DAS TESES DE DOUTORAMENTO À BOA VONTADE DOS CLÍNICOS
A investigação médica em Portugal envolve muito trabalho dos chamados grupos de estudo e o de esclerose múltipla (GEEM) não foge à regra. Compreende profissionais de saúde, interessados na divulgação das doenças da mielina, incentiva a investigação clínica e laboratorial no campo das patologias que afectam o sistema nervoso central e promove actividades educacionais e culturais relacionadas com a área.
Portugal não se afasta do resto dos países no que diz respeito à investigação. Esta é feita pelos centros com laboratórios vocacionados para tal e, muitas vezes, em conjugação com grandes núcleos internacionais, debruçando-se, sobretudo, no refinamento das terapêuticas e na vigilância das mesmas para os doentes com esclerose múltipla (EM). A nível nacional, aproveitam-se do ímpeto que trazem a este tipo de actividades os trabalhos de teses de doutoramento e da boa vontade dos clínicos que lutam entre o cumprimento das agendas nos hospitais e o gosto em estudar para melhor servir os doentes.
Mas falta fazer um grande estudo de investigação nacional a nível epidemiológico, aguardando-se novos desenvolvimentos para os próximos dois anos, ao qual o GEEM não quer estar alheio. No decorrer da primeira de duas reuniões anuais do GEEM, que decorreu recentemente em Aveiro, alertou-se para a falta deste tipo de projectos. A sessão, subordinada ao título Compreender a Esclerose Múltipla, invocou todos os mecanismos fisiopatológicos subjacentes à doença para explicar a diversidade de apresentação clínica da mesma. Houve lugar à apresentação de casos clínicos de alguns centros do País, com a preocupação de uniformizar procedimentos para o diagnóstico e tratamento da EM. Foram propostos novos estímulos à investigação científica. Como presidente do GEEM, sinto-me obrigado a deixar legado nesta matéria, através da atribuição de bolsas de estudo e no esforço para que Portugal acerte o passo com os países da Europa na prescrição de medicamentos com base em guidelines científicas. Isso significa encontrar a melhor relação benefício/custo para que se possa ter medicação adaptada a cada doente e se consiga equidade nas terapêuticas.
O tratamento deste tipo de doenças é muito dispendioso, o que obriga a grandes esforços das administrações hospitalares, pois os medicamentos são dispensados gratuitamente através dos mesmos. O doente está isento de taxas moderadoras nos cuidados de saúde e aos cônjuges são dadas facilidades de deslocação de emprego (caso do funcionário público) para assim haver uma melhor assistência no seu ambiente familiar.
Na última década deram-se passos importantes no diagnóstico e tratamento desta e de outras doenças que afectam a mielina, atrasando a evolução e adiando as incapacidades físicas e intelectual. Mas muito falta percorrer para encontrar a explicação total e tratamentos eficazes da doença chamada esclerose múltipla. Só depois pode a comunidade científica cruzar os braços.