Deixar-se intimidar ou desistir não é opção

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Allyson Felix pagou o preço de cumprir um sonho: ser mãe. A velocista olímpica, com 35 anos, alcançou em Tóquio a décima e a décima primeira medalhas, tornando-se na mais medalhada atleta feminina nos Jogos. Nem tudo foram rosas no caminho do êxito. Em 2018, Allyson viu a Nike querer cortar-lhe 70% do rendimento por ter sido mãe. Mas não se ficou. Além de juntar a sua voz ao coro de críticas à marca desportiva norte-americana, respondeu à antiga insígnia patrocinadora, assinando pela Athleta.

Deixar-se intimidar, amesquinhar ou desistir nunca foi opção para Allyson. Se, por um momento, alguns ousaram julgar que cortando o seu rendimento ela se aninharia no seu canto, com a autoestima destruída, e sairia de pista, enganaram-se.

Allyson não deu só uma lição à patrocinadora, como às mulheres e ao mundo. A velocista decidiu quebrar o silêncio e tornar públicas as conversações que teve com a marca norte-americana, no momento em que decidiu também ela começar a constituir família.

Ao denunciar a forma como a marca trata as mulheres que decidam ter filhos, a polémica ganhou novos contornos. Outras atletas, como Alysia Montaño e Kara Goucher, juntaram-se ao manifesto e, sem medos, afirmaram: "Se tivermos filhos, arriscamos cortes nos nossos patrocínios durante a gravidez e depois disso. Este é um exemplo de uma indústria desportiva onde as regras são feitas maioritariamente por homens e para os homens."

Allyson escolheu dar à luz e prosseguir o seu trilho enquanto profissional de sucesso. E, como mãe, também está, certamente, preocupada com o efeito da covid-19 nas crianças. Todas as mães estão vigilantes, tal como os pais, mas a proteção através da vacina parece, pelo que conhecemos hoje, essencial para proteger novos e velhos. Interessa pouco o que diz este ou aquele partido sobre o tema; interessa muito o que dizem as autoridades de saúde e é nelas que devemos, acima de tudo, confiar.

Ontem, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, veio anunciar a vacinação dos 12 aos 15 anos e, de preferência, antes do arranque das aulas. Será uma corrida contra o tempo, mas, como nos ensina o atletismo, é preciso ter fôlego e energia para os 100 metros e também para os 10 mil ou para a maratona, pois é crucial não repetir o erro do início do ano letivo 2020-2021.

No final do verão do ano passado, o Ministério da Educação apostava tudo no ensino presencial, parecendo acreditar que não seria necessário voltar ao método híbrido como plano B. Não correu bem, pois milhares de alunos voltaram ao ensino à distância devido ao aumento de infetados. Hoje, a pandemia ainda não passou e todos os cenários realistas devem ser colocados.

Até ao fecho da época de veraneio de 2021, está ainda por conhecer o número de novos casos positivos na população jovem de férias nas praias ou nas cidades, apesar do esforço da vacinação dos mais novos. A articulação entre os ministérios da Saúde e da Educação é essencial, assim como dar garantias a professores e pessoal não docente através de testes serológicos. A ciência deve prevalecer sobre calendários - escolares ou políticos.

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