Dar oxigénio à recuperação
Quando, em maio de 2020, assisti à apresentação do Plano de Recuperação europeu pela presidente da Comissão, senti que se estava a fazer história. O projeto europeu, naquilo que contém de união e solidariedade, estava a recuperar o seu sentido; dava um passo em frente na integração europeia com a resposta à maior crise desde a Segunda Guerra Mundial.
Von der Leyen propunha um ambicioso plano de 750 mil milhões de euros, financiados por dívida emitida solidariamente na Europa, que se juntava a outras medidas de menor dimensão já apresentadas, proporcionando aos países um grande "poder de fogo" para responderem à crise.
No total, cerca de 9% do PIB europeu foram - ou melhor, serão, pois a maioria do dinheiro está ainda longe de chegar à economia - destinados à recuperação económica. Um valor próximo dos 10% do PIB que os EUA mobilizaram na sua resposta inicial à pandemia.
Só que, enquanto na UE o valor se mantém ainda e os esforços concentram-se em desbloquear o dinheiro, nos EUA houve a perceção de que o plano de recuperação era insuficiente. A evolução da pandemia e os novos confinamentos obrigaram à revisão das estimativas económicas e, de forma consequente, as autoridades norte-americanas reforçaram o plano de recuperação.
Assim, com a aprovação do Plano Biden, o terceiro plano de recuperação, agora em discussão no Senado, os apoios federais à economia ascenderão a mais de 30% do PIB.
Existem, obviamente, diferenças entre os dois modelos de governação (Estado Federado e União de Estados) e respetivas responsabilidades que explicam parte do diferencial de valores. Mas há também uma distinção muito grande na ambição das respostas, mesmo considerando a totalidade do Plano de Recuperação europeu e todas as respostas nacionais.
Sendo verdade que a resposta europeia inicial parecia bem calibrada (e era, na altura, de dimensão semelhante à dos EUA), o esforço europeu está não apenas atrasado, como deixou também de estar ajustado à dimensão e à duração da crise. A resposta europeia precisa de recursos no terreno, já, e de um oxigénio adicional, ou seja, um novo estímulo à procura que dinamize rapidamente a economia, para que as empresas tenham clientes e possam manter os postos de trabalho, quando deixarem de ver parte dos salários pagos pelos apoios públicos.
Perante a mesma necessidade, os EUA (como o Japão e outros países) optaram por entregar dinheiro diretamente às pessoas (o cheque de 1400 dólares agora em discussão será o terceiro a ser distribuído), num montante total equivalente a todo o programa de recuperação europeu. Mas nas instituições europeias isso parece ser tabu e desenharam-se as regras de tal modo que pouco do Plano de Recuperação chegará ao terreno nos próximos meses.
A história que se fez há um ano na UE foi importante. Mas a primavera e as vacinas precisam, do meu ponto de vista, de chegar agora acompanhadas de um novo e rápido esforço em defesa do emprego dos cidadãos europeus.
4 VALORES
Nicolas Sarkozy
Sem prejuízo do resultado do recurso que irá apresentar, a condenação de Sarkozy a três anos de prisão demonstra que não há intocáveis.
Quando se opta pela vida pública não se pode vacilar em relação a princípios, a valores e à lei. Nunca.
Eurodeputado