Defesa do consumidor é defesa do futuro
Vimos nos artigos anteriores sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus que, enfrentando nós há muito, sem soluções nem genuína vontade política à escala global de as encontrar, uma crise climática tão grave como a emergência sanitária que vivemos atualmente, a verdade é que as obrigatórias e profundas alterações nos comportamentos e hábitos de todos são afinal possíveis. Mais: são já, ainda que apenas momentaneamente, observáveis, num vislumbre do que pode e deve ser o nosso futuro sustentável.
Nos primeiros meses de 2020, as emissões de CO2 e de outros gases com efeito de estufa caíram fortemente, em resultado da paragem das indústrias e das deslocações aéreas e terrestres. O desafio que agora se coloca é: como defender esta evolução positiva e ao mesmo tempo promover a prosperidade e o bem-estar das sociedades?
As respostas a esta questão, que é existencial para a espécie humana, são muitas e transversais a várias áreas do conhecimento e a múltiplos setores da economia, com a política e os governantes a terem um papel não menos decisivo. Mas acredito que podemos ajudar a consegui-lo, desde logo, consumindo melhor, com mais responsabilidade e exigência.
A maneira mais simples e fundamental de definir sustentabilidade é "a capacidade de sustentar". Ou, por outras palavras, "a capacidade de suportar".
Nos dias de hoje, não é seguro, longe disso, que o planeta tenha capacidade para suportar a atividade humana. Neste momento, é uma fantasia imaginarmos que os nove mil milhões de habitantes da Terra estimados para 2050 poderão ter uma qualidade de vida básica. Os ecossistemas continuam a deteriorar-se e o clima a mudar, cada vez mais velozmente. Consumimos tanto e tão depressa que, tudo o indica, vivemos já para lá do limite da Terra para nos apoiar.
Ao mesmo tempo que isto acontece, diariamente quase um sexto da população global vai dormir com fome - uma tragédia desnecessária, assim como uma fonte de agitação social e política. Paralelamente, o nosso mundo globalizado está mais interligado e mais volátil do que nunca, tornando-nos a todos mais vulneráveis.
Para sustentar a mudança de que, enquanto espécie humana, precisamos, nós, enquanto sociedade globalizada, temos de transformar os nossos mercados. Isto é, temos de alterar como produzimos e como consumimos. No fundo, temos de modificar as formas pelas quais definimos e medimos valor e progresso.
Convém recordar que sustentabilidade significa não apenas ecoeficiência, mas também ecoeficácia. Sustentabilidade é identificar as necessidades dos mercados olhando para a prosperidade a longo prazo e procurando criar tribos de consumidores sustentáveis. A sustentabilidade tem sempre de ser "ecológica" - porque as empresas, como as comunidades, dependem de ecossistemas saudáveis e produtivos.
Sustentabilidade quer dizer que respondemos às necessidades do presente sem comprometermos a capacidade de as gerações futuras responderem às suas próprias necessidades. Os três pilares do conceito de sustentabilidade - ambiental, económico, social - são igualmente importantes e são interdependentes.
Este é, atualmente, o desafio supremo. Requer um apelo veemente à transição social, política, tecnológica, cultural e comportamental à escala mundial. Exige que os governos criem incentivos, metas e regras para a igualdade de condições. Força os atores da sociedade civil a responsabilizarem quem fornece produtos e serviços, recompensando em simultâneo novas estratégias de geração de impacto social.
Estratégias que permitam projetar e fornecer produtos e serviços que atendam às necessidades sociais e ambientais, incorporando os verdadeiros custos desses mesmos recursos ambientais e sociais. Estratégias que encarem também a transparência e a colaboração como vantagens competitivas.
Do lado dos cidadãos e consumidores, este desafio impõe ainda agirmos nas nossas próprias vidas com o objetivo permanente de promover e premiar iniciativas e modelos de negócio sustentáveis. Mais prosaicamente, obriga-nos a comer, trabalhar, comprar, viajar e divertir-nos de maneira mais sustentável do que o fazemos hoje.
Dito assim, isto parece-nos óbvio. Por que razão apoiaremos financeiramente um produto, uma marca, um serviço, um comportamento no mercado se não concordamos com seus valores sociais e ambientais - se ele põe em causa o futuro de todos, e portanto o nosso também?
Foi por isso, porque acreditamos que a transição para um planeta mais sustentável tem como principais agentes os consumidores, que apresentámos já o pedido à Assembleia da República para que crie o Dia Nacional da Sustentabilidade.
Data da celebração: 25 de setembro, dia em que, em 2015, a ONU revelou os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030.
Sem um futuro sustentável, nada teremos, e seremos nós, consumidores, consumidos pelos nossos erros. Para nós, agora e sempre, defesa do consumidor é, também e acima de tudo, defesa do futuro.
Junte-se ao movimento pelo Dia Nacional da Sustentabilidade a 25 de setembro aqui: https://www.deco.proteste.pt/acoes-coletivas/sustentabilidade
Responsável pelas Relações Institucionais da DECO PROTESTE