De projeto escolar a mala de 393 peças de sucesso mundial
João Sabino apresentou como trabalho final de curso um porta-moedas diferente do habitual, feito de teclas de computador. A ideia foi evoluindo e um tempo depois surgiu a carteira, que é hoje um sucesso no mercado internacional e até já foi exposta no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa).
"A ideia era a fragmentação e o desmontar de um objeto de uso corriqueiro. E o teclado do computador foi o escolhido", começa por contar o designer nascido no Fundão. "Apesar de um teclado ser visto como um todo, este é constituído por fragmentos, ou seja teclas que funcionam de forma independente, e que estão aglomeradas segundo uma norma, o qwerty [o nome vem das primeiras seis letras da primeira linha do teclado]. Ao desmantelar um determinado número de teclados apercebi-me de que estes fragmentos, à medida que os juntava numa caixa, pareciam ganhar mais força fora da sua configuração primitiva. Estávamos em 2003", explica João Sabino ao DN.
Na realização do seu projeto, este criativo decidiu reaglomerar as teclas de forma diferente da original, consciente de que o novo objeto que estava a construir deveria continuar a ter um estreito contacto com as mãos, daí "ter surgido a carteira. Um dos pontos determinantes para o sucesso do projeto enquanto conceito".
Um ano após terminar os estudos na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, e com a sua ideia no bolso, João Sabino decidiu torná-la uma "realidade".
O passo seguinte foi o de tentar encontrar quem quisesse divulgar a invenção. Procurou apoios/colaborações institucionais e empresas privadas, contudo não teve sucesso. Avançou então para uma nova etapa: colocou no seu blogue o projeto, e a resposta não poderia ter sido melhor. Várias empresas mostraram interesse naquele distinto produto. Entre os interessados, a conhecida marca de telemóveis Blackberry, que escolheu a keybag do designer português para um anúncio. Também uma operadora portuguesa de telemóveis acabaria por se associar ao projeto de Sabino.
O conceito agradou igualmente ao Museu de Arte Moderna norte-americano, que decidiu destacar esta invenção made in Portugal.
O sucesso continua a dar os seus frutos, possibilitando produzir versões mais caras e maior variedade. Recentemente, o modelo keylver (em prata) foi vendido pela módica quantia de 15 mil euros a um cliente norueguês.
Por tudo isto, João Sabino é hoje um homem de voz ponderada, consciente do seu valor como designer de produtos, e "da dimensão que o projeto keybag" deu à sua vida, quer pessoal quer profissional.
Tal como o próprio revela, à medida que este trabalho foi sendo conhecido internacionalmente, através da Internet e revistas, as pessoas "passaram a demonstrar curiosidade" pelo seu trabalho e por "outros projetos que estava a desenvolver". O fator económico também permitiu "avançar com outras ideias" que estavam em stand-by , confidenciou.
Como designer de produto, João Sabino sempre procurou inspiração em todos os locais e a todos os momentos. Aprecia trabalhar sozinho, mas também - quando existe a necessidade de um certo know-how em determinada área - colaborar com outras empresas e designers.
Os desafios aliciam-no e não se sente limitado criativamente por só gostar de trabalhar com um material em particular. Para ele, o importante é encontrar a ideia adequada que possibilite ir "ao encontro do produto certo". Só assim se alcança o sucesso. Tal como aconteceu com a sua keybag, que hoje é vendida em todo o mundo em preto, vermelho, rosa e branco.