De Lisboa de Medina ao Portugal dos Pequenitos, são poucos anos de distância

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No início da década passada, Portugal atravessava uma grave crise financeira. Sem capacidade de produção que pudesse aumentar as exportações, o país encontrou no turismo a sua "galinha dos ovos d"ouro".

Portugal começou a vender aquilo que de melhor tem, que é, na prática, o próprio país. Vendemos sol, vendemos gastronomia, vendemos simpatia, vendemos cultura, vendemos praia, vendemos campo, vendemos desporto, etc. Portugal passou a ser um país trendy, um destino desejado por toda a Europa.

Lisboa, a de Medina, foi, sem dúvida, a cidade que mais ganhou com todo este crescimento, tornando-se uma cidade carregada de turistas. A Baixa, que outrora tinha lojas no piso térreo e serviços nos pisos superiores, tornou-se um conjunto de quarteirões de hotéis. Hoje são poucas as empresas que ali desenvolvem atividade e são raros os espaços comerciais que não foram "engolidos" pelos grandes grupos de retalho de moda.

Lisboa, a de Medina, ganhou uma nova alma. Os espaços mais antigos e degradados, à custa do dinheiro que o turismo trouxe para a cidade, rejuvenesceram. Com todo este boom de investimento, o Alojamento Local ganhou muito mais força.

Muitos foram aqueles que olharam para a Lisboa de Medina e viram uma oportunidade de melhorar as suas condições de vida. Por isso, saíram da sua zona de conforto e investiram na aquisição de novos apartamentos - na sua maioria degradados - e converteram-nos em espaços com a dignidade necessária para acolher quem visita a cidade. Entre 2014 e 2016 o Alojamento Local na Lisboa de Medina teve um crescimento de 330%.

Em 2016, Lisboa, a de Medina, já contava com mais de 33 mil espaços de AL. Uma alavanca económica absolutamente incrível, que permitiu a criação de inúmeros negócios e serviços na cidade.

Medina, nesta altura, olhava para os cofres da "sua" Lisboa e esfregava as mãos, sem pensar em todos aqueles que lá viviam. Por cada família despejada, Medina viu mais camas, mais taxas e taxinhas para cobrar. Não se preocupou minimamente com os seus munícipes, nem com quem investia, deixando que bairros históricos, como Alfama, Madragoa entre outros, ficassem totalmente descaracterizados. A ganância de Medina estragou a Lisboa, a dos outros, sem pestanejar.

Hoje, Medina, ministro das Finanças, olha para o país, e percebe a asneira que fez em Lisboa, a que foi dele. No entanto, pretende resolver o erro à sua maneira, que é como quem diz, com outro erro. As novas leis do Alojamento Local que pretende implementar, não são nada mais, nada menos que um ataque - mais um - aos portugueses de classe média que investiram as suas poupanças num negócio que é importante para o país.

O arrendamento local, exceto na Lisboa de Medina, nunca foi o grande causador da crise de habitação. Cascais, por exemplo, é um concelho onde o AL cresceu e, no entanto, recebeu milhares de novos munícipes, maioritariamente "corridos" da Lisboa de Medina.

Atacar o Alojamento Local desta forma, é atacar também o turismo, uma enorme alavanca económica do país.

Se Medina quer contribuir verdadeiramente para resolver a crise da habitação em Portugal, pode, por exemplo, implementar uma nova fórmula para aliviar a maior carga fiscal de sempre aplicada aos portugueses, melhorando-lhes o poder de compra.

Já é hora de Fernando Medina deixar de confundir o país com o Portugal dos Pequenitos.

Vereador do Urbanismo e Atividades Económicas
da Câmara Municipal de Cascais

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