David Attenborough ofereceu um dente de tubarão ao príncipe George. Agora, Malta reclama-o de volta

Malta quer de volta um dente de tubarão pré-histórico que foi dado como presente ao príncipe George, da Grã-Bretanha, pelo famoso naturalista e apresentador de programas de TV Sir David Attenborough. Malteses reclamam que o fóssil deveria ser exposto na ilha onde foi descoberto.
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O Palácio de Kensington, residência dos duques de Cambridge (príncipe William e Kate Middleton) anunciou o presente de Sir David Attenborough ao príncipe Goerge no passado sábado (26 de setembro), informando que o dente gigante de tubarão pré-histórico foi dado ao príncipe de sete anos quando o famoso naturalista assistiu a uma exibição privada de seu mais recente documentário ambiental, a Life On Our Planet, com membros da família real.

Attenborough disse ter encontrado o fóssil durante umas férias em família em Malta no final dos anos 1960, acrescentou o palácio, que partilhou ainda fotos do príncipe George a brincar, deleitado, com a relíquia oferecida.

O dente de tubarão foi incrustado em calcário amarelo macio e acredita-se que tenha cerca de 23 milhões de anos e terá pertencido a um Carcharocles megalodon, uma espécie extinta de tubarão gigante que poderia crescer até 16 metros de comprimento.

O jornal The Guardian escreve que os dentes de megalodonte são fósseis relativamente comuns em muitos locais, de acordo com FossilEra.com. E a razão para isso é que os tubarões perdem os dentes durante a vida ou à medida que crescem.

No entanto, a simpática oferta de Sir Attenborough ao príncipe George - o mais velho dos três filhos dos duques de Cambridge, que têm ainda Charlotte e Louis como descendentes - provocou alguma irritação em Malta, uma antiga colónia britânica (até 1964), onde o ministro da Cultura, José Herrera, disse que o dente deveria estar num museu local e prometeu "dar o pontapé inicial" para o recuperar, segundo a agência Reuters.

"Existem alguns artefactos que são importantes para o património natural maltês e que acabaram no estrangeiro e merecem ser recuperados", disse Herrera ao jornal Times of Malta, sem dar pormenores de como pretende recuperar o fóssil.

"Nós damos muita atenção aos artefactos históricos e artísticos. No entanto, nem sempre acontece o mesmo com a nossa história natural. Estou decidido a encentar uma mudança nessa atitude", disse ainda o ministro da Cultura maltês.

Os fósseis enquadram-se na definição de património cultural como um "objeto móvel ou imóvel de importância geológica" e, de acordo com as disposições da Lei do Patrimônio Cultural de 2002, a sua remoção ou escavação é agora expressamente proibida, informou o Times of Malta.

O jornal The Guardian lembra que a família real britânica há muito enfrenta apelos para o repatriamento de vários objetos famosos, muitos deles alvo de pilhagens por exploradores ou soldados ao longo dos séculos ou adquiridos nos tempos da colonização.

Entre eles está o maior diamante do mundo, o Koh-i-noor (Montanha da Luz), com valor calculado superior a 100 milhões de libras, e a estrela da coroa usada pela rainha Elizabeth, a Rainha Mãe, na coroação de George VI (1937), e também na coroação da rainha em 1953. Faz atualmente parte das joias da coroa britânica.

O diamante de 105 quilates, possivelmente extraído na Mina Kollur, na Índia, fazia parte do Trono do Pavão, um trono de joias dos imperadores Mughal, e mudou de mãos várias vezes entre várias facções no sul e no oeste da Ásia até ser cedido à Rainha Vitória após a anexação britânica do Punjab em 1849.

Os governos da Índia, Paquistão, Irã e Afeganistão reivindicaram a propriedade legítima. Desde que a Índia se tornou independente do Reino Unido em 1947, tem havido pedidos para o seu retorno, rejeitadas pelo governo britânico, que insiste que foi obtido legalmente nos termos do Tratado de Lahore (1846, um tratado de paz que marcou o fim da Primeira Guerra Anglo-Sikh). Nos últimos anos, um grupo de estrelas de Bollywood e donos de empresas instruíram advogados a instaurar um processo para sua devolução.

Também a Pedra de Roseta - um pedaço de granito encontrado em 1799 nos arredores da cidade de Roseta, no Egito, e que foi a chave que permitiu aos investigadores decifrarem os hieróglifos - foi tomada pelos britânicos aquando da vitória sobre as tropas francesas de Napoleão em 1801. As autoridades egípcias exigem a sua devolução há décadas.

E o mesmo ocorre em relação aos mármores do Partenon, uma série de esculturas gregas compradas pelo Reino Unido na mesma época e também abrigadas no Museu Britânico.

Agora, há um dente de tubarão a juntar-se a esta lista. Irá o príncipe George devolver o seu novo presente a Malta, antiga colónia britânica até 1964, da qual a rainha Elizabeth foi chefe de Estado até 1974 e onde passou os primeiros anos de casamento com o príncipe Eduardo (que lá serviu como oficial da Marinha britânica) ?

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