Dave Gahan: Depois da fé, a devoção

Entrevista com Dave Gahan, em 2005, por ocasião da apresentação do álbum ‘Playing The Angel’, dos Depeche Mode.
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Quando, há poucos meses, chegou a notícia de que haveria um novo álbum de Depeche Mode, os muitos admiradores do grupo tiveram razões para fazer a festa. Editado em 2001, o anterior Exciter pedia viagra. Ou seja, mostrava uma banda ultra-profissional, veterana, senhora das suas artes, mas numa manifestação de exaustão criativa que prenunciava um cenário sombrio? As edições a solo que se sucederam, um segundo disco de versões de Martin Gore e um primeiro álbum de Dave Gahan (revelando-se pela primeira vez como autor) vincavam extremos que muitos temiam em rota de afastamento. E quando, nas entrevistas de promoção a Paper Monsters, Dave Gahan deixou bem claro que a haver novamente Depeche Mode, teriam de contar com ele como autor de canções, o que era sombrio ficou quase negro? Desde sempre, os Depeche Mode tiveram em Martin Gore a sua força criativa. Bom, o primeiro álbum era ainda dominado pela escrita de Vince Clarke, que logo partiu para formar os Yazoo e, mais tarde, os Erasure. Pelo meio, o recruta de 1983 Alan Wilder deu pontualmente a sua contribuição, mais na definição de arranjos e texturas electrónicas que propriamente na composição. Os Depeche Mode tornaram-se assim região demarcada das obsessões de Martin Gore, a medo em A Broken Frame (1982), com sinais de maior solidez em Constrution Time Again (1983) e Some Great Reward (1984), com formas definitivamente atingidas em Black Celebration (1986), disco que, juntamente com a obra-prima do grupo, Violator (1990) define precisamente as bases estruturais de suporte do álbum que agora editam.
Revelando uma intensidade dramática e marcas de ímpeto que poucos esperariam numa banda com 25 anos de vida pública, Playing The Angel não só é o melhor disco editado pelos Depeche Mode em mais de dez anos, como neles reafirma um protagonismo na cena electrónica actual. Paisagens sombrias, ameaçadoras, são mote para canções de recorte clássico, afinal, as células de toda a existência dos Depeche Mode.
Há algumas semanas atrás, o DN encontrou o grupo numa tarde destinada a entrevistas para jornais e rádios da Europa. Estavam tranquila e luxuriantemente instalados numa ala de um hotel que piscava o olho à Place Vendôme, espreitando mais além para ver a velha e bela Ópera. Cada um em sua suite, recebia jornalistas à razão de um por meia hora? Com intervalo para rápido café ou aguinha com gas, antes de nova dose de perguntas. Pelo corredor fora, as duas promotoras de serviço asseguravam trânsitos de microfones e mini discs, cassetes e gravadores, jornalistas e águas. Ao segundo, nada podia falhar, com aviões e comboios marcados para o fim do dia. Andrew Fletcher, como sempre, falava pelos cotovelos. Assertivo, científico, preciso. Martin Gore, de anorak inesperado em tarde de calor, parecia cabisbaixo. Ao DN coube a oportunidade de falar com Dave Gahan . Sentado numa poltrona Luís XV, mesa com águas pela frente. Fato negro, barba feita, cabelo bem penteado. Belo aspecto a contradizer episódios de 90 que parecem definitivamente arquivados. Depois dos olás, como vai, da praxe, o pingue-pongue da pergunta e resposta. Os novos desafios e prioridades na vida, a longevidade dos Depeche Mode, o envelhecimento? Um jogo rápido, profissional. Sem bolas à rede? Aqui ou ali fugindo o vocalista a questões menos cómodas ou eventualmente inoportunas, mas dando sempre o ar de quem respondeu directamente ao que se lhe pediu?

Quando promoveu o seu álbum a solo PaperMonsters deixou claro, na entrevista ao DN, que, se os Depeche Mode voltassem a gravar, teria de participar como autor no disco. Isso, de facto, aconteceu?
É verdade. Esse disco foi para mim o catalisador do que veio a acontecer. E deu-nos força para continuar. Neste novo disco há, portanto, um certo espírito de competitividade que até aqui nos faltava internamente.

