De 'barman' da mafia a vilão de hollywood

Há 35 anos voou para os EUA . Pagava os estudos a trabalhar num bar frequentado por mafiosos. Hoje, é um dos poucos actores portugueses com uma sólida carreira internacional.
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Joaquim de Almeida tem duas vidas, duas casas, duas nacionalidades. Decidiu tentar a sorte fora do País com apenas 18 anos, mas diz que seria "impossível" deixar de sentir-se português.

"Ando sempre para lá e para cá e hei-de andar sempre para lá e para cá." Cá tem os dois filhos, os amigos, a quinta em Sintra e, claro, a comida portuguesa. Até porque "em Los Angeles não há restaurantes portugueses", lamentou, ao telefone com o DN, no mesmo dia em que regressava a Lisboa após vinte dias de trabalho na República Checa.

A aventura de um dos poucos actores portugueses que conseguiram construir uma carreira internacional de sucesso começou em Viena, onde trabalhou como jardineiro na Embaixada do Zaire, enquanto participava em peças no Teatro Kunst- lerhaus. Filho de farmacêuticos e sexto de oito irmãos, já antes tinha trabalhado em Lisboa na cozinha de uma faculdade e feito figuração no São Carlos para pagar os estudos que iniciou no Conservatório Na- cional aos 16 anos.

Depois de um ano na capital austríaca, partiu para os Estados Uni- dos, o país onde o seu trabalho e o seu nome seriam catapultados para a fama. Do outro lado do oceano, a cidade escolhida foi Nova Iorque. Inscreveu-se no famoso Lee Stras- berg Theatre and Film Institute e começou a trabalhar num bar frequentado por mafiosos, que nos anos 70 ainda controlavam a cidade. A experiência serviu-lhe de preparação para os muitos papéis de vilão que viria a desempenhar. "Eles ficaram muito satisfeitos quando eu comecei a fazer filmes. Achavam engraçado verem-me a desempenhar papéis que eles estavam a viver", contou o actor no ano passado à revista Up Magazine.

Foi na "cidade que nunca dorme", onde começou por partilhar um apartamento com Otelo, um amigo italiano, que aprendeu línguas e se tornou fluente em espanhol, italiano, inglês, francês e alemão.

A estreia em Hollywood aconteceu em 1982 com o filme O Solda- do, mas só em 1987, com Good Morning Babylon, o filme dos irmãos Paolo and Vittorio Taviani que nesse ano abriu Cannes, conseguiu começar a dedicar-se à representação a tempo inteiro.

Desde então, já contracenou com estrelas do cinema americano como Harrison Ford , Michael Caine ou Richard Gere, notabilizando-se como vilão em inúmeros filmes. Desperado (1995) ao lado de Antonio Banderas e Salma Hayek foi um deles. Entrou em produções como A Máscara de Zorro, em 1998, Atrás das Linhas do Inimigo, em 2001, ou o díptico de Steven Soderbergh dedicado a Che Guevara, em 2002. Este ano entrou no quinto filme de Velo- cidade Furiosa, em que é Hernan Reyes, um traficante brasileiro.

No cinema português, já foi dirigido por Leonel Vieira, António Pedro Vasconcelos, Maria de Me- deiros e Teresa Villaverde ou, mais recentemente, por Fernando Fra- gata em Contraluz. O seu desempenho em filmes portugueses valeu--lhe o Prémio de Melhor Actor no Festival de Cinema do Cairo em 1992 e um Globo de Ouro em Por- tugal em 1998.

Actualmente a viver em Santa Mónica, Califórnia, Joaquim de Almeida, conta com mais de 90 participações em filmes, telefilmes e séries no currículo, mas não se deixa cegar pelo brilho de Hollywood, nem se identifica com a hipocrisia que, numa entrevista no ano passado, disse ser comum entre as estrelas da sétima arte nos EUA.

Com dois novos filmes na calha - um deles é Mamitas, onde contracena com Jennifer Esposito -, Joaquim de Almeida, vai equilibrando a sua vida entre a vista para o mar da sua casa de Santa Mónica e o ambiente calmo da quinta que tem em Sintra. Não planeia voltar de forma definitiva até porque "lá [nos EUA] há uma qualidade de trabalho que não há cá". Não quer voltar para fazer novelas. Para além disso, confessa ao DN, a rir, "os Invernos em Los Angeles são muito mais simpáticos".

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