De Gregory House a Michael Moore

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O guião dos episódios da série segue um padrão mais ou menos uniforme: alguém adoece subitamente, vítima de um mal misterioso, quase sempre de diagnóstico difícil. Uma vez internado o paciente, entra em acção a equipa chefiada pelo heterodoxo e genial dr. Gregory House.

Barba de três dias, à José Mourinho, vestuário cuidadosamente descuidado - não me recordo de o ver com a bata hospitalar da praxe -, coxo, com bengala, mas com boa figura, suficiente para estimular as hormonas de balzaquianas e jovens mais exigentes, House passeia a sua arrogância e humor corrosivo ao longo dos 45 minutos de cada episódio da série. Desafia as regras do hospital, põe a cabeça em água à responsável financeira da instituição, arrisca, com frequência, processos judiciais, engana-se, por norma, no primeiro diagnóstico, mas acaba por acertar e garantir o happy end que tranquiliza o telespectador.

Portanto, à primeira vista, apenas mais uma série norte-americana inspirada nessa matéria-prima inesgotável que é o quotidiano da vida hospitalar. Porquê, então, o particular sucesso - e a qualidade - deste "Dr. House", que agora nos surge a várias horas do dia e em mais do que um canal e que é, sem dúvida, um óptimo entretenimento para as horas vagas que os tempos de Verão sempre prometem? Trata-se, desde logo, de uma série televisiva bem realizada, com o ritmo apropriado de acção, representada por bons actores, a começar pelo intérprete do médico-vedeta. Depois, o guião mistura, com talento raro, o bom humor com as sequências de drama, sem entrar na lamechiche. Comprova, ainda, que os médicos não são deuses, enganam-se com frequência e têm conhecimentos e competências desiguais. E também que a vida não é eterna e, portanto, há doentes que morrem. Mas sabe deixar aberta a porta da esperança para aqueles que sofrem de doenças raras e graves.

A série toca ainda no problema central do sistema de sáude norte-americano, a sua estreita relação e dependência dos lucros, uma condicionante que muitas vezes desumaniza os tratamentos e que é uma causa objectiva de desigualdade no tratamento dos doentes.

Para aqueles que acompanham, com compreensível gosto, as atribulações de Gregory House, cresce a curiosidade perante a anunciada próxima obra do irreverente Michael Moore. O realizador promete, para o Outono, um documentário-choque sobre o mundo da "indústria da saúde" nos Estados Unidos, elaborado com base numa investigação nacional, assente em vários milhares de casos estudados "em profundidade".

Mesmo sabendo que Moore não quer ser neutro e que resvala, por vezes, para a demagogia, a obra será de visão aconselhável, designadamente para se ter uma visão mais bem contextualizada do que passa nos corredores hospitalares portugueses.

Sugestões de Verão

Esta coluna repousa nas próximas semanas. E permite-se deixar aqui algumas propostas de ocupação de tempos livres. Mesmo quem fica por Lisboa em Agosto tem, por norma, mais tempo e disposição para aplicar em actividades fora da rotina.

Começando por exposições, aqui, na sede do DN, está Rodrigues Sampaio - O Jornalista e o Político Através da Imprensa. Nas Janelas Verdes, merece ser vista a colecção de Gustavo Rau e, na Gulbenkian, a pretexto dos 50 anos da Fundação, há várias "a não perder".

Um "simples" computador portátil permite ver - ou rever... -, mesmo à beira da piscina, alguns filmes já em DVD. Sugere-se O Fiel Jardineiro, uma das melhores adaptações da obra de Carré, da responsabilidade de Fernando Meirelles, o último de Woody Allen (Match Point), o excelente Declínio do Império Americano e ainda, para os apreciadores do género, o documentário A Marcha dos Pinguins. Em matéria de "clássicos", propõe-se o sempre actual Os Homens do Presidente e o futebol e a guerra filmados por John Huston em Fuga para a Vitória.

Quanto a leituras, temos Vasco Pulido Valente em vintage, na biografia de Henrique Paiva Couceiro. Em carteira estão ainda o Percurso Solitário, de Augusto de Ataíde, Primeiro as Senhoras, de Mário Zambujal, O Patrono, de Jorge Botelho Moniz, Enquanto Salazar Dormia..., de Domingos Amaral, e o mais recente de Vargas Llosa (Travesuras de la Niña Mala). Ficará também algum tempo para Hard News, um relato dos 21 meses "brutais" em que o ex-director Howel Raines abalou o The New York Times.

Muito útil, finalmente, a eleição, por júri credível, que o DN está a fazer aos sábados dos mais apreciados restaurantes de Portugal. O estômago também merece algum carinho...

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