Precisava de experimentar as suas capacidades como autor, a solo, antes de as apresentar nos Depeche Mode?
Sim, creio que sim. Houve sempre esta ideia de que algumas canções que eu tinha feito poderiam caber em discos nossos. Uma ideia que remonta aos dias do Violator ou ao Songs Of Faith and Devotion. Mas nunca senti que esse fosse exactamente o meu lugar. Ao longo dos anos fui-me progressivamente sentindo cada vez mais desconfortável com o papel que havia atribuído a mim mesmo.

Como um grito mundo interior?
Creio que sim. Havia um desejo de sair de casa e tentar algo novo?

Em que termos pensa que a sua escrita difere da de Martin Gore?
Em primeiro lugar tenho de dizer, e creio que o Martin diria o mesmo, que não escrevo para os Depeche Mode. Assim como o Martin não escreve para os Depcehe Mode. Ele escreve para si. Quando comecei a escrever as canções para o álbum que acabei por gravar como PaperMonsters, não vislumbrava nada mais além. Sentei-me a escrever e estava apenas a fazer isso mesmo. A escrever. E a chegar ao fim do dia com a sensação que tinha conseguido fazer algo. Continuei a escrever depois da Paper Monsters Tour e só no final do ano o Daniel Miller [patrão da Mute, a editora dos Depeche Mode] chegou ao pé de mim e propôs que se fizesse um novo álbum de Depeche Mode. Tornou-se então bem claro para mim que teria de falar com os outros elementos do grupo e dizer-lhes que, se íamos desafiarmo-nos novamente como Depeche Mode, teriam de contar comigo a assinar algumas canções.

Durante 25 anos cantou primeiro as canções de Vince Clarke, depois as de Martin, e pontualmente as de Alan Wilder. Foi como um actor a vestir um papel escrito por outro?
De certa maneira, penso que sim. Há cantores como Frank Sinatra, Elvis Presley ou Billie Holliday, que eram os modelos que eu admirava, que sempre foram intérpretes.

Criou, portanto, uma personalidade através da interpretação?
Creio que sim. E levei muito tempo a encontrar qual era exactamente o meu lugar, aquele onde me sentia seguro. Podia cantar canções de qualquer outro autor, desde que nelas procurasse uma identificação. E há um tema que me parece ser transversal a todas as canções do Martin, que é o da luta numa relação. E a sua própria relação com a vida. E sempre tive isso em comum com ele. O que o Paper Monsters me permitiu depois fazer foi abraçar as minhas próprias lutas, que reflectem muitos desconfortos, sobretudo ao nível do tornar claro e aberto o que se passa no âmago de uma relação.

E como se relacionou ao longo dos anos com as temáticas de fé, muito obsessivas por vezes, na escrita de Martin Gore?
Também me identifico aí. E parece-me que o que eu próprio escrevo revela também essas obsessões pela fé. Ou a sua falta ou eventual procura?

É um homem religioso?
Não creio que o seja. Mas julgo que desejo acreditar que há algo em que possamos acreditar. Acredito que há uma grande força a trabalhar.

O mundo meio neurótico em que vivemos é um assunto que inspire quem o possa cantar?
É interessante escrever sobre a maneira como lidamos com os nossos medos enquanto seres humanos. A maneira como nos envolvemos em situações mesmo complicadas? Quando falamos da natureza, não consigo deixar de reflectir sobre como somos tão minúsculos no meio de todo este universo. E sinto conforto nessa ideia. Não tenho medo da vida. Tenho medo das pessoas.

Fala dos terrorismos, do regresso do conservadorismo?
Tudo resulta do medo. Do medo de não conseguirmos levar as coisas avante à nossa maneira. Se não conseguimos afirmar um qualquer discurso religioso, então estamos no outro lado. E não consigo compreender como é que as pessoas não entendem que estamos nisto todos juntos...

O medo é fundamental para o crescimento, para a evolução? Nos anos 80 temíamos o bloco de Leste. Agora, o mundo islâmico?
O medo é um motivador. Mas decorre sobretudo de uma postura egoísta perante a vida.

A música pode aí servir de escape?
Sem dúvida! E foi-o bastante para mim. Foi a saída de uma vida que via à minha frente e que não queria aceitar. E permitiu-me ter também uma vida que estava bem para lá dos meus sonhos. E continua a ser assim, desde que me não pendure de uma qualquer maneira. Os Depeche Mode podem ser como uma religião para mim. O medo que me persegue alimenta-me. Sou suposto fazer o quê? Mentalmente sei que o que hoje sou é um pai e um marido. Tentando desesperadamente continuar a crescer nesse aspecto, tentando estar disponível e atento para os meus filhos e a minha mulher. E esse é hoje para mim o meu grande desafio. Aquele pelo qual não quero sacrificar nada mesmo.

