Declínio populacional e imigração - na China e noutros países
A recente notícia da diminuição da população chinesa trouxe à baila as previsões demográficas de peritos da ONU e outros especialistas. De acordo com o World Economic Forum, depois de ter atingido 925 milhões em 2011, a população em idade ativa da China deverá cair para 700 milhões em 2050.
Ao contrário de muitos países ocidentais já em acelerada transição para um inverno demográfico, a China e outras grandes potências asiáticas (Japão e Coreia do Sul) não estão a usar a imigração para compensar a diminuição da fertilidade. A proporção de imigrantes em percentagem da população total no Japão em 2020 era de 2% e na China era de apenas 0,2%. Continua a ser difícil um estrangeiro obter o direito de residência na China e praticamente impossível obter a cidadania. Em contrapartida, 17% das pessoas que viviam na Alemanha em 2021 nasceram no estrangeiro e um terço delas obtivera a cidadania alemã.
O Pew Research Center estimou que, na segunda metade do século, um terço da população dos EUA - mais de 100 milhões de pessoas - serão imigrantes e os seus filhos nascidos nos EUA. E os imigrantes para os EUA (e seus filhos) têm um peso económico ainda superior. 44,6% das 500 maiores empresas norte-americanas foram fundadas por imigrantes ou seus filhos, desde gigantes tecnológicas como a Google até à cadeia grossista Costco e a marca de jeans Levi's. Não encontrámos dados similares na Europa mas não faltam casos de empresários de sucesso imigrantes de 1.ª ou de 2.ª geração; um bom exemplo é o casal etnicamente turco - Uğur Şahin e Özlem Türeci - que criou a BioNTech alemã.
O Prof. Joseph Nye conta uma conversa pretérita com o ex-PM de Singapura (e conselheiro de vários governos da China) Lee Kuan Yew, a quem terá perguntado se a China ultrapassaria os EUA em poder total; ao que Lee terá dito que não, porque a América pode recorrer e recombinar os talentos do mundo de formas que simplesmente não são possíveis sob o nacionalismo étnico Han da China.
Ao mesmo tempo, mantém-se um grande fluxo de emigrantes chineses para o estrangeiro. Demógrafos da ONU estimam que, de 2023 até 2100, saiam da China uma média de 310.000 nacionais / ano, ou seja, um total de c. 24 milhões de pessoas. É pouco crível que a China consiga evitar a saída de nacionais seus em busca de uma vida melhor noutros países ou para se juntarem a familiares.
A intensa migração interna, das zonas rurais para as urbanas, apesar dos problemas que criou ao sistema da autorização de residência (hukou), tem permitido a manutenção na China urbana de um "exército industrial de reserva" que cria um permanente excedente de oferta de mão-de-obra não qualificada. Mas essa migração está a acabar, devendo atingir o pico até 2030. Entretanto, o governo chinês cria incentivos para um aumento da taxa de fertilidade, a quem ninguém augura sucesso diverso do de programas similares noutros países em declínio (e envelhecimento) populacional. Apenas uma política ativa de imigração poderá solucionar ou reduzir o declínio populacional na China. Em tempos de exaltação do nacionalismo étnico Han, fortemente estimulada pelas autoridades, conseguirá o governo chinês adotar uma política de atração de imigrantes para repor o equilíbrio numa série de setores económicos?
Consultor financeiro e business developer
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