Deixem-me ser jacaré

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Diz-se que vivo num país pequeno, onde se não pode aspirar a ser grande, pois "quem nasceu para lagartixa nunca chega a Jacaré." Porque há tantos outros maiores do que nós nesse mundo de meu Deus, que teria de subir aos céus para espreitar a grandeza.

Ouvi de um pequeno mundo que, embora acanhado, partiu à descoberta de novos mundos e neles descobriu quase meio mundo. Desde Angola ao Brasil, à distante Índia e até Macau. Dizem os antigos que de entre os cinco continentes, este "pedaço de nada" tinha a sua bandeira hasteada em quatro. Será mito?! Exagero?! Falamos do mesmo "pedaço de nada" e da sua gente?! Afinal, "aumenta sempre um ponto quem conta um conto." Cuidaria que mentiram não fossem as narrativas da História.

Ouvi de homens e mulheres valentes, que forjaram com sangue fronteiras de uma nação poderosa, com ganas venceram um "demónio" invencível a quem apelidavam de "Bojador".

Prognostiquei que Terra de um povo tecido no ventre da tempestade, forjado em fogo de vulcão, capaz de vergar o mar e crescer três metros ante a adversidade, emergiria hoje como potência de gente temível e de grande influência no mundo. Mas não.

O tal nobre e bravo povo habita um lugar pacato, pequeno e sereno, o mesmo "pedaço de nada", que entre um punhado de contas por pagar, a alma de artista que lhe ensinou o "desenrascar" e tanto amanhã pela frente, vive pessimista, na certeza de um futuro incerto.

Neste lugar onde habita dizem-lhe que não pode aspirar a mandar na Europa, porque tem voz "fraquinha", aprendeu à custa de ser pequeno a arte da diplomacia e do politicamente correcto.

Os seus "putos" sabem de cor o receber a papel verde, apesar das paredes embrulhadas de diplomas que lhes atestam o saber. As qualificações são expressão da estatística que mostra que os "miúdos" são a geração mais qualificada de sempre, nesse lugar pequeno demais para chegar ao céu, mas demasiado bonito para se comparar ao inferno.

E não é que o tal "pedaço de nada" é o meu lugar?! O lugar onde muitos dizem que não se pode aspirar a ser grande, porque há tantos outros maiores do que nós nesse mundo de meu Deus, que teria que se subir aos céus para espreitar a grandeza...

Dizem os antigos que este meu lugar é o mesmo "pedaço de nada" de outrora. A sua gente, a mesma gente valente do passado que cresce três metros ante a adversidade, mas a quem muitos convenceram de que já não valia mais a pena lutar, pois "quem nasceu para lagartixa"... não há-de nunca chegar a jacaré.

Como se pode subjugar assim um povo?! Calando-lhe a voz, os sonhos e a grandeza?! Repetindo-lhe a mentira de que não é aquilo que verdadeiramente é? Que é grande!

Não baixo os braços, não desisto de lutar, porque se Deus quiser... Ainda hei-de ser Jacaré!

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