Recentemente Martin Gore disse numa entrevista que os Depeche Mode atraem sobretudo as paixões de pessoas disfuncionais. Quer comentar?
O Martin estava aí a falar dele (risos)? Mas eu também me identifico com isso. Creio que as pessoas identificam-se com as canções por causa das suas próprias doenças na vida e sociedade, desconfortos e medos sobre o que nos envolve e que não podemos controlar. Ao longo dos anos apercebi-me que, à medida que envelheço as únicas coisas que consigo controlar são as minhas acções e as minhas escolhas. E elas podem ditar a maneira como penso sobre mim mesmo. Por isso tenho de ser cauteloso nessas escolhas, mas ao mesmo tempo ter a vontade de tomar alguns riscos, mesmo com coisas com as quais me sinta desconfortável. É como quando compramos um novo par de sapatos. Ao princípio magoam-nos, e levamos tempo a usá-los.

Playing The Angel espelha entre as suas canções um evidente sentido de ameaça? De medo. Mas nas entrelinhas parece correr uma brisa de esperança?
É verdade.. É bom ouvir isso, porque é de facto o que ali está. É importante para mim e para o Martin haver esse sentido de esperança. Eu sou mesmo assim, até nos momentos mais silenciosos, naqueles lugares onde o desespero nos pode dominar. Algo nos pode acalmar se tivermos vontade de ver o que nos pode acalmar. O Martin sempre escreveu sobre isso tanto nas suas palavras como nas suas melodias. E não sou diferente. Uma canção pode estar a seguir um certo rumo, muito sombrio, mas tento sempre encontrar uma luz algures. Por vezes está na melodia, ou nos contrastes nas palavras. Uma canção pode estar a falar de esperança, mas não deixa de mostrar que pode haver uma luta que nos puxe para baixo. E a vida é mesmo assim. Não podemos vencer o que nos aparece pela frente na vida se não lutarmos. Os problemas surgem quando tentamos controlar as coisas de outra forma.

Vê a música dos Depeche Mode como retratista da vida real?
A música é um retrato da vida muitas vezes, e se quisermos sobreviver como Depeche Mode, temos um vasto leque de situações onde podemos ir buscar ideias. Mas ao mesmo tempo temos abordado quase sempre os mesmos assuntos.

Como conseguiram sobreviver 25 anos como banda?
Essa é sempre uma boa questão para tudo na vida. Sempre tive uma vontade de conquistar mais de mim mesmo. Salvo num certo momento na minha vida que já passou, é verdade. Tenho sido descrito como um sobredotado, o que é de certa maneira estranho para mim, mas gosto de trabalhar. E trabalho muito, por vezes tendo mesmo de ser obrigado a meter o travão. O que gosto mais na vida é o facto de podermos esperar e ser pacientes, mas a verdade é que também termos de saber agir para continuar a andar. A vida não nos chega pelo correio. Temos de sair à rua para a apanhar?

A que acções se refere quando diz que é preciso agir para poder andar? Acções que parecem estar a falar da vida dos Depeche Mode nos anos 90...
O Violator foi o disco onde ostensivamente desafiámos perante nós próprios a ideia do que eram os Depeche Mode. Mudámos toda a equipa de produção, a maneira como trabalhávamos em estúdio. Abrimos a ideia dos Depeche Mode a um som mais feito de raízes, musicalmente falando em específico de blues e gospel, misturando-os com electrónicas. Creio que isso parece estar a acontecer novamente para a minha grande surpresa. Parece haver novamente esse tipo de vigor no seio da banda. Vigor para nos desafiarmos a nós mesmos. E muito se deve ao que de inspirador teve para nós o Ben Hillier [produtor do álbum]. Agarrou o touro pelos cornos e sem medo. Em estúdio encheu-nos de ideias, e nós precisávamos disso.

Ao fazer um álbum 25 anos depois de editada a primeira gravação, olharam para trás em busca de pontos de referência?
Não escuto a nossa música. Só muito raramente escuto algo que tenhamos feito no passado. Só quando actuamos é que tenho mais a noção concreta do que fizemos antes. É importante, como artista, deixar o passado onde está. Está feito. Podemos tirar lições, aprender com a experiência. Mas temos de saber onde estamos hoje.

