Defesa do Capitólio "requer uma intervenção inteligente"

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A que perfil deverá atender a intervenção no Capitólio, um dos primeiros testemunhos da arquitectura moderna em Portugal? Ao perfil de 1931, que Luís Cristino da Silva começou a desenhar seis anos antes, no regresso da sua formação em Roma e Paris? Ou ao perfil de 1935, que o arquitecto igualmente assinou, "encorpando o edifício" e redesenhando os seus interiores?

Para o arquitecto José Manuel Fernandes, questões como esta terão de ser estudadas e debatidas em profundidade para que o mais emblemático edifício do Parque Mayer possa ser alvo, como se exige, de "uma intervenção inteligente". Intervenção que, seja ela de recuperação ou de reconstrução, exigirá antes de mais, frisou, o "conhecimento do processo histórico do edifício, ainda hoje muito mal conhecido".

José Manuel Fernandes - que falava para uma plateia essencialmente formada por futuros arquitectos, em conferência promovida pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, na passagem do 75.º aniversário do Capitólio -, realçaria também "a necessidade e urgência" de uma tomada de consciência da "importância da arquitectura do século XX, sobretudo a da sua primeira metade, a mais ameaçada". Porque o desconhecimento e a indiferença, lembrou, têm efeitos tão ou mais graves que a "degradação das estruturas" e/ou o "abandono das suas vocações funcionais".

Classificado como Imóvel de Interesse Público em 1983, o Capitólio levanta ainda, pelo abandono a que foi votado e pela facilidade com que a sua demolição foi sugerida no quadro dos planos para o Parque Mayer, outras questões, como a (in)eficácia do sistema de protecção ao património vigente em Portugal.

Para José Manuel Fernandes, a solução ideal seria uma conjugação da referenciação em inventário com a classificação: "A classificação [entendida como mero processo administrativo] tem uma utilidade enunciatória, ao dizer que o imóvel x existe e que o Estado o reconhece, mas são muitas as suas insuficiências: é aleatória, conjuntural e não dá qualquer garantia de protecção" real.

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