Debate morno serve ambição socialista
O debate de terça-feira entre Ségolène Royal, Dominique Strauss-Kahn e Laurent Fabius foi o primeiro dos três confrontos televisivos previstos até que os socialistas escolham, a 16 de Novembro, o seu candidato às presidenciais de 2007.
Os militantes que se juntaram para assistir ao debate numa secção do 18.º bairro de Paris vêem nestas eleições primárias, inéditas em França, uma demonstração da cultura democrática que só pode reforçar o seu partido.
"No Partido Socialista: diversidade sim, intolerância não", lê-se nos cartazes colocados nas paredes da sala onde foi montado um ecrã gigante pelo qual, durante duas horas, várias dezenas de pessoas observaram a prestação dos candidatos.
Após o debate, Olivier Botte estava mais tranquilo. Decidiu apostar em Ségolène Royal, "que muitos diziam não estar à altura". "Mas ela furava o ecrã, sentiu-se a sua vontade de mudança", conclui este engenheiro informático de 46 anos, que voltou à militância activa após a derrota de Lionel Jospin em 2002, logo na primeira volta.
Olivier Botte temia que a competição entre socialistas enfraquecesse o candidato que enfrentará a direita. "Penso que afinal vai acontecer o contrário, porque o debate foi rico em ideias e a campanha interna servirá de treino para o nosso candidato", disse, acrescentando que "debater assim diante dos franceses é uma grande lição de democracia".
"Gostava de ver a direita dar este exemplo", lança Charles Henry, com uma ironia que revela o seu orgulho. Para este parisiense de 27 anos que engrossou as fileiras socialistas em 2004, a outra vantagem das primárias é que são "uma formação acelerada para os que aderiram ao partido recentemente".
Um destes novos militantes tomava apontamentos. Apesar de Éric Danet, de 27 anos, declarar preferência por Strauss-Kahn, ex-ministro da Economia e Finanças de Jospin e representante da ala mais liberal, ainda não tomou uma decisão definitiva. "Sei que Strauss-Kahn não é o mais popular nas sondagens, por isso mantenho a minha escolha em aberto", acrescenta. "Espero que os candidatos desenvolvam os seus argumentos frente a frente, e que as máscaras caiam", dizia quando se aumentou o volume da televisão para ouvir Ségolène Royal, a primeira a usar da palavra.
O debate centrou-se nas questões económicas e sociais. Respondendo a questões formuladas pelos militantes por Internet, os candidatos abordaram o crescimento, o poder de compra, as desigualdades, a política energética, as reformas. O debate era morno. Quando, perante a proposta de Fabius - o candidato mais à esquerda - de aumentar de cem euros o ordenado mínimo, Strauss-Kahn exprimiu claramente discordância, Éric Danet soltou um "Ah,enfim!", que traía impaciência.
Ségolène admitiu ter havido erros na aplicação da reforma das 35 horas, pelo Governo Jospin. Estes foram os únicos pontos em que os três pretendentes não temeram mostrar-se divididos. "Faltaram diferenças entre os candidatos, não fiquei satisfeito", confessava Éric à saída.
Em minoria, Éric escutava atentamente alguns veteranos que, em volta de um beberete, tentavam convencê-lo de que a atitude pragmática de Ségolène era a mais adequada no combate contra a direita.
"O essencial é escolher o mais apto a enfrentar uma direita muito dura, mais dura que a de Chirac", explicava Anabila Ramdani, uma professora universitária que apoia Ségolène Royal. "O seu pragmatismo é de uma espantosa eficácia", disse. "Contrariamente ao que dizem, ela faz propostas concretas e está próxima das pessoas", defendia outra militante, criticando o "arcaico e estereotipado" discurso de Fabius. A crítica mais frequente a Strauss- -Kahn é que, por ser um economista respeitado e ter um discurso muito elaborado, tem perfil de primeiro- -ministro e não de presidente.
Apesar das diferenças no estilo, estratégia e posicionamento político dos três candidatos, a vontade de conquistar o Eliseu pode ser determinante na escolha dos militantes.