Cruz Vermelha pede acesso urgente aos civis de Gaza

O acesso a hospitais e outros locais essenciais voltou a complicar-se para a população civil de Gaza por causa dos ataques aéreos contínuos. O Programa Alimentar Mundial anunciou entretanto uma ajuda de emergência para mais de 51 mil pessoas.
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O Comité Internacional da Cruz Vermelha pediu esta segunda-feira acesso a Gaza numa altura em que palestinianos e israelitas se confrontam nas hostilidades mais intensas desde 2014, impedindo as ações das organizações humanitárias.

"Não há tempo a perder, fazemos um apelo a todas as partes para que, de forma proativa, protejam os civis", refere um comunicado do diretor-geral do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Robert Mardini.

O acesso a hospitais e outros locais essenciais voltou a complicar-se para a população civil de Gaza por causa dos ataques aéreos contínuos.

A gravidade dos efeitos dos bombardeamentos afeta estradas e muitos edifícios, indica o CICV.

"A intensidade do conflito é uma coisa que não tínhamos visto anteriormente: ataques aéreos ininterruptos na densamente povoada Gaza e foguetes que alcançam grandes cidades de Israel. Como consequência morrem crianças em ambos os lados", diz ainda Mardini.

O Exército de Israel bombardeou intensamente na madrugada desta segunda-feira, oitavo dia do conflito, a Faixa de Gaza onde, no domingo, morreram 42 civis.

As milícias do Hamas e da Jihad Islâmica lançaram 'rockets' contra as povoações israelitas localizadas próximo da fronteira.

O Conselho de Segurança da ONU mostra incapacidade para tomar uma posição unida devido ao apoio dos Estados Unidos a Israel.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha, que segue de perto as consequências humanitárias do conflito, indiciou que já entrou em contacto com "ambos os lados" para expressar a necessidade de respeito pelas obrigações que tem de desempenhar no quadro do direito internacional humanitário.

"Os atores no terreno devem parar com este ciclo de violência. As normas são claras: os civis devem ser protegidos em todos os momentos. Lamentavelmente não é assim", criticou Mardini.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha está presente em Israel e nos territórios palestinianos ocupados desde 1967 e ajuda a melhorar o acesso a serviços essenciais como água ou distribuição de eletricidade em Gaza.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza ficaram feridas até ao momento 1.235 pessoas.

Israel estima que matou 75 elementos do Hamas e "dezenas" de membros da Jihad Islâmica desde a semana passada.

No domingo, em Israel não se registaram vítimas, sendo que até ao momento morreram 10 pessoas, oito das quais menores, e 300 israelitas ficaram feridos na sequência dos lançamentos de 'rockets'.

No domingo, sétimo dia da mais grave escalada bélica desde 2014, registou-se intensa troca de fogo entre as milícias e o Exército de Israel.

Os combates começaram em 10 de maio, após semanas de tensões entre israelitas e palestinianos em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do islão junto ao local mais sagrado do judaísmo.

Ao lançamento maciço de 'rockets' por grupos armados em Gaza em direção a Israel opõe-se o bombardeamento sistemático por forças israelitas contra a Faixa de Gaza.

O conflito israelo-palestiniano remonta à fundação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 14 de maio de 1948.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou entretanto uma ajuda de emergência para mais de 51 mil pessoas na Faixa de Gaza, em reação às crescentes necessidades humanitárias da população daquele enclave palestiniano, envolvido numa escalada de violência com Israel.

Em colaboração com parceiros presentes no terreno, o PAM começou a fornecer uma ajuda monetária para permitir a compra de alimentos por parte da população do território, nomeadamente às pessoas que estão na zona norte de Gaza, segundo informou a agência do sistema das Nações Unidas com sede em Roma.

"Para as pessoas que perderam ou fugiram de casa, uma das necessidades mais urgentes no momento é a alimentação. A maneira mais rápida e eficaz de ajudá-las é dando-lhes dinheiro, na forma de 'vouchers' eletrónicos. Os alimentos estão disponíveis neste momento e muitas lojas locais ainda estão abertas", afirmou Samer AbdelJaber, representante do PAM e diretor nacional na Palestina, citado num comunicado.

No entanto, segundo frisou a agência da ONU, o encerramento das passagens para Gaza poderá em breve causar uma escassez de produtos básicos, incluindo alimentos, e provocar uma subida de preços.

"Os habitantes de Gaza já estão a viver no limite e muitas famílias estão a lutar para colocar comida na mesa. A situação [da população do enclave] deteriorou-se ainda mais no último ano devido às restrições relacionadas com a pandemia de covid-19", disse, por sua vez, a diretora regional do PAM para o Médio Oriente e para o norte de África, Corinne Fleischer.

"A maioria da população não consegue resistir a mais choques", acrescentou a representante.

Controlada pelo movimento radical islâmico Hamas desde 2007, a Faixa de Gaza é um enclave palestiniano sob bloqueio israelita há mais de uma década e onde vivem cerca de dois milhões de pessoas.

Em Gaza, o PAM fornece apoio regular a cerca de 260 mil pessoas através de transferências monetárias ou de outras formas que permitem a aquisição de bens alimentares.

A ajuda fornecida também passa pela atribuição direta de bens essenciais e pela promoção de projetos de apoio à subsistência.

Mais de dois terços da população de Gaza já sofria de insegurança alimentar antes da atual escalada de violência entre as forças israelitas e o Hamas, confrontos estes que já provocaram duas centenas de mortos no enclave, incluindo 59 menores, segundo os dados mais recentes do Ministério de Saúde local.

Os atuais combates entre israelitas e palestinianos são considerados os mais graves desde 2014.

Mais de metade da população de Gaza (53%) vive na pobreza e a taxa de desemprego neste território exíguo situa-se nos 45%.

O PAM afirma que precisa de 31,8 milhões de dólares (cerca de 26,1 milhões de euros) para fornecer ajuda a 435 mil pessoas vulneráveis em Gaza e na Cisjordânia durante um período de seis meses, e de 14 milhões de dólares (cerca de 11,5 milhões de euros) para prestar uma ajuda de emergência a 160 mil pessoas em Gaza e a outras 60 mil na Cisjordânia nos próximos três meses.

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