Integração. Romeno quer trazer a família que agora já pode sustentar.O doutor Gavrila Mihai começou como cantoneiro em Portugal .O estetoscópio com que Gavrila Mihai observa os doentes que chegam ao Hospital de Torres Vedras fá-lo esquecer o tempo em que trabalhou como cantoneiro e viveu numa casa abandonada, depois de ter entrado ilegal no país..Depois de a Ordem dos Médicos lhe ver reconhecidas as competências para exercer a medicina em Portugal, há um mês que este cidadão romeno trabalha na urgência daquela unidade hospitalar, cumprindo assim o objectivo traçado em 2005 de "vir para Portugal para sustentar a família" porque, diz, "tenho dois filhos e a minha esposa tem uma doença que nos obriga a gastar muito dinheiro"..A sua aventura começou após ficar desempregado do Exército. Com um salário em dois centros de saúde que "não dava para comprar o passe mensal", Gavrila Mihai, agora com 45 anos de idade, sabia que em Portugal iria encontrar pessoas que "dão ajuda" e uma língua semelhante à sua que começou a aprender através da RTP Internacional e durante os oito meses em que passou por Angola, integrado numa missão de paz da ONU. Porquê a escolha de Torres Vedras? "Antes de partir procurei na Internet e descobri que esta zona tem muitas estufas para trabalhar na agricultura", responde..Disposto a lutar por uma vida melhor, fosse qual fosse o trabalho que lhe oferecessem, "trouxe uma mala com roupas e documentos, um saco com comida, 30 maços de cigarros e 15 euros". Ao fim de cinco dias de viagem, em Fevereiro de 2005 chegava a Torres Vedras, onde uma conversa com dois ciganos romenos à saída do autocarro o ajudou desde logo a encontrar dormida.."Ofereci-lhes cigarros em troca de ir morar com eles e andava contente porque tinha uma cama para dormir", recorda Gavrila, para quem o trabalho nem sempre bateu à porta. "Cheguei a ir procurar trabalho a pé até à Lourinhã e a Peniche [a 20 e 35 quilómetros] e estraguei o par de Adidas que tinha trazido"..Para não andar descalço recorreu ao Centro Social e Paroquial (distribui roupas e sapatos aos mais pobres), onde foi confraternizando com pessoas da comunidade. Daí surgiu a oportunidade de dormir e tomar banho na Associação Lar Abrigo Porta Aberta e trabalhar como cantoneiro na Junta de Freguesia de Santa Maria.."Este homem, ao dizer que era médico e que queria estabilizar a sua vida, convenceu-nos com as primeiras palavras", explica o presidente da junta, Horácio Silva que, com um sorriso nos lábios acrescenta: "ele até costuma dizer que foi Santa Maria que o trouxe aqui"..Foi graças à ajuda da junta que pode frequentar a Universidade Nova de Lisboa, para provar os seus conhecimentos. LUSA