"Daqui a uns anos, ter um drone vai ser como usar um telemóvel"
As prateleiras estão recheadas de brinquedos. Não daqueles que se encontram à venda, por exemplo, numa grande superfície comercial, mas sofisticados, com motor, comando à distância, visor, câmara, óculos especiais. Estes são a nova tendência de gadjets, algo que, segundo Hanniel Ponte, dono da HP Modelismo, se irá manter nos próximos anos: "Ter um drone será, como hoje, andar com um telemóvel". O problema é a invasão do espaço aéreo e todos os riscos inerentes.
No caso da HP Modelismo, os drones vendidos ao público trazem já incorporado um software de inibição de voo em determinadas áreas, como o aeroporto de Lisboa. Isto mesmo foi demonstrado ao DN por Hanniel Ponte, enquanto fazia a demonstração de um veloz aparelho: "Está a ver?", apontando para o telemóvel. No visor, surge uma círculo, delimitando uma área a vermelho. "Quando o drone se aproxima desta zona, automaticamente começa a perder altitude e velocidade, acabando por aterrar".
Mas nem todos as aeronaves não transportadas que se encontram à venda no mercado trazem este tipo de inibidores. "Um drone para lazer pode custar entre 800 e 1200 euros com todas os requisitos de segurança, áreas proibidas, altitude predefinida, etc. O problema são os mais baratos e a consciência das pessoas", refere Hanniel Pontes.
Segunda-feira, as autoridades registaram mais um incidente: um avião da Ryanair cruzou-se com um drone a cerca de 500 metros de altitude, quando já estava na fase final de aproximação para aterrar no Aeroporto de Lisboa. Este foi o sétimo incidente do género este mês e o 11.º desde o início do ano. O Boeing 737-800, com capacidade para 162 passageiros, proveniente do Aeroporto do Porto, cruzou-se com a aeronave, no momento em que sobrevoava a zona entre a Praça de Espanha e Sete Rios, já na fase final da aproximação ao Aeroporto Humberto Delgado.
"Os nossos drones não voam no aeroporto", garantiu Hanniel, exemplificando com uma curiosidade: "Nós vendemos um drone e demos formação à PSP. Só que o drone deles não opera no aeroporto. Para levantar essa restrição, teve que ser o próprio fabricante a alterar o software". No ato de venda dos aparelhos ao cliente comum, o dono da HP Modelismo adiantou ainda que a empresa dá formação, assim como fornece todo um conjunto de regras com as limitações legais.
Certo é que os sucessivos incidentes com drones, levaram a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), entidade reguladora do espaço aéreo, a admitir alterar o atual regulamento para a utilização de drones. Disse-o ao DN no passado sábado e reafirmou ontem à Lusa: "Poderão ser equacionadas eventuais alterações futuras ao Regulamento ou a proposta de ato normativo que desenvolva outras matérias atinentes à utilização de drones, na certeza de que em termos de regras aplicáveis à utilização do espaço aéreo na proximidade dos aeródromos com CTR [controlo de tráfego aéreo], as regras definidas pela ANAC já acautelam, desde que cumpridas, a segurança da navegação aérea".
O regulamento em vigor desde janeiro deste ano proíbe o voo destes aparelhos a mais de 120 metros de altura e nas áreas de aproximação e descolagem de um aeroporto. Amanhã, o presidente da TAP vai levar o assunto dos drones a uma reunião com várias companhias aéreas europeias. A própria UE está a preparar um regulamento sobre o uso destes aparelhos.