Sem manifestações de nostalgia, portanto?
Sim, e muitas vezes há muitas outras coisas a acontecer baseadas apenas nisso. Muitas vezes sentamo-nos os três e o Fletch [Andrew Fletcher] fala muito do passado da banda, do sucesso? Que fizemos isto e aquilo? E acabo sempre a dizer-lhe que isso foi antes, e agora é agora. Quando estávamos em estúdio ele dizia que precisávamos de ter um Enjoy The Silence, um Personal Jesus? E eu respondia que isto era o que tínhamos? Haverá mais discos, mais desafios.

O que pensa de outros seus contemporâneos que se reúnem para digressões sobretudo baseadas em nostalgia?
Não me incomoda. Têm todo o direito de o fazer. E não faz mal nenhum, desde que saibam o que estão a fazer. E se estejam a divertir, até? Reconheço que fez sentido numa banda, que verifique que ninguém se interesse pelo que está a fazer de novo, que toque as coisas antigas. É o que os fãs querem ouvir muitas vezes. Compreendo-o completamente. Mas não é uma coisa que me apeteça fazer a mim ou ao Martin. Temos de sentir que estamos a fazer coisas que sejam relevantes no presente.

Mas sente-se confortável com o passado dos Depeche Mode? Canta ainda temas como Just Can't Get Enough em concertos?
Sim, sinto-me confortável. Mas conversámos já sobre como reinventar algumas, tirar-lhes o pó. Vamos provavelmente fazer novamente o Photographic, o Everything Counts. É interessante fazer essas revisões quando se toca ao vivo. Quando se está em estúdio deve-se ter a mente projectada noutro sentido, ou seja, mais focados no momento e no que estamos a fazer de novo, não tendo necessariamente de tirar referências do que musicalmente está a acontecer no presente, mas tirando sem dúvidas referências do que está a acontecer no mundo e nas nossas vidas pessoais. Musicalmente não penso que estejamos particularmente inspirados por um qualquer género particular.

Todavia este disco é claramente mais centrado nas electrónicas que os anteriores, e até mesmo que as versões de temas antigos de Depeche Mode na sua digressão a solo, onde vincou a presença das guitarras?
Sim, é verdade. É uma ideia que funciona connosco, e que reflecte também o que são as nossas próprias limitações. Para o PaperMonsters pude trabalhar com pessoas que vinham de outros lugares musicais e isso até foi bastante inspirador. Sinto-me bem por não me ter de obrigar necessariamente a um só caminho. O Ben Hillier gostava de nos ver a usar sintetizadores analógicos, mas também baterias reais, pianos, e a utilização do espaço e do som do próprio estúdio.

Alguma vez pensou, quando o grupo surgiu, que levariam a música electrónica a um estádio?
Nunca pensei no que fazemos como representante de um estilo particular. É Depeche Mode. É o que fazemos. E nunca pensámos que iríamos trabalhar apenas para um certo tipo de público, Até porque a nossa música é baseada em canções. Não é música de dança, não é electro.

O que pensa quando olha para veteranos como Bowie, Ferry ou mesmo Mick Jagger. Imagina-se num palco, aos 60 anos, a cantar como canta hoje?
Espero bem que não! Porque quero reformar-me e sentar-me no alpendre a ver o Sol a nascer e a deitar-se, com uma garrafa de whiskey e uma espingarda nas mãos? Com a minha mulher, a conversar sobre como os nossos filhos cresceram bem e têm agora as suas vidas e famílias. Esse futuro no palco não é assim tão importante para mim. A vida tem tantas coisas além do que imagino. Estou apenas a começar a sentir-me confortável comigo mesmo agora. As coisas que julgava que eram mais importantes na minha vida, afinal não o eram de todo. E muitas dessas coisas já nem fazem mais parte da minha vida. As coisas do dia-a-dia parecem ter hoje mais sentido para mim.

Nos dias dos singles nas tabelas de vendas, dos concertos, dos programas de televisão não lhe sobrava tempo para saborear a vida?
Era um pouco isso, sim. A nossa vida foi muito centrada nisso mesmo durante um certo tempo. Hoje olho para o trabalho de outra maneira, e sigo em frente.

