Da mobilidade à infertilidade. O que estudam as mulheres na ciência
Patrícia Baptista quer que, além de escolher os trajetos mais curtos e económicos, seja possível ter em conta fatores como a inalação de poluentes, declives ou pisos irregulares. Isabel Veiga vai avaliar de que forma as mutações genéticas do parasita da malária promovem a resistência aos medicamentos. Maria Inês Almeida pretende explorar a função dos microRNAs na regeneração dos ossos. E Ana Rita Marques quer compreender como é que as células garantem a estabilidade dos centríolos (responsáveis pela divisão celular), o que pode abrir linhas de investigação na infertilidade feminina.
As quatro investigadoras são hoje distinguidas com as medalhas de honra L"Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência e prémios no valor de 15 mil euros para cada. Escolhidas entre cerca de 80 candidatas, fazem parte do grupo de 41 cientistas apoiadas no país no âmbito do projeto lançado em 2004, numa parceria com a UNESCO.
Melhorar a mobilidade dos idosos
Investigadora no Instituto Superior Técnico, Patrícia Baptista, 33 anos, quer melhorar a mobilidade urbana. Mais do que saber os trajetos mais curtos ou mais económicos, quer que seja possível saber quais os mais seguros, os menos poluentes e nocivos para a saúde, especialmente para "pessoas com dificuldades de mobilidade". Para tal, a ideia é integrar informação como o esforço físico a despender, a inalação de poluentes, a emissão de gases e o tipo de piso. Para a investigadora, esta distinção é "uma valorização" do trabalho que tem vindo a desenvolver, num contexto "em que as oportunidades para jovens investigadores são limitadas".
Eficácia a tratar a malária
A trabalhar na luta contra a malária desde 2004, Isabel Veiga, 35 anos, investigadora no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da U. Minho, diz que um dos grandes problemas é "a capacidade resiliente que o parasita tem para desenvolver mecanismos para escapar à ação dos fármacos". É por isso que se propõe investigar de que modo as mutações genéticas do parasita promovem essa resistência. A ideia é que no futuro, quando o doente é visto, possa ser feito um diagnóstico molecular para saber qual o tratamento que terá sucesso no seu caso. E, claro, abrir pistas para novos remédios.
RNA na regeneração dos ossos
Maria Inês Almeida, 33 anos, investigadora do i3s - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde -, quer investigar de que forma é que os microRNAs - pequenos RNAs não codificantes, parte do chamado DNA lixo - podem estar envolvidos na regeneração óssea. A investigadora acredita que, além da importância no tratamento da osteoporose, podem existir aplicações da medicina dentária à oncologia. "Com este prémio, posso dar continuidade ao trabalho que tenho desenvolvido e a uma linha de investigação que conjuga biologia molecular e regeneração de tecidos", explica ao DN.
Da infertilidade ao cancro
O projeto de Ana Rita Marques, 36 anos, investigadora pós-doc no Instituto Gulbenkian de Ciência, consiste em compreender "como é que as células garantem a estabilidade dos centríolos - estruturas responsáveis pela divisão celular e pelo movimento dos flagelos", o que pode abrir linhas de investigação "na área da infertilidade feminina, mas também da regeneração de tecidos, das doenças relacionadas com malformações embrionárias e do cancro". Este prémio, diz, permite ter acesso a formações, cursos e congressos no estrangeiro.