Daniela Melchior: "Sinto-me tão abençoada!"

A apanhar a boleia da diversidade em Hollywood, Daniela Melchior carrega no acelerador em <em>Velocidade Furiosa X</em>, com Vin Dielsel e... Joaquim de Almeida. Uma portuguesa com lugar cativo nos <em>blockbusters</em> americanos, desta vez como uma corredora de carros velozes com pelo na venta. Conversa com uma estrela que nunca imaginou ser estrela de Hollywood. Nos cinemas a partir de quinta-feira.
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Estar nos dois grandes blockbusters de Hollywood e continuar a ser a mesma rapariga de sorriso generoso desde os tempos em que se distinguia em Parque Mayer, de António-Pedro Vasconcelos. Daniela Melchior, o fenómeno português, está a conquistar o cinema americano e esteve em Lisboa para promover Velocidade Furiosa X, de Louis Leterrier, esta semana nos cinemas, na mesma altura em que é vista num delicioso pequeno papel em Guardiães da Galáxia: Volume 3, de James Gunn, o cineasta que a descobriu para Hollywood com Ratcher no iconográfico The Suicide Squad.

Tudo isto num ano em que a vamos ver ao lado de Henry Goldin em Assassin Club; de Liam Neeson em Marlowe - O Caso da Loira Misteriosa, de Neil Jordan e em Road House, de Doug Liman, para a Prime, onde contracena com Jake Gyllenhaal e Joaquim de Almeida. Nunca uma atriz portuguesa teve este estrelato em Hollywood.

Nesta conversa numa suite gigante do Hotel Ritz mostrou-se feliz por este momento e confessou estar a querer vir para Lisboa como base. Aos 26 anos continua a ter aquela humildade que conquista.

Qual a sua relação com a adrenalina?

Diria que é saudável, ao contrário de muitas pessoas que são viciadas. Quando vou a um parque de diversões gosto da experiência mas depois não fico com aquela ansiedade de onde posso ir logo buscar de novo esse pico.

Nem nunca foi apanhada em excesso de velocidade?

Não, estou sempre no limite, sobretudo porque tenho problemas com horários, embora quando é para ir trabalhar em filmes sou sempre super pontual. Na minha vida pessoal, com os amigos, estou sempre no limiar, a ir a abrir porque já vou atrasada.

Ainda se belisca quando se vê no poster de um blockbuster como este Fast X ou já passou isso?

Nem sei! Acredito que estou no filme mas, ao mesmo tempo, é algo "muito fora". Nunca ambicionei isto...

Não mexe com a sua cabeça?

Não, nada! Nunca em pequenina, quando via os filmes, sonhei em estar ali... Nunca quis estar no lugar das atrizes. Para a Daniela da Margem Sul isso nem era uma possibilidade. Quando tirei o meu curso profissional de artes e espetáculos uma escola secundária em Almada tive professores que sempre me deram as ferramentas necessárias se um dia viesse a trabalhar. Sempre nos avisaram que não era certo que iríamos trabalhar nessa área e que também podíamos usar essas ferramentas noutras áreas. Tive bons professores.

Consegue perceber o sucesso popular destes filmes da saga Fast, nomeadamente em Portugal? Seremos um país de aceleras?

Sim! Há uma cultura de tunning enorme! Já recebi até convites para estar cá em eventos de tunning. Mas o segredo é a família e eu não tinha essa noção até o Vin Diesel explicar-me que há famílias em todo o mundo que não se vêem durante todo o ano e que só se juntam para ver o Fast. É mesmo incrível! As pessoas também gostam da diversidade que vêem nestes filmes, agora é um pouco moda tentar contratar o máximo de diversidade nos atores, mas com esta franquia isso já vem desde o primeiro.

E pode-se dizer que pode vir a ser intimidante para um ator trabalhar nestes filmes de grande estúdio de Hollywood, com todos os meios possíveis?

Não! Até facilita imenso, há sempre aquela possibilidade de fazer de maneira diferente, com mais opções... Nestes filmes há sempre dinheiro para fazer de uma outra maneira, não há limitações de espaço ou tempo. Surge uma ideia e do outro lado: "bora! O que é que precisam?". Temos todas as condições para fazer o melhor trabalho possível.

Apesar de encontramos mulheres que aceleram nesta saga, não julga que o olhar é masculino, o tal "male gaze"?

Não! Os fãs querem é corrida. Pedem-na e vão tê-la aqui! A minha personagem, a Isabel, em muito anos é a primeira mulher a aparecer vinda de uma corrida e a ganhar! Apesar deste Velocidade Furiosa ser escrito e realizado por homens, há muito essa coisa de colocar a mulher numa posição de poder. Em Fast X há muitas "badass"! Isso é tão fixe! E, sem cometer "spoilers", a minha personagem começa logo a desafiar o Vin e colocar-se à sua altura.

Como é a Daniela Melchior nas redes sociais? Tem, por exemplo, medo de se pôr em causa devido à vaidade?

Sou muito autêntica, apesar dos meus amigos comentarem que penso muito cada post. Mas é claro que tenho muito cuidado com o exemplo que dou, especialmente porque tenho sempre a consciência que as crianças vêem. Além do mais, por ser muito novinha e por estar a construir este caminho, ainda tenho situações em que penso que podem não me estar a levar tão a sério como eu levo o meu trabalho.

Ou seja, sente responsabilidade.

Sim, é isso. E tento sempre proteger-me.

Sei que não pode dizer muito sobre o seu regresso ao cinema português.

É verdade, mas está mesmo a acontecer e posso dizer que vou cantar.

Depois do Road House (o remake de Profissão: Duro, com Jake Gyllenhaal) que terminou em 2022, continua a receber muitos convites para filmes de Hollywood?

Depois desse filme disse à minha equipa que durante uns tempos queria descansar na altura da passagem do ano. Em termos de indústria, é uma boa altura pois todos vão de férias. Agora há isto da greve dos argumentistas, mas já sentia uma certa acalmia. Foi nessa fase que comecei a desenvolver o tal projeto cá em Portugal. Nesta altura, estamos à espera que a poeira do Guardiões da Galáxia: Vol. 3 e deste Fast assente. Mas tenho recebido várias convites e agora é pôr tudo em cima da mesa para pensar neste ano que se segue. E eu tenho os melhores agentes!

Está a viver uma fase boa?

Sim, muito! Sinto-me tão abençoada!

Como está agora a sua relação com a Margem Sul?

Já não vou para lá há tanto tempo... bolas! Tenho pena! Gosto tanto, apesar dos meus amigos estarem todos em Lisboa, lá só tenho a família. Queria comprar casa cá em Portugal e assentar-me de uma maneira mais definitiva e Lisboa está a puxar por mim. Quero estar entre Lisboa e onde tiver de ir.

dnot@dn.pt

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