Danos na estátua do Museu de Arte Antiga são reversíveis
"A situação é lastimável. A estátua está muito afetada nas asas, num dos braços e no manto. Os danos são graves mas reversíveis". O relato é feito ao DN pelo diretor adjunto do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), perto das nove da noite, quando chegou ao museu para ver presencialmente a estátua de São Miguel Arcanjo que nessa manhã um turista brasileiro, inadvertidamente, atirara ao chão. Um relatório mais pormenorizado sobre o estado da obra será revelado na segunda-feira, adiantou ao DN José Alberto Seabra Carvalho, após ser retirada da Galeria de Escultura Portuguesa, inaugurada em julho no renovado terceiro piso do museu, pela equipa de conservação e restauro do MNAA.
Tudo terá acontecido num momento de distração de um turista que, concentrado na fotografia que queria tirar, foi recuando à procura do enquadramento certo até tocar na estátua, exposta em cima de um plinto, no centro da sala que esteve fechada durante o resto do dia e reabrirá normalmente na terça-feira, sendo que na segunda-feira é dia de encerramento semanal do museu.
Em madeira, datada num arco temporal entre 1765-1790, a estátua foi executada numa oficina de Lisboa e, segundo o diretor adjunto do museu "é muito boa para a escultura nacional dessa época". Feita originalmente para o real Colégio de São Patrício, em Lisboa, onde se formavam clérigos irlandeses para a missionação, na primeira metade deste ano, e antecedendo a abertura ao público da Galeria de Escultura, recebeu trabalhos de restauro da conservadora Conceição Ribeiro.
Apesar de a situação ser "grave" e ressalvando o facto de ainda não haver um diagnóstico da equipa técnica, José Alberto Seabra Carvalho está confiante, considerando que "será um restauro laborioso mas não muito complexo do ponto de vista técnico". O facto de ser feita em madeira e composta por várias peças são fatores que aponta como facilitadores da missão dos conservadores. "E não demorará muito a voltar a estar em exposição", afirma. Poderá é ser exposta de outra forma. Depois do incidente, "vamos ter de tomar alguma medida", refere o responsável. A peça "estava fixada num plinto, e temos de pensar ou noutra forma de a fixar no plinto ou até num plinto diferente".
O comunicado oficial do Ministério da Cultura sobre este acidente vai na mesma linha de atuação: "Nos próximos dias, e após relatório da ocorrência, a Direção Geral do Património Cultural avaliará em detalhe os danos e a necessidade de alterar a musealização da exposição, por forma a prevenir acidentes."
A situação ocorreu neste domingo, o primeiro do mês e, como tal, de entrada gratuita. No Facebook, onde o acidente foi denunciado por Nuno Miguel Rodrigues, ao post "o pior dia para visitar o MNAA" este visitante juntou o comentário "é o preço a pagar pela gratuitidade do primeiro domingo de cada mês". José Alberto Seabra de Carvalho considera que "é um bocado abusivo fazer essa relação". "Não tenho informação sobre uma enchente no museu este domingo. É normal nos primeiros domingos de cada mês termos o dobro dos visitantes em relação aos outros domingos. E nesta sala em concreto, quando há grande afluência, as entradas são condicionadas", explica.
De entre os museus tutelados diretamente pelo Ministério da Cultura, o de Arte Antiga é o segundo mais visitado do País. Em 2015 registou quase 164 mil entradas, sendo ultrapassado apenas pelo recordista Museu dos Coches, com mais de 346 mil entradas.
Reconhecendo a escassez de vigilantes no museu - menos de trinta para as 82 salas abertas ao público -, o diretor adjunto esclarece ainda que quando a afluência é muita, a medida preventiva do museu é fechar algumas salas. "É mau ter salas fechadas ao público, mas seguimos esta via mais segura. É claro que um reforço [de vigilantes] seria bom, mas acho que não se pode relacionar o incidente com a falta de vigilantes".
Calamidade anunciada
No final do verão, António Filipe Pimentel, diretor do museu, convidado a participar na Escola de Quadros do CDS, classificou a situação do Museu de Arte Antiga de "calamidade". "São 64 pessoas para 82 salas abertas ao público. De certeza absoluta que um destes dias há uma calamidade no museu. Só pode, porque andamos a brincar ao património. Mas a esta altura todas as tutelas dispõem de toda a informação cabal do que vai acontecer, mas quando acontecer, abre os telejornais", disse na altura António Filipe Pimentel, citado pela Lusa.
Na altura, as declarações de António Filipe Pimentel criaram algum mal-estar entre o Ministério da Cultura e o diretor do Museu, situação que acabou por ser ultrapassada após uma carta enviada pelo diretor do MNAA na qual pedia desculpas formais à tutela.
Nesse documento, a que o DN teve então acesso, António Filipe Pimentel realçava a relação pessoal criada com o ministro da Cultura, Castro Mendes, "que se tem distinguido pela sua elevada qualidade". "É à sua luz - porque as instituições se fazem de pessoas -, que peço queira aceitar este pedido de formais desculpas", lia-se.