Belmiro de Azevedo. De uma empresa de estratificados criou um império

Começou como trabalhador e acabou como dono de um dos maiores grupos nacionais, que dá trabalho a quase 50 mil pessoas
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Primeiro teve de destruir, para depois criar o que hoje é a Sonae. Um grupo multinacional presente em 86 países, quase 50 mil empregados e negócios de mais de 5,3 mil milhões de euros. De uma empresa de estratificados, Belmiro de Azevedo criou um império de distribuição, retalho, centros comerciais, telecomunicações, imobiliário, serviços financeiros e media. Um império que, desde 2015, deixou nas mãos do filho Paulo Azevedo. Cláudia Azevedo ficou à frente da Sonae Capital. Nuno, o filho mais velho, nunca quis fazer parte dos negócios da família.

Longe vão os tempos da Sonae - Sociedade Nacional de Estratificados, empresa nascida a 18 de agosto de 1959, pelas mãos do banqueiro Afonso Pinto de Magalhães. Atividade? Fabrico de estratificados a partir de engaço de uva, uma patente francesa. O futuro do grupo começa a desenhar-se em 1965. “Fui encontrar engenhocas a mais e só não percebi como é que um banqueiro conseguiu pôr ali dinheiro”, lembrou Belmiro de Azevedo, no livro Retrato do Grupo, a comemorar os 40 anos da Sonae. “O meu primeiro trabalho foi desfazer tudo aquilo.” E foi assim com um ato de destruição que começou a ascensão de Belmiro Azevedo no grupo, que recriou à sua imagem e estilo de gestão. “Assumi como estilo de vida pessoal e atitude empresarial no grupo que dirijo: be prepared, ou seja, prepare-se para decidir com pouca informação, com pouco tempo. Por mera coincidência, o acrónimo Sonae tem, em japonês, exatamente tal significado”, recordou.

A grande mudança começou em em meados da década de 80, altura em que passa a ser sócio maioritário do grupo. Foi também nessa época que a Sonae fez o acordo com a Promodès, que levaria à sua entrada na área da distribuição: o primeiro hipermercado Continente nasce em 1985 em Matosinhos. Foi o Continente a marca eleita em 2011 para dar nome aos hipermercados. Ainda nesse ano, com o Meu Super, passaram a ter uma oferta de franchising. Pelo meio, em 2007, compra o Carrefour. O mais recente negócio é de 2017: os supermercados Brio, rapidamente transformados em Go Natural. Worten, Modalfa ou Sport Zone são outras das apostas da Sonae no retalho especializado, área em que começaram a apostar nos anos 90 e hoje marcas internacionalizadas. E não esquece os centros comerciais: em 1997, abre o Centro Comercial Colombo, o maior da Península Ibérica.

No ano da Expo 98, o setor das telecom vê nascer a Optimus, que em 2013 se funde com a Zon, dando origem à NOS. Uma fusão só possível porque em 2006 avançou com uma OPA à Portugal Telecom. Perdeu. Mas a empresa foi obrigada a fazer spin-off da PT Multimédia, a futura Zon. A operadora tinha Isabel dos Santos como maior acionista, isso e a expectativa de uma parceria em Angola para lançar hipermercados teriam ajudado a um entendimento. A fusão aconteceu. Angola é ainda um mercado onde não há hiper da Sonae.

É uma das derrotas do grupo que também no Brasil teve um dos seus momentos menos bem-sucedidos. Entrou no país em 1989 com a compra da CRD, mas em 2005 vendeu parte ao Carrefour e à Wal-Mart. Encaixou 600 milhões.

Na lista de “insucessos” listada por Belmiro Azevedo nas comemorações dos 50 anos do grupo está ainda a privatização da Portucel. Vendeu a posição de 25% acima do preço de venda, mas ficou sem a companhia complementar ao seu negócio industrial. E a banca, onde teve as maiores derrotas. Em 1989, não conseguiu ficar com controlo do Totta & Açores e, em 1995, também não travou a venda do Banco Português Atlântico, que perdeu para o BCP, na época liderado por Jardim Gonçalves.

“Belmiro de Azevedo era um grande empresário, um homem de visão e de ação, corajoso, num país que tantas vezes maltrata quem é desassombrado, quem tem espírito de iniciativa e capacidade empreendedora”, recorda Alexandre Soares dos Santos, o grande concorrente da Jerónimo Martins.

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