Fora do Centro Cultural de Belém só se viam avisos a informar que a lotação para assistir ao lançamento de Origem com o próprio Dan Brown estava esgotada. Era verdade, os camarotes e galeria estavam repletos de poucos homens e muitas mulheres jovens, sendo poucos os de uma idade próxima à de José Rodrigues dos Santos, sentado logo na primeira fila da segunda apresentação mundial do novo thriller do autor de Código Da Vinci, que já vendeu mais de 200 milhões de exemplares em todo o mundo..Chegara da Feira do Livro de Frankfurt uma hora antes e parte horas depois para promover em Espanha o quinto romance protagonizado por Robert Langdon. Antes de aparecer em pessoa, pôs um vídeo em que explicava tudo o que se passava no romance e como o criara. Nem faltava a referência à fobia das alturas no Mosteiro de Montserrat....Ainda não pisara o palco quando recebeu a primeira de muitas ovações. Quando entrou, fê-lo de forma desportiva, como se autor e leitores fossem velhos conhecidos. Parou e espantou-se: "Que sala maravilhosa!" Insistiu: "Podiam estar a fazer outra coisa e vieram cá." E logo seguiu na sedução: "Estive em Lisboa quando era jovem...".A seguir, explicou uma outra origem, a de se tornar escritor: "A minha mãe escrevia o que eu lhe ditava e foi assim que escrevi o meu primeiro livro. Um thriller, claro." Como num passe de magia, tira da mala de artista o manuscrito em perfeitas condições de conservação que escreveu há 50 anos. As origens não se ficam por aqui: "A minha mãe era organista e responsável do coro da igreja, no qual eu cantava também." E da mala retira a matrícula do carro que a mãe guiava e em que estava escrito Kyrie (uma oração): "Escolheu esta placa para afirmar que era cristã." Mas como Dan Brown também gosta do pai, contou que ele era um matemático e muito pouco dado à religião: "Era a família ideal para me tornar um pouco esquizofrénico, pois ao jantar a minha mãe dizia orações e o pai explicava como eram as cenouras." E da mala voltou a sair outra matrícula, com a palavra Metric: "Ele achava que os americanos deviam usar o sistema métrico." Não resiste a introduzir uma referência à política dos EUA: "Ele consideravam que os americanos eram ignorantes para perceber o sistema, assim como Trump.".Estava a ascendência apresentada e explicado que aos 9 anos percebera as contradições entre a religião e a ciência: "Ouvia na igreja que Deus criara o mundo em dias e na escola a falava-se do Big Bang e de evolução. É disso que este livro trata." Aí explicou as principais linhas deste romance: as falsas diferenças entre religiões e como a explicação científica melhora a compreensão do mundo. Lembrou também que o grande conhecimento árabe criado em Bagdad durante 500 anos foi silenciado porque um religioso afirmou que a matemática era a filosofia do diabo. Acrescentará: "Não sou ateu, antes mais agnóstico. Não acredito no Deus da minha infância, mas é-me difícil acreditar em nada. Vou continuar a procurar." Antes de continuar a publicitar Origem, Dan Brown não deixou de falar das origens do seu sucesso: "Escrevi um livro há uns anos, o Código Da Vinci, e nunca pensei que podia ser tão polémico, pois lá em casa sempre se discutiu tudo. Só me apercebi quando houve reações, tendo uma confirmado o que se passava. Um padre de Boston cruzou-se comigo e disse-me que não gostava nem um pouco do meu livro, mas depois agradeceu-me porque tinha um grupo de estudos da Bíblia e nunca havia mais de oito pessoas interessadas. Entretanto, recentrara o debate sobre a Bíblia e as questões levantadas no Código e reunia 400 pessoas.".Não se esqueceu de falar da adaptação ao cinema do seu livro: "Não queria, não estava nos meus planos e nunca achei que Tom Hanks fosse escolhido, mesmo que Hollywood o desejasse. Um dia recebi um fax de um realizador que explicava que muitas pessoas não leem mas viam filmes." Sobre o cenário espanhol de Origem, recordou que estudou em Sevilha quando tinha 19 anos: "Onde aprendi a dançar sevilhanas, mas não me peçam porque não o farei aqui." Mesmo que ainda tivesse imitado a sua falta de jeito para dançar....Dan Brown, diga-se, é igual às fotografias e o seu discurso é semelhante ao que escreve: empolgante. Comportou-se no palco do CCB como qualquer estrela cujo único destino seria Belém e que estava ali, feliz, com os leitores portugueses. Quer se goste ou não do que escreve, o modo como termina a sessão é um inesperado elogio ao livro: "Foi o que nos juntou. Agradeço a todos os que leem e valorizam livros."