Cruz Vermelha cria símbolo para integrar Israel
Os Estados que integram as Convenções de Genebra aprovaram ontem, por uma maioria de dois terços, a criação de um emblema suplementar para o movimento da Cruz Vermelha. A decisão destina-se a permitir que Israel passe a integrar aquele movimento, esclareceram fontes diplomáticas ouvidas pela AFP.
Foram 129 países a participar na votação, tendo 98 votados a favor e 27 contra; 10 abstiveram-se. Os votos contra vieram principalmente dos países árabes e muçulmanos presentes na conferência que está a decorrer em Genebra. A liderar os países do "não" esteve a Síria, que colocara como condição prévia ao seu acordo ao novo emblema o direito de ter acesso, em termos de ajuda humanitária, aos montes Golã, anexados em 1981 por Israel. O Executivo de Damasco exigira ainda a construção nos montes Golã de um hospital sob a administração dos habitantes sírios da região, mas supervisionado pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha.
A Suíça tentou fazer a mediação entre sírios e israelitas para se chegar a um consenso, antes de se decidir pela marcação da votação quarta-feira à noite.
Esta decisão, que se traduz pela adopção de um novo protocolo a ser anexado às Convenções de Genebra sobre a protecção dos civis e feridos, pode ser tomada desde que aprovada por uma maioria de dois terços. É, todavia, habitual no movimento a procura da unanimidade para se assegurar que a protecção conferida pelas Convenções de Genebra é respeitada de forma universal.
O novo emblema apresenta a forma de "cristal vermelho" e vem juntar-se à cruz vermelha e ao crescente vermelho. O novo emblema foi concebido de forma a não ter qualquer conotação política ou religiosa. O "cristal vermelho" vai permitir ao Escudo Vermelho de David, a organização de socorro israelita, passar a pertencer ao movimento internacional da Cruz Vermelha, que não integrou até agora, porque o seu símbolo (a Estrela de David), não é reconhecido.
Está igualmente previsto que outros países possam adoptar o "cristal vermelho", podendo ser, designadamente, empregue em situações complexas, como o Iraque.
O embaixador sírio junto da ONU criticou "o fracasso desta conferência", garantindo que o "único país a ganhar foi Israel".
Por seu turno, o presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, reconheceu que "um consenso teria sido ideal", mas "conseguimos reunir uma muito boa maioria, e isso é um desenvolvimento positivo".
O novo símbolo e a entrada de Israel serão oficializados no próximo ano.