O PS está sujeito a mais um teste à sua real vontade de exercer a maioria absoluta sem que isso se confunda com "ditadura da maioria" (a garantia que António Costa deu desde o primeiro momento)..Agora, no Parlamento, o tema que dá pretexto a isso é o processo legislativo de revisão do Regimento da Assembleia da República - processo lançado pela vontade de vários partidos de se recuperarem os debates quinzenais com o primeiro-ministro (desapareceram em agosto de 2020, por acordo entre o PS e o PSD, então liderado por Rui Rio, passando os debates a bimensais)..O facto é que, neste processo legislativo, os socialistas decidiram reinventar a forma como decorrem no plenário os debates com o Governo (e que incluem, por maioria de razão, os debates com o primeiro-ministro)..O PS não só recusa o regresso dos debates quinzenais com o PM - admitindo, quanto muito, que sejam mensais - como agora quer acabar, dentro dos debates, com aquilo que o deputado socialista Pedro Delgado Alves qualificou como o "pingue-pongue" entre as perguntas das bancadas e as respostas do governante.."Um momento de prestação de contas não é o caso e o casinho, não é "responda numa palavra ou numa sílaba" a um assunto que tem que responder-se com parágrafos inteiros. E, portanto, qualificar o debate é não ceder à tentação de respostas curtas e de respostas simplificadoras para temas que são difíceis e, para aí, o desporto não é o pingue-pongue", defendeu, falando com jornalistas no Parlamento, depois do PSD ter criticado a proposta socialista..PS quer acabar com os debates com o PM em modo pergunta-resposta.Esta consiste numa mudança simples - mas de grande alcance. Agora o regimento da Assembleia da República diz que, nos debates, "cada pergunta é seguida, de imediato, pela resposta do Governo". Os socialistas propõem que "no final do tempo de intervenção de cada partido segue-se, de imediato, a resposta do Governo". Ou seja: deixa de haver "pingue-pongue" de perguntas e respostas entre os deputados e os membros do Governo; e estes passam, em relação a cada intervenção vinda do plenário, a ter a última palavra. Vingando esta proposta - e o PS tem maioria para a fazer aprovar, mesmo que todos os outros partidos votem contra -, o primeiro-ministro evita, por exemplo, que se repitam os "bate-boca" agressivos que tem trocado com o líder do Chega..O PSD considera que o PS está a quer "tornar o Parlamento num centro de congressos" (expressão do deputado Hugo Carneiro). "A vivacidade dos debates acontece porque há pergunta-resposta. Querem acabar com isso. Querem que seja feito um discurso a que o primeiro-ministro responde com outro discurso", acrescentou outro parlamentar "laranja", Duarte Pacheco..Este afirma esperar que os socialistas procurem um "acordo alargado", não utilizando a sua maioria absoluta para rever sozinho o Regimento, algo alegadamente contrário a práticas do passado. Segundo o PSD, já se vê no PS "uma linha de tendência" de "diminuição do escrutínio" por parte da oposição parlamentar, apontando como exemplos pedidos de audição rejeitados. E o próprio primeiro-ministro tem-se mostrado "enfadado" nas suas intervenções..A isto, Pedro Delgado Alves respondeu que o PS reitera "a disponibilidade completa que mantém para encontrar soluções consensuais", sendo essa disponibilidade "especialmente importante num contexto em que há maioria absoluta", sendo certo que não tem "linhas vermelhas"..O parlamentar socialista deixou, porém, um recado ao PSD (que agora é favorável ao regresso dos debates quinzenais quando no tempo de Rui Rio foi decisivo para acabar com eles): "É um bocadinho difícil fazer uma discussão regimental quando as pessoas com quem procuramos estabelecer as pontes e os consensos vão mudando as ideias consoante os dias da semana também vão mudando.".Enquanto isto, a bancada parlamentar do PSD vai-se adaptando ao novo líder, Joaquim Miranda Sarmento, eleito quarta-feira (com apenas 59 por cento de votos favoráveis entre os deputados)..A bancada reunirá dia 21, tendo na agenda uma alteração ao regimento interno e o alargamento do número de vice-presidentes de dez para doze (num total de 77 deputados). Está previsto que, após esta alteração, decorra de imediato na reunião a eleição como novos "vices" dos deputados Luís Gomes e Alexandre Poço (atual líder da JSD)..Apesar de ter obtido uma das mais baixas votações para uma direção de bancada - só Fernando Negrão teve menos em 2018, com 39% dos votos -, o novo líder parlamentar do PSD afirmou na quarta-feira estar "satisfeito com a votação" e recusou estar fragilizado ou entrar em comparações com os números obtidos pelos seus antecessores..joao.p.henriques@dn.pt