Da Ásia à Europa: os leques como símbolo de poder

A exposição <em>Na Senda dos Leques Orientais</em>, com 175 peças emprestadas por 23 instituições, arrancou esta sexta-feira e ficará patente no Museu do Oriente em Lisboa até dia 10 de setembro.
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Um símbolo de luxo, estatuto e poder. Embora a sua origem esteja perdida entre a lenda e a realidade, o leque começou a ganhar a sua importância na Ásia, levando depois a uma conquista dos mercados europeus e americanos. Macau e Cantão lideraram a sua exportação durante o século XVI e XIX. Esta é uma das muitas informações divulgadas na exposição Na Senda dos Leques Orientais arrancou esta sexta-feira e ficará patente no Museu do Oriente em Lisboa até dia 10 de setembro.

Com 175 peças emprestadas por 23 instituições, estão expostos não só leques mas também quadros e estátuas que mostram a utilização e importância deste objeto.

A exposição está criada de forma didática, dividindo-se em núcleos, e seguindo a trajetória dos leques orientais entre o século XVI e XIX.

"A ideia é passar por um "túnel" que tenha movimento e um cheiro de sândalo porque as bases dos leques eram feitas de sândalo. As mulheres gostavam porque estavam a movimentar o leque porque dava um aroma", explicou o comissário, Investigador e Professor Paulo de Assunção em conversa com os jornalistas, durante a visita de imprensa.

A palavra leque em português tem origem nas ilha Léquias , na altura dos Descobrimentos quando Portugal chegou ao Japão.

Seguindo a ordem da exposição, o primeiro núcleo funciona como uma introdução, dando ênfase ao objeto pequeno mas muito complexo, onde se encontra carpintaria, pintura e metalurgia. "Nesta peça estão vários processos que são muito mais complexos e demorados do que se possa imaginar".

Um leque é composto por três elementos: as varetas, que podem variar de número em função do período da sua construção; as guardas, que são as partes externas e podem ter diferentes designs; e as folhas, que também dependendo do período em que foram feitos, podem ser de pergaminho, peles e papel.

Nesta parte da exposição é demonstrado como os leques estavam presentes até no antigo Egito. Esta descoberta foi possível devido às gravuras feitas pelas civilizações mais antigas. No entanto, existem lendas que descrevem o aparecimento do leque em várias versões, como por exemplo, na China conta-se que, a determinada altura, uma princesa terá sentido calor durante um baile e utilizou a sua máscara para se abanar, levando à criação do leque. Mas há mais: "Existe também outra versão, onde uma senhora que cuidava de um homem deu-lhe um chá com uma base. A base seria um leque. Então, nas cerimónias do chá chinesas eles oferecem o chá sobre um leque", acrescenta Paulo de Assunção. Ainda na primeira parte da mostra, numa das paredes roxas do Museu do Oriente, encontra-se o desenho do esqueleto de um leque que mostra as varetas e as guardas antes de terem as folhas aplicadas. A exposição lembra, também, que os primeiros leques na Ásia eram inicialmente feitos com penas de pássaros.

A segunda parte da exposição foca-se na China. Shan é o termo em chinês para designar leque. No entanto, há diferentes tipos de leques na China, desde os cerimoniais aos do dia-a-dia (chamados de Pien-Shan). Os leques que chegaram à Europa são outra versão: os desdobráveis - tal como o conhecemos no Ocidente - chamados brisé, e feitos de carapaça de tartaruga, marfim, madrepérola, madeira e outros materiais.

Na exposição está exposto um leque feito de madrepérola, este é destacado pelo comissário por ter sido em tempos uma peça maior, sendo adaptada e restaurada.

Estão também expostos e ilustrados leques anteriores ao século XVI, como os leques fixos, normalmente redondos feitos de tecido. Na China, os leques não eram apenas utilizados por mulheres mas também por homens com inscrições filosóficas e pensamentos. No meio dos leques, está exposta a estátua de Zhongli Quan, uma figura da mitologia chinesa, com um leque, que, segundo a lenda, tinha a capacidade de tornar as moedas de prata em ouro, e tirava as pessoas da pobreza e ressuscitava os mortos. Contudo, é na França que lhe é atribuído um contexto mais feminino. "Na China, os homens utilizam leques até hoje sem relação à sexualidade. Era comum um leque de um homem ter menos varetas do que um de uma mulher e com inscrições diferentes", diz o comissário.

Já no Japão eram também utilizados leques durante a guerra como forma de sinalizar os soldados em termos de movimentos.

Quando estas peças chegam à Europa, tornam-se um símbolo do poder feminino e mais tarde um símbolo de etiqueta. Várias mulheres por todo continente mostravam os seus leques. Por isso mesmo, um dos núcleos da exposição dedica-se a quadros de mulheres com estes acessórios como D. Maria Doroteia de Bragança ou o quadro da Imperatriz Maria Leopoldina. Em França, na corte de Napoleão Bonaparte, os leques tiveram uma quebra de popularidade. Mais tarde, no reinado de Luís Filipe (1830 - 1848) tornaram-se também códigos de sedução e conquista. Alguns dos leques vinham com indicações de como usar este código de sedução. Uma "estratégia de marketing" para reconquistar a popularidade.

A última parte da exposição convida os visitantes a entrar num mar de leques com faixas de desenhos marítimos. Os expositores estão divididos por cores, sendo o vermelho atribuído aos leques mandarim (originários de Cantão, na China), o laranja aos leques plissados, a bege os leques brisé e a verde os comemorativos.

Hoje em dia, o leque é um objeto de fascínio e de coleção. "Em França existe o museu do Leque. De certa forma, o leque passou a ser um objeto de turismo nas lojas de lembranças e muitas vezes continua a ser uma produção chinesa", concluiu Paulo de Assunção.

mariana.goncalves@dn.pt

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