no duro. "Fomos atirados aos bichos porque tinha saído muita gente para a SIC e TVI", recorda a jornalista Rosário Salgueiro, que foi sua colega no Curso de Comunicação Social, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), e também no estágio. "Tivemos uma boa mestra, a Judite Sousa. Muito exigente, dedicada e sempre na procura do conhecimento", diz.
Os estagiários foram divididos pelas várias editorias da RTP e Vítor Gonçalves "foi calhar ao Telejornal", conta o jornalista desportivo Alexandre Albuquerque, que lembra um episódio que fez virar as atenções para o antigo colega de curso, considerando-o como "um aluno brilhante". "No grupo de dez estagiários, ele deve ter sido dos primeiros a ir para a rua fazer reportagens. Uma das primeiras foi sobre uma terra, nos arredores de Lisboa, que ia ter eletricidade pela primeira vez. A Judite deu-lhe os parabéns "pela magnífica reportagem, que estava muito engraçada". Na brincadeira começámos a dizer que ele era o delfim da Judite."
Carlos Rodrigues, diretor adjunto do Correio da Manhã e CMTV, ocupava a secretária ao lado de Vítor Gonçalves e rapidamente se tornaram amigos. "Passámos várias férias juntos com as nossas famílias. Uma vez corremos a Grã-Bretanha num carro alugado. Num outro ano percorremos a França e a Bélgica." Mas também chegaram a passar férias em Portugal. "Costumávamos ir para o Algarve e uma noite até dormimos ao relento porque deixámos as chaves da casa, que era na ilha da Armona, num supermercado", recorda.
Ao fim de oito anos na RTP, o jornalista assumiu o cargo de editor de Política, que viria depois a deixar em 2007 para ser correspondente em Washington, nos Estados Unidos da América. Luísa Bastos foi quem lhe sucedeu na editoria e a primeira a aproveitar "a sua hospitalidade" nos EUA. "Ele adora receber os amigos em casa e ficar a conversar", revela a jornalista e acrescenta: "Nós somos vizinhos, vivemos no mesmo bairro em Paço de Arcos." Conhece-lhe o gosto pela leitura e pelas séries norte-americanas, caso de 24 e Homeland (Segurança Nacional).
Duas vezes por semana, antes de chegar à RTP, Vítor Gonçalves dá umas braçadas na piscina. "Faz natação e na adolescência jogou basquetebol", diz Rosário Salgueiro. O exercício físico ajuda-o a manter a forma porque o jornalista é um bom garfo à mesa. "Não é esquisito. Tanto come um cozido à portuguesa, como uma feijoada ou um bife de frango grelhado", atira a jornalista. Luísa Bastos acrescenta que "ele não gosta de doces, nem de chocolate, a menos que seja chocolate preto".
Marido romântico e pai orgulhoso
Os amigos de Vítor Gonçalves apenas lhe conheceram uma namorada, que é a sua mulher, Ana, com quem está casado há mais de 20 anos. "É professora de Matemática e uma cozinheira de mão-cheia, ao contrário dele que não sabe fazer nada na cozinha", conta Luísa Bastos. O segredo da longevidade do casamento, segundo a editora de Política, está no facto de o jornalista "ser um homem muito dedicado à família". E prossegue: "É um casal muito cúmplice. Não sei se costuma fazer surpresas à Ana, mas acredito que seja muito romântico para o casamento durar tanto."
O casal tem dois filhos, o jovem Francisco e a adolescente Inês. "São o orgulho dele. Costuma falar das conquistas dos filhos", diz Luísa Bastos. José Rodrigues dos Santos realça que Vítor Gonçalves "acompanhou a readaptação dos filhos quando regressaram dos EUA. O rapaz teve mais dificuldades à nova vida em Portugal". O pivô destaca a dedicação do jornalista da RTP, que voltou a Lisboa em 2011. "Foi uma peça crucial na direção de Informação do Nuno Santos. Tinha a sua vida organizada em Washington e veio, a perder dinheiro, porque a empresa precisava dele".
Carlos Rodrigues, que o visitou nos EUA, lembra que o amigo "era muito feliz em Washington porque batalhou muito por aquele lugar, que era o seu sonho, mas trocou tudo por uma nova experiência na RTP, que acabou por ser mal sucedida, embora tenha o seu espaço na estação pública".
Nuno Santos escolheu Vítor Gonçalves para a sua equipa por "ser uma das pessoas mais sérias, disciplinadas, metódicas e divertidas que conheço". O caso Brustosgate conduziu a exoneração da direção de Informação liderada por Nuno Santos. Este reconhece que o colega e amigo "porta-se sempre com grande dignidade, além de ser um dos melhores ativos que a RTP tem e que pode fazer mais do que faz hoje".
Em 2010, o jornalista passou por um dos momentos mais difíceis da sua vida, quando estava no Haiti e sofreu uma aparatosa queda de uma janela do hotel onde estava hospedado. "Nesse dia esqueci-me que era jornalista e só me preocupei com o Vítor, que tinha sido levado para um hospital horroroso e precisava que lhe fizessem um exame de diagnóstico", conta Rosário Salgueiro. Vítor Gonçalves encontrava-se no local em reportagem depois do sismo que abalou o Haiti em 2010 e com ele estava o operador de câmara Carlos Pinota. "Ele sofreu um traumatismo cranioencefálico, mas foi um valentão", recorda o profissional. "Entretanto, o avião onde o Vítor devia ir para os EUA avariou e eu tinha apenas 15 minutos para o levar para outro avião. Andei aos gritos na pista até que um militar norte-americano me ajudou a transportá-lo ao longo de 300 metros e com 40 graus. Quando o avião descolou, eu desmaiei."