Da "pedra do destino" a quem fica de fora. O guia básico da coroação de Carlos III

A Catedral de Westminster, palco há quase mil anos destas cerimónias, acolhe 2300 convidados para um evento onde haverá também algumas novidades.
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A coroação de Carlos III é uma cerimónia que junta tradição e modernidade, sendo uma versão reduzida da protagonizada pela mãe, Isabel II, em 1953. Está lá a coroa que pesa mais de dois quilos, a "pedra do destino" ou a carruagem com dois séculos de história. Mas também há abertura à diversidade religiosa do Reino Unido, o "coro de milhões" com o juramento de fidelidade ao monarca ou um novo biombo atrás do qual Carlos III será ungido. E se a coroação de Isabel II foi a primeira transmitida na televisão, esta é a primeira da era das redes sociais.

O palco da cerimónia será a Abadia de Westminster, onde desde 1066 são coroados os reis ingleses. Mas milhares de pessoas são esperadas ao longo do percurso de dois quilómetros que separa a abadia do Palácio de Buckingham, apesar de as previsões meteorológicas dizerem que vai chover. É da residência oficial que partirão o rei e a rainha consorte pelas 10.20, a bordo de uma moderna carruagem (tem ar condicionado e vidros elétricos) puxada por seis cavalos, usada pela primeira vez em 2014.

Finda a cerimónia, às 13.00, a viagem será mais desconfortável - Isabel II apelidou de "horrível" a experiência na Gold State Coach, puxada por oito cavalos. Com 260 anos, tem sido usada em todas as coroações desde 1831, sendo tão pesada que a viagem de volta ao Palácio será feita ao ritmo de 108 passos por minuto - abaixo do normal.

Mas regressemos à cerimónia e aos mais de dois mil convidados, um quarto dos que estiveram na abadia em 1953 - um deles o próprio Carlos, que tinha então quatro anos. Entre os convidados estão os familiares do rei e da rainha consorte - incluindo o seu ex-marido, Andrew Parker Bowles. O príncipe George, de 9 anos, filho de William e Kate e segundo na linha de sucessão atrás do pai, será um dos oito pajens na cerimónia, carregando as vestes do rei à entrada na abadia. O príncipe Harry, que se afastou dos deveres reais, confirmou a presença, mas a sua mulher Meghan estará ausente - tal como os dois filhos do casal, que ficaram na Califórnia. Sarah Ferguson, ex-mulher do príncipe André, não foi convidada.

Entre os líderes mundiais, um deles Marcelo Rebelo de Sousa, o grande ausente é o chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, representado pela primeira-dama, Jill Biden. Desde a independência, nenhum presidente dos EUA assistiu à coroação de um monarca britânico. Líderes da Rússia, Irão, Síria ou Venezuela não foram sequer convidados.

As Casas Reais europeias estarão presentes em força, assim como os chefes de governo dos 15 países de que Carlos III é monarca . O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, fará uma das leituras na cerimónia. Mas muitos deputados e lordes ficaram de fora - todos juntos ocupariam quase metade dos lugares disponíveis. Uma grande parte dos 2300 convites seguiu para representantes da comunidade, voluntários ou membros de organizações de caridade, em reconhecimento pelo trabalho que têm desenvolvido.

As coroas e os cetros, normalmente guardados na Torre de Londres, não serão meros adereços. Os diferentes objetos representam diferentes aspetos do serviço e responsabilidade do monarca. A orbe, por exemplo, data de 1661, sendo que a cruz em cima do globo representa o mundo cristão. São usados ainda dois cetros: um com uma cruz, que representa o poder real e a justiça, outro com uma pomba branca, símbolo do papel espiritual do monarca.

Há ainda a cadeira da coroação, em carvalho, que data de 1300, tendo um espaço próprio para a "pedra do destino". Símbolo da monarquia escocesa, esta pedra foi apreendida pelo rei Eduardo I em 1296 e faz desde então parte das coroações. Devolvida à Escócia em 1996, voltou a Londres para o evento de hoje.

A própria cerimónia está dividida em vários passos. O primeiro é o reconhecimento, quando Carlos III é apresentado ao "povo" e proclamado "rei indubitável". Segue-se o juramento, antes da unção. Neste momento, o arcebispo da Cantuária, Justin Welby, que lidera a cerimónia, usará uma colher de prata do século XII e óleo consagrado na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. O momento serve para lembrar ao monarca que foi escolhido por Deus, sendo por isso privado - decorre atrás de um biombo desenhado especialmente para a ocasião.

O passo seguinte é a investidura, quando o monarca recebe então os símbolos reais - a orbe, os cetros, uma espada e um anel. Finalmente, a coroação com a coroa de Santo Eduardo, que pesa mais de dois quilos, a ser colocada na cabeça do monarca. É a única vez que a irá usar na sua vida. Nesse momento, os sinos da abadia vão soar durante dois minutos, havendo também salvas de canhões por todo o país. Para os vários momentos musicais ao longo da cerimónia, foram encomendadas 12 novas peças pelo rei, incluindo ao compositor Andrew Lloyd Weber.

Seguem-se depois as homenagens, uma delas do príncipe de Gales, William. O juramento de fidelidade, normalmente feito por outros nobres diante do rei, será substituído pela primeira vez pelo "coro de milhões". O arcebispo convidará os presentes na abadia, mas também quem está em casa, a fazer esse juramento. Igualmente inédita será a participação de outros líderes religiosos - judeus, muçulmanos, hindus, sikhs e budistas - que farão uma declaração conjunta de reconhecimento do serviço do rei.

Depois de todos estes passos, será a vez de coroar também Camilla, que deixará de ser rainha consorte e será apenas rainha. A cerimónia é muito mais simples, sendo usada a coroa da rainha Mary, que data de 1911. Depois os reis participam no ato da comunhão, antes de deixar a abadia. Carlos III usará então a coroa imperial, que data de 1937, tem quase dois mil diamantes e pedras preciosas, mas pesa só um quilo.

Para terminar o dia de celebração, os monarcas irão acenar à multidão desde a varanda do palácio de Buckingham pelas 14.15 e assistir ao espetáculo aéreo, se a chuva o permitir.

susana.f.salvador@dn.pt

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