É difícil envelhecer publicamente sendo músico pop?
Não sei bem? Nem penso nisso porque não é coisa que me preocupe. Não sinto que tenha de me fazer ver em todas as revistas ou programas de televisão. Já não me realiza.

Mas levou tempo a chegar a estas conclusões?
À medida que se envelhece a vida mexe connosco e faz-nos aperceber que o que é importante são afinal outras coisas. Aquele ímpeto que se tem quando se é jovem, a vontade de ir além, de fazer algo, é incrível. Ainda tenho esse ímpeto. Mas é importante saber quando parar para ver o que está afinal em nosso redor. De outra forma, tudo o que temos está acabado antes de nos apercebermos de tal.

A música ainda tem um papel protagonista na sua vida? Ainda compra discos?
Sim, discos e filmes. Coisas que me inspiram. As imagens inspiram-me muito. Gostei muito do álbum dos White Stripes. Pareceu-me fresco e excitante. E é profundo nas suas emoções. Tenho visto muitos filmes, mas o que me vem à memória mais facilmente é o American Splendour. Gostei muito da sua humanidade? A maneira como se resolve a história, a forma como aquele homem que se julga inconsequente acaba feito figura icónica. É muito inspirador, obriga-nos a olhar para a vida com mais atenção.

Vive em Nova Iorque há dez anos. Martin em Santa Barbara. E Andrew Fletcher em Inglaterra. Como trabalham juntos?
Juntamo-nos num estúdio quando temos algo para fazer. Já levamos canções idealizadas e trabalhamo-las depois juntos.

Como é viver hoje em Nova Iorque? Musicalmente está bem viva!
É verdade, e não só em áreas como o rock. Há acontecimentos em todos os géneros de música, do latin ao hiphop, ao garage rock, electrónicas underground. É vasto o espectro e está sempre alguma coisa a acontecer.

O que pensa do quase inevitável encerramento do CBGB?
Já não era sem tempo! Aquele sítio é uma lixeira! (risos)

Nada de deitar fora tem sido o trabalho de imagem nos Depeche Mode, sobretudo depois de terem encontrado Anton Corbijn em 1986. Mas nos primeiros tempos, a imagem era menos? apelativa?
Acho que foi o Anton quem nos encontrou a nós. Ele tornou-se alguém em quem nós passámos a confiar a nossa imagem, sobretudo porque ele conseguiu visualizar a nossa música.
 
Porque não editaram em DVD os vossos primeiros telediscos?
Não gostamos de nada do que foi feito antes do Anton. Não havia direcção visual e tudo dependia dos realizadores com quem trabalhávamos e das suas ideias. E não parecia que eles tivessem sequer escutado a música! O Anton escuta-a com atenção.

Um outro importante realizador passou pelo vosso percurso: DA Pennebaker, que filmou 101.
Ele na verdade não me pareceu nada interessado na banda. Estava mais interessado no nosso público. Foi ver um concerto nosso e ficou encantado pelo sentido de união entre a banda e a plateia. Aquele sentido quase de veneração. Estávamos nos finais dos anos 80 e éramos ainda, de certa forma, um caso underground. Especialmente na América. Ele pensou então o que acabou por ser a primeira manifestação do estilo realityTV. E é o que aquilo é. Nós somos a peça secundária para um filme centrado nos miúdos que estão na camioneta. Uma viagem que terminava no nosso concerto. Por vezes encontro o Jake, um dos miúdos em Nova Iorque.

É um retrato fiel do fã dos Depeche Mode?
À época, sim. Estávamos em 1987/88. Era aquilo que se passava exactamente connosco. Depois perdemos o controlo.

Tem ideia de quem é hoje o vosso público?
Não faço a mínima ideia.

Há milhares de sites de fãs na Internet. Espreita-os? Tira conclusões?
Nem por isso. Os fãs estão sempre desejosos por novo material, pelo que estamos a fazer de novo. Mas a nossa música vai além disso. E muitos dos sites mostram sobretudo coscuvilhice.

Fez o seu álbum, o Martin também. Agora juntam-se como Depeche Mode. Depois partem para a estrada. E as carreiras a solo? Foram um episódio pontual ou ficam adiadas?
Não tenho quaisquer planos. Temos uma digressão pela frente. Depois quero passar algum tempo com a minha família. Logo se verá.

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