Dalida, um filme sobre o suicídio e o sentido da vida
"Já sei que em Portugal a Dalida também foi muito popular, disse-me ainda ontem o distribuidor português do meu filme!", começa por nos dizer a realizadora de Dalida, o biopic da cantora italiana que conquistou a França nos anos 1970 e 80. Lisa Azuelos, de 51 anos, parisiense e filha também de uma cantora e atriz, Maria Laforêt, encontra-se com o DN em Paris em janeiro, precisamente na ebulição da estreia do filme em França. Assume estar excitada com tanta expectativa que o filme está a criar.
Dalida é mais um filme de uma corrente da indústria francesa: as biografias dos grandes heróis franceses da canção. A de Serge Gainsbourg, Gainsbourg - Vida Heroica (2010), de Joaan Sfar, foi um triunfo artístico enquanto a de Claude François, My Way (2012), de Florent-Emilio Siri, era apenas um exercício para o ator Jérémie Renier.
O filme conta a história da ascensão da cantora em França e o modo como se tornou um ídolo, embora o foco seja sempre a sua trágica vida. Além de se ter suicidado, Dalida teve vários homens, todos eles com um destino fatal. Para Lisa Azuelos, esse rasto de tragédia foi o ponto catalisador do projeto: "No começo não era muito fascinada por ela. Este filme foi-me proposto. Mas mal comecei a pesquisar a sua história fiquei apaixonada! Todos aqueles suicídios! Meu Deus, acho muito interessante uma mulher que lutou tanto para ser boa na carreira e ter tanto fracasso na vida amorosa. Enfim, faz--me lembrar uma pessoa que conheço bem." Depois disso fica uma pausa no ar. Das incómodas. A cineasta é divorciada do realizador Patrick Alessandrin...
O facto de estarem a ser feitos cada vez mais biopics em França não deixa a realizadora indiferente: "Penso que o negócio do cinema hoje ou vive da independência dos projetos ou, por outro lado, já tem de chegar ao espectador com uma marca famosa, um nome... Os financiadores querem apostar em projetos que à partida já têm mercado. Por acaso, não quis fazer esse projeto por isso. Seja como for, o que conta agora nem é o ator, mas sim o tema ou a pessoa que se retrata. Essa situação torna a vida difícil em Hollywood para as estrelas."
Cineasta da nova fornada do cinema comercial francês, o seu nome saltou para a ribalta com a comédia LOL, em 2008. Um sucesso com Sophie Marceau que quatro anos depois teve direito a remake na América, também realizado por si. O LOL americano tinha como estrelas Demi Moore e Miley Cyrus e não convenceu ninguém. Talvez por isso, tenha dito em entrevistas que queria começar a fazer um cinema mais autoral.
Voltando a Dalida, Azuelos recorda que a cantora, mesmo com tanta tragédia na sua vida, sabia tirar o máximo prazer da exaltação do palco: "Dalida sabia viver. Acontece a muita gente com vidas dramáticas, sobretudo os cómicos. Ela vivia tudo ao máximo para esquecer a tristeza da sua vida. Mas o mais importante para mim a nível plástico foi respeitar a iconografia da artista. Isso e conseguir que um espectador que nunca tenha ouvido falar dela possa conseguir sair da sala com algo dela. Espero que o meu filme atraia novos fãs para esta cantora!"
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Dê por onde der, o tema em Dalida é o suicídio. Lisa Azuelos respira fundo e avisa: "Este é mesmo um filme sobre o suicídio! Mas também é uma reflexão sobre o sentido da vida. Só cometemos suicídio quando não encontramos o sentido da vida. Quando comecei a escrever, há muitos anos, também era muito suicidária... Sentia-me muito mal e sofria de depressão. Cheguei a pensar em tentar matar-me para depois começar a escrever melhor. Foi terrível! Mal comecei a rodar este filme senti toda a joie de vivre. Agora, claro, compreendo quem decide tirar a sua própria vida. Mas percebo igualmente como podemos fugir a isso e é sempre uma linha muito ténue que separa a decisão. Como podemos seguir a vida depois da perda de um filho ou mesmo quando perdemos o nosso trabalho? É muito complicado." Sobretudo quando antes já conheceu a felicidade, contrapomos. "Não sei, nunca fui feliz", responde prontamente.
Por fim, já com sorriso restabelecido, Azuelos elogia a fabulosa Sveva Alviti, a protagonista: "Só ela poderia ser Dalida, nem pensei noutra atriz mais famosa." Alviti e a teatralidade desta tragédia são realmente os trunfos deste filme. A seguir, Azuelos quer fazer um projeto mais calmo. "Este foi o meu monte Evereste."