Cruz Vermelha alerta: número de mortes vai aumentar significativamente em Moçambique
O número de mortos em Moçambique devido às fortes tempestades e destruição provocadas pelo ciclone Idai deverá aumentar significativamente, segundo avança a Cruz Vermelha internacional esta terça-feira.
O ciclone Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a cidade da Beira, a quarta maior de Moçambique, causando dezenas de mortos e desaparecidos e deixando centenas de milhares de pessoas sem energia e linhas de comunicação.
Por enquanto, a contagem oficial de mortos em Moçambique é de 84, mas o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, estimou segunda-feira, após sobrevoar as regiões afetadas, que mais de 1000 pessoas podem ter morrido na sequência do desastre natural e que ainda há centenas de milhares de moçambicanos a correr risco de vida.
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, Maláui e Zimbabué provocou pelo menos 222 mortos, segundo balanços provisórios divulgados pelos respetivos governos na segunda-feira.
"Estamos a trabalhar com a NASA e com a Agência Espacial Europeia para obtermos informações de satélite que nos deem uma visão completa das áreas afetadas e do número de pessoas presas lá. Dadas as dimensões dessas áreas, esperamos que o número de mortes aumente significativamente", disse Caroline Haga, da Cruz Vermelha Internacional.
Gerald Bourke, do Programa Alimentar Mundial da ONU acrescentou não terem o número preciso de mortos, mas as evidências não são encorajadoras. "Estamos a procurar em enormes áreas que estão submersas e estamos a ver milha após milha de aldeias submersas".
A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) identificou centenas de alimentos de longa duração nos armazéns da instituição espalhados pelo país destinados à cidade da Beira, em Moçambique, atingida pelo ciclone Idai, aguardando um avião especial para esse fim.
Em declarações, o Presidente da CVP, Francisco George, adiantou que foi emitido um alerta a nível nacional para as reservas de alimentos de longa duração (conservas) para serem recolhidos no caso de ser organizado um voo humanitário para Moçambique.
Francisco George adiantou que a CVP abriu já uma conta solidária com cinco mil euros (provenientes de um fundo de emergência da CVP), podendo os portugueses que assim o entenderem contribuir.
"Faço um apelo a todos os portugueses para que transfiram os montantes que entenderem. Podem fazer o donativo através do multibanco, na função pagamentos e serviços, marcando a entidade 20999 e a referência 999 999 999", disse.
O presidente da CVP garantiu que será ele próprio a gerir o montante doado e destinado a Moçambique através do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
"Eu, como presidente nacional da CVP, não ignoro o clima que se instalou em Portugal em termos de desconfiança e de dúvidas em relação às ajudas humanitárias, a um clima que tem existido e que é prejudicial a este tipo de movimento humanitário e à atividade humanitária, mas sublinho que diretamente sou responsável pela gestão desta conta e de entregar o montante conseguido diretamente ao Comité Internacional da Cruz Vermelha na Suíça", garantiu.
"Há muitos portugueses na Beira. Não podemos ignorar esta tragédia que os moçambicanos estão a viver", acrescentou Francisco George.
"É uma situação de tragédia imensa, agravada pelas inundações. As famílias estão separadas, há muitos desaparecidos e é preciso juntar novamente os núcleos familiares que estão dispersos. Há também risco de problemas epidémicos como a cólera devido às inundações, à falta de higiene, de infraestruturas básicas", salientou.
Sobre a forma como Portugal e os portugueses podem ajudar os moçambicanos, Francisco George disse que "no momento", o importante é fazer chegar água, alimentos medicamentos.
"Atendendo a que a Beira é uma cidade portuária, é possível fazer chegar água potável em quantidade necessária para assegurar a higiene e a potabilidade no imediato, mas também por via área. O essencial agora é que as autoridades moçambicanas indiquem as necessidades prementes e fazê-las chegar à cidade", concluiu.
Na segunda-feira, o Governo português divulgou que "até agora não há registo de cidadãos portugueses mortos, feridos ou em situação de perigo" devido à passagem do ciclone Idai em Moçambique, mas "várias dezenas perderam casas e bens".