Defeito nos pés deu-lhe feitio de campeão genial

Publicado a
Atualizado a

Trivela. Três sílabas que Ricardo Quaresma pôs nas bocas do mundo futebolístico. Os portugueses já a utilizam há algum tempo, mas Quaresma fez questão de internacionalizar a palavra no último sábado, imortalizada no soberbo golo à Bélgica - uma trivela do menino com os pés para dentro (ver caixa).

A arte nasceu-lhe assim, de um defeito. "Quaresma tem aquele jeito dos pés metidos para dentro e isso encaminhou-o a utilizar a parte de fora do pé", explicou ao DN Aurélio Pereira, treinador do jogador nas camadas jovens do Sporting.

As trivelas - remates com a parte de fora do pé- surgiram, pois, bem cedo no trajecto do pequeno cigano que o Sporting descobriu quase por acaso, no campo do pequeno clube Domingos Sávio, dos Salesianos de Lisboa, no dia em que o alvo dos olheiros leoninos era Alfredo, o irmão mais velho de Ricardo Quaresma e o mesmo que o impediu de trocar o futebol pelo hóquei em patins, aos 11 anos. "Sempre gostou de ter a bola, como todos os jogadores com as características dele. O que ele faz hoje [trivela], já fazia em miúdo", relembra Aurélio Pereira.

A trivela de Quaresma rivaliza agora com o futebol-total do seu amigo de formação leonina, Cristiano Ronaldo, na selecção nacional e abre finalmente ao extremo portista um lugar nas opções de Scolari, rumo ao Euro-2008, depois da desilusão da ausência do Mundial da Alemanha.

Para Aurélio Pereira, Quaresma "vai conquistando o seu espaço na selecção, o que ajuda à sua evolução, pois ao ganhar um lugar vai reforçando a confiança". Quiçá rumo àquele que já admitiu, em entrevista, ser o seu objectivo. "Eu [sou o melhor do mundo]. Não considero ninguém melhor do que eu."

Garrincha e Didi

A trivela tem na "folha seca" de Didi o percursor. O brasileiro marcou assim contra o Perú, nas eliminatórias para o Mundial de 1958, e ficou com a patente. Com Didi (e Pelé) nesse Brasil jogava ainda "o anjo das pernas tortas", como ficou conhecido Garrincha, tema de poesia de Vinicius de Moraes. Com as suas pernas arqueadas, "zombava de tudo e todos", escreveu Carlos Drummond de Andrade. *Com Tiago Silva Pires

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt