De espectador a júri: Rui Tendinha entre os votantes dos Globos de Ouro

Rui Pedro Tendinha, crítico e jornalista de cinema, falou com o DN sobre o convite para júri dos Globos de Ouro e as suas expectativas.
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O jornalista e crítico de cinema do Diário de Notícias, Rui Pedro Tendinha, está entre os 103 novos votantes que podem selecionar os nomeados e os vencedores dos prémios Globos de Ouros norte-americanos.

Pela primeira vez, a Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, organizadora dos Globos de Ouro, escolheu 103 novos votantes não-membros de vários pontos do globo como forma de diversificar a organização, depois da cerimónia do ano passado ter sido boicotada pelas estrelas do cinema.

Juntamente com Rui Pedro Tendinha, estão outros dois portugueses entre os votantes: Rui Henriques Coimbra e Bárbara de Oliveira Pinto. O DN falou com o jornalista que também colabora no projeto CineTendinha, faz parte da Federação Internacional de Críticos de Cinema.

Como surgiu esta oportunidade de integrar os votantes dos Globos de Ouros norte-americanos?

Basicamente, isto é uma tentativa de dar credibilidade à Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood. Nesse sentido estão a recrutar membros que estejam localizados em Hollywood e abriram o espetro para jornalistas estrangeiros. O meu nome veio à baila, e como também pertenço a uma associação de críticos internacionais, suponho que seja através daí. Mas depois houve aqui um processo de averiguação. Quando aceitei, preenchi uma espécie de formulário, respondendo a algumas perguntas e submetendo o meu trabalho a festivais e crítica de cinema, apesar de estarem escritas em português. O meu trabalho na televisão no universo SIC ao longo dos anos também ajudou. Isto é tudo uma incógnita. Vamos ver como corre com esta nova direção da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood depois do boicote que aconteceu este ano (2022). Com este novo desígnio de diversidade para ver se os Globos de Ouros voltam a ter prestígio e reconhecimento, o que perderam o ano passado. Ninguém foi à cerimónia nem mesmo os vencedores. Há agora um caminho para trilhar. Há 103 novos membros e espera-se que a Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood volte a ter respeito e sucesso.

É uma tentativa de dar mais importância aos críticos europeus?

Creio que esta abertura não seja só para a Europa. Estão a tentar ter uma diversificação global dos jornalistas estrangeiros para que o cinema feito em Hollywood seja visto de uma forma mais global. Penso que na teoria isto é uma excelente ideia mas vamos ver se depois na prática resulta. Também estou a tentar perceber como é que vão ser depois os métodos para ver os filmes e como é, estando à distância, vamos votar. Estamos uma época globalizadas portanto vamos ver como é será esta nova vida dos Globos de Ouro. Creio que isto já devia ter acontecido há muito tempo. E, de facto, quem está lá na organização diz-me que era preciso limpar porque havia muitos vícios e muita corrupção.

Em relação à lista de filmes, o que nos pode dizer?

Há alguns critérios. Uma das categorias que estou bastante expectante para ver como é que funciona é a do filme estrangeiro, porque havia muitos problemas. No passado eram vistos como errados e não chegavam à América. Na América não havia filmes estrangeiros. Espero que com a nossa abertura os melhores filmes de cinema do mundo possam ser votados com um bocadinho mais de igualdade. Pode ser também um fator de atração junto do mundo do cinema para além Hollywood. Penso que esta categoria pode fazer a diferença.

Em relação ao processo de votação, como é que vai ser?

Penso que os votos serão iguais, e teremos todos o mesmo poder. Os votos vão ser feitos online, respeitando regras de segurança e de credibilidade. Garantiram-me que o processo vai ser simples, natural e fidedigno. Era uma coisa que os Globos de Ouro precisavam com esta nova gestão. Os prémios são uma organização com lucro e isso exige algumas tomadas de segurança. Garantiram-me que vai ser um processo muito transparente. Espero que sim, é o que os Globos de Ouro precisam. Mas este processo pode demorar mais do que um ano. Sei que no ano passado já estavam afastados os membros que foram acusados de corrupção e de falta de diversidade. Por isso, vai ser começar do zero. Vamos ver o que acontece.

Quais são as expectativas?

Temos de ser otimistas. Há coisa de um ano e meio quando havia muitas interrogações e muitas dúvidas era tóxico fazer parte dos Globos de Ouro. Este e uma nova fase que estou a arriscar e acredito que é uma instituição que merece este risco porque já foram os prémios que mais prazer deram aos cinéfilos. Eram os primeiros grandes prémios da temporada e esperemos que voltem a ser. Estou francamente entusiasmado e com vontade de ajudar. Sei que a toxidade que existia antes ainda está na memória de Hollywood e que algumas celebridades estejam ainda de pé atrás. Mas com os 103 novos membros, as novas posições e como a oferta de dinheiro a instituições de caridade podem mudar o ângulo dos prémios. Há também a questão de ter o apoio de uma televisão porque sem uma transmissão televisiva global o impacto é menor.

O que significa ser júri dos Globos de Ouro?

É surreal. Lembro-me de quando era miúdo já era um entusiasta destas cerimónias. Ficava até de madrugada em janeiro à espera para ver. Muitas vezes só dava online porque nem sempre a televisão portuguesa transmitia a cerimónia. Para mim era sempre um prazer porque era um bocadinho mais alternativo que os Óscares. Era também uma noite com muito humor. Era um jantar/ cerimónia que gostava muito de assistir. Depois profissionalmente, escrevi muito sobre os Globos de Ouro e cheguei a apresentar uma das cerimónias na SIC.

mariana.goncalves@dn.pt

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