De Schäuble a Gauland: as figuras do maior Bundestag de sempre

O novo Parlamento alemão realiza hoje a sua sessão inaugural. Em resultado das eleições legislativas de 24 de setembro - e do sistema eleitoral misto - é o maior de sempre e tem 709 deputados. Antes tinha 630. Algo que gerará custos adicionais de 200 milhões de euros em quatro anos. A entrada da AfD e o regresso do FDP são as grandes novidades desta legislatura.
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Wolfgang Schäuble: o veterano no papel de árbitro

Amplamente conhecido na Alemanha e na Europa, sobretudo pela sua ortodoxia financeira no que toca à política da zona euro, Wolfgang Schäuble, de 75 anos, é o novo presidente do Bundestag. Eleito para o Parlamento alemão pela primeira vez em 1972, o ex-governante é o deputado há mais tempo em funções. Ministro das Finanças de Angela Merkel ao longo de oito anos (antes disso chegou a ocupar a pasta do Interior), Schäuble assume o papel de árbitro naquele que é o maior Bundestag da história da Alemanha democrática. Com 709 eleitos. Saídos de seis partidos: CDU-CSU, SPD, AfD, FDP, Die Linke e Verdes. A grande novidade desta legislatura, resultado das eleições de 24 de setembro, é a entrada da extrema-direita no Parlamento e o regresso do FDP (que já esteve no poder durante o segundo governo de Merkel). Antes da sessão inaugural do Bundestag, Schäuble foi já avisando: "O nosso sistema democrático, livre, assente no Estado de direito, é tão forte que ninguém o pode destruir, nem de fora nem de dentro. Quem tentar vai falhar."

Alexander Gauland: o rosto da extrema-direita estreante

Um dos dois candidatos a chanceler pela Alternativa para a Alemanha nas eleições legislativas de 24 de setembro, a par de Alice Weidel, Alexander Gauland, de 76 anos, é o rosto mais visível da atualidade do partido de extrema-direita. Esta é a primeira vez desde a II Guerra Mundial que uma formação ultranacionalista tem assento no Bundestag. A AfD, que começou como partido eurocético e antirresgates da UE e depois se deslocou para a extrema-direita, elegeu 94 deputados e teve 13% dos votos (em 2013 não tinha conseguido ultrapassar a barreira dos 5% para ter representação parlamentar). Apostada em desestabilizar o governo de Merkel, a AfD tem também acusado divisões internas: Frauke Petry, sua ex-líder, recusou ocupar o seu lugar de deputada logo a seguir às eleições. Conhecido pelas visões radicais, Alexander Gauland tem protagonizado várias polémicas: desde afirmar que a maioria dos alemães não queria o futebolista Jerôme Boateng como vizinho, até defender que os alemães deviam orgulhar-se dos feitos dos seus soldados na II Guerra Mundial.

Christian Lindner: o liberal que pode atormentar a zona euro

Líder dos liberais-democratas do FDP, Christian Lindner é um dos políticos que atualmente estão a negociar com a chanceler a formação de um governo de coligação. Os outros são os líderes dos Verdes: Cem Özdemir e Simone Peter. Se chegarem a acordo, poderão formar a coligação Jamaica, assim chamada porque as cores da CDU-CSU, FDP e Verdes são as mesmas da bandeira desse país. Aos 38 anos, Lindner conseguiu fazer o seu partido regressar ao Bundestag depois de, em 2013, ter falhado a representação. Nas eleições de 24 de setembro, o FDP conseguiu 80 eleitos e 10,7% dos votos. Uma das exigências dos liberais para integrar o governo é que Wolfgang Schäuble deixasse de ser ministro das Finanças. Algo que, efetivamente, aconteceu. Só falta conhecer o substituto. Se for alguém do FDP, como Lindner, espera-se muitas dores de cabeça para os líderes da zona euro, uma vez que o partido tem sido sempre contra os resgates financeiros de outros países da moeda única ou mesmo contra políticas como o aprofundamento da chamada união bancária.

Martin Schulz: o contrabalanço de esquerda na oposição

Após ter visto o SPD conseguir um dos piores resultados em muitas décadas, Martin Schulz, de 61 anos, decidiu não reeditar a Grande Coligação que governou até agora em conjunto com a CDU-CSU de Merkel. E ficar na oposição. Isto também para não deixar a AfD sozinha na oposição a dizer que é o único partido que defende os interesses do povo alemão. O sucesso da AfD deu-se, em parte, por causa do receio criado na população em relação aos imigrantes e aos refugiados que chegaram ao país nos últimos anos. SPD e CDU-CSU tinham posições muito semelhantes em relação a este tema e, por isso, durante a campanha eleitoral não puderam enfrentar-se sobre esse dossiê, deixando espaço livre para a AfD. Nas legislativas,
o SPD elegeu 153 deputados para o Bundestag (menos 40 do que tinha antes). Ao todo saíram 105
deputados, do SPD e da CDU-CSU. Estes têm direito a uma pensão de mil euros durante quatro anos, despesa que, segundo a imprensa alemã, pode chegar a custar 55 milhões de euros anuais do bolso dos contribuintes alemães.

Angela Merkel: a chanceler pragmática que busca consensos

A vitória agridoce conquistada nas eleições e a nega dos sociais-democratas para reeditar a Grande Coligação deixaram Angela Merkel com um leque de opções limitadas. Chanceler da Alemanha há 12 anos, a líder democrata-cristã procura agora parceiros de coligação entre o FDP e os Verdes, estando postos de parte o Die Linke e a AfD, um por ser de extrema-esquerda e o outro de extrema-direita. Ao longo dos seus três governos, Angela Merkel, de 63 anos, sempre adotou uma atitude pragmática para conseguir consensos. Neste último governo, por exemplo, para obter o apoio do SPD aceitou introduzir aquela que tinha sido a bandeira de campanha do partido nas eleições de 2013: a criação de um salário mínimo nacional (algo que a Alemanha não tinha e que Merkel, no passado, tinha criticado em relação a outros países da União Europeia). Agora, caso forme a coligação Jamaica, terá de ser ainda mais pragmática para acomodar as exigências do FDP e dos Verdes. Integração da zona euro e dieselgate serão à partida os dois dossiês com maiores dificuldades de conciliação.

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