Das 96 horas de oxigénio aos exploradores a bordo: tudo sobre a busca pelo Titan
Um submersível que é usado para explorar os destroços do Titanic - que afundou na viagem inaugural entre Southampton e Nova Iorque, em abril de 1912, com 2224 pessoas a bordo - perdeu o contacto com o navio de investigação Polar Prince menos de duas horas depois de ter iniciado a descida na madrugada de domingo. O mergulho terá começado pelas 8.00 em Lisboa.
O Titan, como se chama o submersível de 6,7 metros de comprimento, pode mergulhar até quatro mil metros de profundidade e deslocar-se a um máximo de 5,5 quilómetros por hora, sendo na prática dirigido por um simples controlo remoto (como conta uma reportagem da BBC feita a bordo, em 2022). Tem alegadamente capacidade para cinco pessoas durante 96 horas.
Num ponto de situação das operações de busca e salvamento às 18.00 desta terça-feira em Lisboa, a Guarda Costeira dos EUA estimou que as pessoas a bordo teriam ainda 40 horas de oxigénio - o que dá uma janela entre as 8.00 e as 10.00 de quinta-feira para o ar acabar, se ainda estiverem vivos.
Na sequência dos sons detetados, os esforços de busca foram reorientados.
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O Titan viajava cheio, com cinco pessoas a bordo. A identidade de todas já foi confirmada: o empresário e explorador britânico Hamish Harding, de 58 anos; o empresário paquistanês Shahzada Dawood, de 48 anos, e o filho Suleman Dawood, de 19; o explorador francês Paul-Henri (PH) Nargeolet, de 77 anos; e Stockton Rush, o CEO da OceanGate Expeditions, responsável pela viagem, de 61 anos.
Harding é o CEO de empresa Action Aviation, sendo detentor de três recordes do Guinness - entre eles o de mais tempo passado no fundo do local mais profundo da Terra, a Fossa das Marianas, a bordo do Challenger Deep. Também já esteve no espaço (foi um dos turistas espaciais da quinta missão da Blue Origins) e visitou várias vezes o Polo Sul.
Foi ele que anunciou nas redes sociais que iria participar na expedição, dizendo que devido ao "pior inverno em 40 anos" na região, provavelmente seria "a primeira e única missão ao Titanic em 2023". E que disse que PH Nargeolet seguia também na mesma viagem - uma informação confirmada entretanto pela família à BFMTV.
O explorador francês, antigo oficial da Marinha, é conhecido como o "Senhor Titanic", tendo liderado dezenas de mergulhos aos destroços do navio de passageiros e supervisionado a recuperação de muitos dos seus artefactos ao longo dos anos.
A presença dos Dawood a bordo foi confirmada esta terça-feira também pela própria família, uma das mais ricas do Paquistão. Vice-presidente da Dawood Hercules Corporation, uma das que faz parte do conglomerado familiar Dawood Group, Shahzada é também administrador do SETI Institute, uma organização sem fins lucrativos da Califórnia que entre outras coisas procura por vida extraterrestre. Vive no Reino Unido e pertence ao Círculo de Fundadores do British Asian Trust.
A OceanGate Expeditions cobra 250 mil dólares (quase 230 mil euros) por um lugar na sua expedição de oito dias para ver os destroços do famoso navio, que estão a 3800 metros de profundidade no meio do Atlântico Norte, a cerca de 600 quilómetros da Terra Nova (Canadá) e quase 1500 de Cape Cod (EUA). Cada mergulho demora em média oito horas, estando previstos vários por expedição.
O RMS Titanic era considerado um milagre da era industrial e era vendido como impossível de afundar, mas não chegaria ao seu destino inaugural após embater num icebergue. Mais de 1500 pessoas acabaram por morrer, tendo os destroços sido encontrados por uma expedição norte-americana e francesa em 1985. O filme de James Cameron, lançado em 1997, contribuiu para o fascínio com este navio de passageiros.
Os turistas que vão a bordo do Titan - neste caso seria Harding e os Dawood - têm noção do perigo que correm, tendo que assinar um termo de responsabilidade onde está bem claro o pior cenário. Entretanto, o The New York Times revelou que Stockton Rush teria sido alertado em 2018 por responsáveis da indústria de submersíveis que a "abordagem "experimental" da empresa" podia resultar em "problemas catastróficos".
O alerta da OceanGate Expeditions só terá sido dado para a Guarda Costeira dos EUA oito horas após a perda de contacto com o Titan, segundo o Daily Mail. E só umas horas depois para a do Canadá. As buscas decorrem tanto à superfície, para o caso de o Titan ter emergido após libertar peso em caso de emergência mas estar apenas incomunicável (o cenário que seria o mais positivo), como debaixo de água. Nesse caso, o submersível pode estar intacto ou ter cedido à pressão do fundo do mar devido a um qualquer incidente a bordo - a pressão, a esta profundidade, é cerca de 400 vezes superior à registada à superfície.
Os norte-americanos estão a usar dois aviões Hercules C-130, já os canadianos um avião Poseidon P-8 e um navio. Estão a ser usados sonares, com capacidade para monitorizar debaixo de água até quase quatro mil metros de profundidade, mas o local das buscas é remoto e extenso - duas vezes o tamanho de Portugal. As autoridades estarão também a enviar o mais rapidamente possível para o local um veículo não tripulado, que é operado remotamente desde a superfície, para ajudar nas buscas.
O Instituto Oceanográfico francês também enviou o navio Atalante, equipado com um robot submarino, para o local, segundo o governo de França, devendo chegar à área na quarta-feira ao final da tarde.
susana.f.salvador@dn.pt
Notícia atualizada às 07.24 de quarta-feira, 21 de junho