O alfaiate Caetano, o droguista Evaristo, o pasteleiro Cipriano Lopes, o "leão da Estrela" Anastácio Silva ou o sr. Simplício Costa - António Silva tinha o dom de transformar as suas personagens em figuras carismáticas. "Aprendi a aceitar os papéis que me entregam. Os realizadores consideram-me um 'bom aldrabão' e o público parece que gosta - não posso pedir mais...", dizia ele numa entrevista à Plateia. .Nesta nova série Ciclos, que hoje se inicia, o crítico João Lopes vai um pouco mais longe na abordagem à figura de António Silva, um actor que, apesar de ter feito dramas e tragédias, ficou para sempre associado à comédia. São cinco programas, ao longo de cinco semanas, dedicados a cinco filmes que fazem parte da nossa memória colectiva. .Nascido em Lisboa, em 1886, filho de um dourador de molduras, António Maria da Silva teve o seu primeiro emprego numa retrosaria. Espectador assíduo de espectáculos (um dos borlistas que pertencia a claques), começou a fazer teatro amador e arranjou ainda um emprego a dar a voz em filmes mudos. Com o incentivo de amigos, aos 24 anos decidiu dedicar- -se ao teatro, com a companhia de Alves da Silva, no Teatro da Rua dos Condes. Estreou-se com O Novo Cristo, de Tolstoi. Entre 1913 e 1921 viveu no Brasil, em digressão com a companhia teatral de António de Sousa. Foi lá que, em 1920, se casou, em segredo, com a também actriz Josefina Silva, sua mulher de toda a vida..De volta a Portugal, trabalhou vários anos na Companhia de Teatro Santanella-Amarante. Integrou ainda as companhias de Lopo Lauer, António de Macedo, Comediantes de Lisboa e Vasco Morgado. Viviam-se os anos de ouro do teatro de revista. Nos palcos, além de António Silva, andavam Vasco Santana (com quem fez dupla pela primeira vez, em 1932, em Desculpa, ó Caetano), Maria Matos, Costinha e muitos outros. Foi com A Canção de Lisboa, o primeiro filme sonoro português, que, em 1933, se tornou definitivamente "o António Silva", um actor popular.