Custa alguma coisa votar nas eleições europeias?
Numa Europa em que 20% da população se situa entre os 15 e os 29 anos, à luz do Eurostat, é capital que os jovens sejam devidamente representados no parlamento europeu, por forma a puderem tomar também o rumo do futuro continente europeu. Será que um eurodeputado com 40, 50 ou 60 anos conhece na prática os problemas atuais que os jovens de 18 aos 35 enfrentam? Sentem-nos na pele? Claro que não. Os jovens devem representar outros jovens, como forma de capitalizar as novas gerações a interessarem-se mais pela política, pelos projetos políticos nos seus respetivos países e a terem verdadeiros role models, alguém em que se possam rever e sentir que são efetivamente representados. A participação dos jovens nas eleições europeias permanece ainda abaixo da média, sendo que apenas 42% dos jovens com menos de 25 anos vota, o que é revelador de que a inclusão de mais jovens nas listas poderia reverter esta tendência negativa.
De acordo com um relatório elaborado pelo fórum europeu da juventude em 2019, apenas 1% dos membros do parlamento europeu tinham menos de 30 anos de idade, ora tal é inadmissível quando pretendemos uma Europa de energia renovada, vibrante, jovem, verde, progressista, reformista e que tenha sempre os mais novos em mente, porque integra essa geração, veste as suas dores e pretende alterar o curso do Status Quo, combustível dos populismos e extrema direita no Parlamento Europeu. Sem esquecer que os jovens aportam consigo uma nova visão de futuro para a política, têm maior familiaridade com as tecnologias emergentes, com a IA, possuem um espírito inovador e compreensão dos desafios contemporâneos, como a digitalização, a igualdade de género, a imigração, as alterações climáticas, e só com mais voz, mais representatividade, é que esta nova geração terá as suas causas na agenda do mundo real e não presa na espuma dos dias.
Os jovens devem ser integrados nas listas em lugares elegíveis, sendo que, poder-se-iam criar quotas para jovens, por forma a não serem remetidos para levantar bandeirinhas e organizar comícios dos partidos políticos e nada mais. Os eurodeputados têm de se envolver mais no diálogo com os jovens, ouvir as suas ideias, as suas preocupações, as suas aspirações e garantir que essas vozes são ouvidas nas nossas instituições europeias e materializadas em soluções. Não podemos esperar mais! Uma Europa sem jovens é uma Europa sem futuro. É tempo dos partidos políticos incluírem jovens e mais jovens nas suas listas, não dando azo à permanência ad eternum sempre dos mesmos, há mais mundo lá fora, a vida continua.
Por último, lanço algumas medidas para reflexão coletiva. Seria interessante a padronização dos processos eleitorais em toda a união europeia, pois atualmente, os diferentes países têm diferentes métodos de votação e regras de campanha, e, padronizar esses processos poderia ajudar a asseverar que todos os votos tinham um igual peso e que todas as campanhas fossem disputadas em terreno nivelado. Por outro lado, considero que o voto eletrónico deveria ser uma aposta complementar, garantindo que todos pudessem votar, independentemente do local em que estivessem, não obstante, sempre assegurando a inexistência de fraudes. Conquanto, é fundamental a consciencialização dos jovens acerca da União Europeia, porquanto, seria interessante a criação de escolas de verão descentralizadas, para todos os jovens sobre a união europeia, uma espécie de parlamento europeu dos jovens em cada Estado-Membro, contando com a presença de eurodeputados, da presidente do parlamento europeu, por forma a se criarem laços entre os políticos e os jovens, bem como, promovendo momentos de tertúlias e formação sobre o que é a união europeia. Por conseguinte, é dorsal a existência de mais transparência nas campanhas, por
forma a conseguirmos saber quem são os "financiadores" e garantir que as eleições são justas, e que haverá no fim um presta contas, o que inclui, os gastos sobre as campanhas, como, quando, onde e a divulgação de todas as doações. A desinformação é um outro pilar que merece destaque, pelo facto de distorcer o campo eleitoral, enganando os eleitores, sendo por isso, medular que se combatam as "fake news", com a verificação de factos, não obstante, é necessário a cooperação da comunicação social nesta batalha digital, para que os cidadãos possam tomar decisões com base em factos e não em mentiras mascaradas de inverdades. Carecemos de maior representatividade de todos os grupos, incluindo minorias étnicas, mulheres e jovens, pois só assim teremos uma representação equitativa no Europa. Alargar em toda a união europeia o voto aos 16 anos seria uma outra meta interessante que asseguraria na minha visão, um aproximar do poder político à realidade dos jovens. A distribuição de assentos deve ser alterada, não pode basear-se em quem mais população possui, os pesos devem ser iguais. Devem ser promovidos debates públicos entre candidatos dos mais vários partidos/grupos e Estados membros, por forma a garantir que todos os eleitores tivessem acesso às posições e propostas dos candidatos. Carecemos de um salário mínimo e mínimo-médio europeu, carecemos de uma política fiscal comum, acabando com a competitividade fiscal que destrói os países mais pequenos e seca as suas economias. Carecemos de acabar com os estágios não remunerados em todos os Estados da união europeia, carecemos de proteger a biodiversidade marinha e os ecossistemas marinhos. Carecemos de lutar contra o crescimento do extremismo e radicalismo, sendo para tal, preciso fazer mais, reformais mais, cumprir mais o que se promete. Necessitamos de implementar mais rápido legislação europeia, apostar na IA regulada, assente na ética, na supervisão, não deixando nunca que IA pense por nós, viole a privacidade e os dados pessoais, assim como, se autorregule. É necessário combater de frente as grandes empresas poluidoras, por via de sanções pesadas, que desincentivem a poluição e destruição do mundo. Precisamos de apostar a 100% nas energias renováveis, mas para tal, é necessário carros elétricos a preços acessíveis e não a preços exorbitantes e inacessíveis. Os Estados devem criar metas de produção de energia limpa e incentivar mais fiscalmente as suas empresas e pessoas. E muitas mais reformas são necessárias. Carecemos de mais humanismo, de receber pessoas que fogem de guerras e precisam de nós, combatendo as redes de tráfico, queremos uma Europa de pontes, não de muros. Devemos apostar na diplomacia mundial e no multilateralismo, como instrumento geopolítico de término de guerras seculares, políticas, religiosas que somente trazem morte, mais sofrimento, e mais êxodo humano. Queremos mais autodeterminação, queremos uma Europa autossuficiente, que produza mais riqueza, com menos impostos. Mais juventude, mais reformas, mais futuro! Simples, não é?
Termino citando, "O futuro da União Europeia será moldado pela energia, criatividade e inovação dos nossos jovens, aliadas às reformas necessárias que promovam uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável para todos."
Advogado estagiário