Debate no Porto defendeu acesso de atores de todas as características à interpretação

Porto, 09 abr 2019 (Lusa) -- A participação de atores com deficiência, negros ou asiáticos e lésbicas, 'gays', bissexuais, travestis, transexuais ou transgénero (LGBT) no teatro e cinema foi hoje defendida no Porto, no âmbito de um debate sobre esta temática.
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Promovido pela Acesso Cultura e subordinado ao tema "Quem faz de quem? Polémicas em relação à interpretação de personagens com deficiência, negros ou de origem asiática, LGBT no teatro e no cinema", o debate realizou-se, paralelamente, em sete cidades: Castelo Branco, Évora, Faro, Funchal, Lisboa, Vila Nova de Famalicão e no Porto.

Cláudia Marisa, da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, defendeu que "todos podem interpretar todos os papéis, dependendo do olhar que se quiser dar", concedendo ao encenador a possibilidade de escolher.

"Um bom ator/atriz pode interpretar qualquer papel", reiterou Cláudia Marisa, dando conta de uma "grande desigualdade no país no acesso ao ensino artístico, por questões geográficas e económicas".

Em representação da associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo, Telmo Fernandes considerou ser "importante nos 'castings' a presença de pessoas LGBTI", mas não só, sublinhando ainda a forma "como vão ser apresentadas".

Nuno Silva, da SOS Racismo e MICAR - Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista, enfatizou a necessidade de "haver políticas públicas" que defendam o acesso das minorias ao ensino artístico em vez de, "como agora se vê, as comunidades negras serem direcionadas para o ensino profissional, afastando-as das universidades".

Elencando três questões que o preocupam enquanto membro da associação, Nuno Silva referiu as "barreiras no acesso à cultura a indivíduos de determinadas características e etnias", a existência de "cinema e teatro que promovem a discriminação" e o facto de o "processo de criação cultural dever ser o mais livre possível, sob pena de se deixar de ter cultura para passar a ter propaganda".

Num relato na primeira pessoa, Sérgio Nogueira, ator de teatro amador que se desloca em cadeira de rodas, falou do "'não' que começou em casa e prosseguiu na escola" quando manifestou a vontade de seguir o ensino artístico, mas que foi insuficiente para, anos mais tarde, "integrar uma companhia de teatro amador".

A juntar a isto as "dificuldades arquitetónicas" que o "obrigam a ter de subir, amparado, sete andares de escadas para ir aos ensaios", salientou Sérgio Nogueira.

Cláudia Braga, intérprete de Língua Gestual Portuguesa, em representação da Associação Laredo, chamou também a atenção para a dificuldade que a "comunidade surda em Portugal tem em assistir a peças de teatro", pois "são em dias pré-determinados, não lhes dando a oportunidade de ir ao teatro quando lhes apetece".

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