Cristiano Ronaldo ainda é a grande dúvida portuguesa
Os últimos três jogos de preparação para o Mundial foram elucidativos acerca da diferença que separa a seleção portuguesa sem e com Cristiano Ronaldo (CR). À dimensão individual, normal e inevitável, soma-se o efeito da motivação e da confiança. Para além daquilo que só CR sabe fazer, há também tudo o que os outros se sentem capazes de realizar debaixo da tutela do capitão, como foi o caso do jogo com a República da Irlanda (5-1).Cristiano Ronaldo liberta a equipa, mesmo que em sub-rendimento e pouco participativo na manobra defensiva.
Contra a Grécia (0-0) e o México (1-0), para além das experiências feitas por Paulo Bento, viu-se a equipa certinha, sempre evoluída taticamente, mas incapaz de grandes rasgos e de criar suficientes oportunidades de golo. Com CR de regresso, já descontando o facto de os irlandeses estarem de fora do Mundial e por isso terem outra atitude competitiva em relação aos dois adversários anteriores, tudo mudou. E é por isso que para o jogo de hoje, o primeiro daqueles que contam, a pergunta se impõe de novo: que Ronaldo teremos neste Mundial do Brasil? O jogador "preso por arames" que jogou os últimos dois meses da época no Real Madrid motivado pela sua ânsia de conquistas? Ou, depois de tantas cautelas e receios, CR estará agora capaz de guiar a seleção de Portugal a uma nova tentativa de conseguir um lugar de relevo na história das grandes competições internacionais?
O jogo com a Alemanha não deixará de dar a resposta a estas dúvidas, por muito que a seleção nacional tenha sabido gerir com profissionalismo e discrição o estado físico deficiente do seu melhor jogador.
Independentemente de todas estas incógnitas sobre o estado de CR, ainda legítimas nesta altura, Paulo Bento tem disponíveis todos os jogadores - e assim é de crer que arranque a prova com uma equipa fiel às suas convicções dos últimos quatro anos. Visto de fora, arranjam-se três dúvidas: Veloso ou William? Meireles ou Veloso (e neste caso William seria o "6")? O "eterno" Postiga ou Éder ou Hugo Almeida? Não admiraria que, apesar do enorme potencial de William, o ponto de partida seja o onze habitual dos últimos anos e que seja o decurso da prova a justificar as mudanças. Aí teremos sempre William, claro, e Éder, o ponta-de-lança mais completo (e o do futuro), e a entrada habitual de Rúben Amorim, um jogador capaz de descansar a equipa em qualquer das posições que pode fazer, e são muitas, da lateral-direita da defesa a qualquer uma das do meio-campo.
Como este é o primeiro texto antes de a prova começar, não fica mal lamentar a ausência de Danny, um jogador fantástico, que só pode estar de fora por razões que não têm que ver com a capacidade técnica. Ele como Tiago (que viu desfilar à sua frente Figo, Rui Costa, Deco e um super-Maniche) não teve muita sorte na seleção. Danny ter-se-á cansado de não poder coexistir com CR. Sem ele, e por enquanto sem o génio de Bruma (lesionado), Varela será o suplente mais utilizado nas alas, onde Nani parece ter explodido no pouco tempo que jogou com a Irlanda. Esta, conjugada com a recuperação de CR e a certeza de poder contar com o melhor Pepe, seria uma grande notícia para a equipa portuguesa. Porque contra a Alemanha numa fase final de um Campeonato do Mundo qualquer adversário precisa de estar ao mais alto nível... Técnico, tático, físico, de confiança. Mas, pelo caminho nos últimos quatro anos, esta equipa merece o respeito dos portugueses que gostam de futebol.