Na altura de escrever o testamento, Oscar de la Renta fez questão de não ignorar as rebeldias do seu único filho. Segundo revela o New York Post, o famoso estilista, que morreu a 20 de outubro de 2014 vítima de cancro, aos 82 anos, não deixou mais do que uma amostra do seu património de 26 milhões de dólares (cerca de 23 milhões de euros) a Moisés de la Renta, resgatado por si de um orfanato na República Dominicana, também o seu país de nascimento. E deixou algo bem claro: se o jovem de 30 anos tentar contestar a sua decisão na justiça, não terá direito a um único cêntimo..A relação de ambos começou por azedar quando Moisés decidiu aventurar-se no mundo da moda e entrar em competição direta com o pai. Em 2005, o jovem lançou a sua própria linha de roupa feminina e Oscar não reagiu da melhor forma, tendo mesmo humilhado o filho publicamente.."O Moisés lançou uma pequena linha com cinco ou seis peças. Mas isso só por si não o torna um estilista", explicou na época um irritado Oscar de la Renta à New York Magazine..O estilista contou ainda, à mesma revista, que na altura tentou aconselhar o filho a dar os primeiros passos como empresário. "Moisés, quando eu comecei o meu negócio, tornei-me bem conhecido porque fazia roupas que eram compradas por uma loja e as mulheres iam a essa loja e compravam as minhas roupas. Só depois começaram a falar de mim. Hoje, infelizmente, veem-se muitos jovens a receber uma tremenda atenção da imprensa mas que nunca venderam um único vestido", ter-lhe-á dito..Mas a quase exclusão do jovem De la Renta do testamento traduz-se em boas notícias para a mulher de há 25 anos do estilista, Annette, a quem foram entregues todos os seus bens e algumas das suas propriedades, incluindo um apartamento de 13 milhões de dólares (cerca de 11,8 milhões de euros) em Nova Iorque, uma casa de 2,8 milhões de dólares (aproximadamente 2,5 milhões de euros) no Connecticut e um outro imóvel luxuoso em Punta Cana, estância turística famosa na República Dominicana..Tudo o resto, de acordo com o documento legal de seis páginas obtido pela publicação norte--americana, foi colocado num fundo a ser dividido entre Annette, os seus três filhos fruto de uma outra relação e Moisés. O controlo desse dinheiro - que inclui uma conta bancária de 3,3 milhões de dólares (2,9 milhões de euros) e um reembolso de impostos no valor de 1,2 milhões de dólares (1,08 milhões de euros) - foi entregue na totalidade à sua mulher. E mais: contrariamente ao que seria de esperar, De la Renta não nomeou como segundo titular desse fundo o filho, mas antes a enteada Eliza Bolen, vice-presidente do seu império da moda. Não se sabe, porém, o montante exato que o empresário deixou ao seu descendente..O estilista de eleição de primeiras-damas americanas como Jaqueline Kennedy, Nancy Reagan ou Laura Bush adotou Moisés quando este tinha apenas um dia de vida, depois de a sua primeira mulher, Françoise de Langlade, antiga editora da Vogue francesa, morrer vítima de cancro. "Nunca pensei que iria casar-me outra vez. Pensei que o meu filho e eu nos teríamos um ao outro", confessou numa entrevista..Mas esta relação sempre se revelou agridoce. "O Oscar gostava dele como um filho de verdade, mas passaram por muitos momentos difíceis", conta ao site espanhol ABC uma antiga cliente do estilista e sua amiga íntima, residente em Madrid. "O Moisés chegou a dar muitas dores de cabeça ao seu pai e não tornou as coisas fáceis. Mas gostavam muito um do outro", revela ainda a mesma fonte..Até ao momento, Moisés de la Renta não se pronunciou e os advogados de Annette recusaram tecer qualquer comentário..Oscar de la Renta começou por construir o seu nome ao desenhar roupas para Jackie Kennedy na década de 1960, o que lhe permitiu lançar a sua própria marca alguns anos depois. Desde então, várias foram as personalidades que a si recorreram para esbanjar beleza nas passadeiras vermelhas, tais como Sarah Jessica Parker, Jennifer Lawrence ou Amal Clooney, a quem recentemente desenhou o vestido de casamento..E apesar da dura relação que manteve com o filho, De la Renta sempre foi reconhecido pelo seu lado carinhoso e filantropo..Na República Dominicana, onde nasceu na década de 1930, estabeleceu em 1982 La Casa del Niño, uma instituição para crianças desfavorecidas. Mais tarde, esses esforços valeram-lhe o título de embaixador não oficial do país e um passaporte diplomático daquele país das Caraíbas, que divide a ilha de Hispaniola com o Haiti.