Crise política foi pesadelo

O comportamento das exportações portuguesas teve a unanimidade dos intervenientes do Observatório DN/BES como o que de melhor aconteceu este ano.
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Não apenas o crescimento, mas também a diversificação de mercados, principalmente para fora da União Europeia, mereceram o destaque dos quatro observadores, que veem nisso a prova de que as empresas portuguesas souberam fazer o seu ajustamento .

"Isto [o crescimento das exportações] num contexto em que a Europa nossa vizinha, onde nós tipicamente tínhamos o nosso melhor mercado, está em recessão", lembrou Isabel Vaz, CEO da Espírito Santo Saúde, que concluiria que "a resiliência é grande, e todo o sector privado efetivamente está a fazer o seu trabalho".

Já António Nogueira Leite, administrador da EDP Renováveis, salientou o crescimento "muito equilibrado" na generalidade dos sectores exportadores. "Se olharmos para os dados repartidos sectorialmente, verificamos que não é apenas o sector do calçado [a crescer]. As nossas exportações estão a crescer não apenas porque há determinadas oportunidades que são aproveitadas. É um crescimento sustentado e relativamente harmonioso", frisou.

A relação do Governo com o Tribunal Constitucional (TC) e a Reforma do Estado foram também mencionados por quase todos, mas com diferentes classificações. Enquanto Miguel Leónidas Rocha, partner da Deloitte, situou a relação do Governo com o Constitucional entre o bom e o mau de 2013, Sérgio Figueiredo, administrador-delegado da Fundação EDP, e Isabel Vaz, não tiveram dúvidas em considerar o papel daquele órgão no que de pior teve este ano. "Por que é que eu digo que é médio? (...) As decisões [do TC] vão sendo corretas [do ponto de vista jurídico], mas não levam em linha de conta o cumprimento do défice, o que nos deixa sem saída", justificou Leónidas Rocha, enquanto os outros dois observadores lamentam que o TC se tenha tornado uma arma política em vez de último recurso.

Quanto à Reforma do Estado, foi a desilusão geral, e só Isabel Vaz não lhe deu nota negativa - "para dar algum incentivo para o futuro". "Não é que houvesse esperança, mas pelo menos não havia a confirmação da incapacidade total [do Governo em fazer a reforma do Estado]", sublinhou Sérgio Figueiredo, enquanto Leónidas Rocha diz ter ficado com "a sensação" de que a reforma "não é para acontecer".

Péssimo também, na opinião de todos e à cabeça nesta análise aos temas principais do ano que está a chegar ao fim, foi a crise política do verão, que se iniciou com a saída de Vítor Gaspar das Finanças - substituído por Maria Luís Albuquerque - e o pedido de demissão "irrevogável" de Paulo Portas do Governo, que fez tremer a coligação PSD/CDS-PP. Depois, quando tudo parecia resolvido, com um novo elenco governativo em que Portas era promovido a vice-primeiro-ministro, o Presidente da República interveio, exigindo um "compromisso de salvação nacional" entre os três maiores partidos. Esse compromisso não aconteceu e tudo voltou ao que já tinha sido decidido. "Foi pior do que os meus piores pesadelos", disse Leónidas, com todas as consequências negativas do lado dos mercados que fizeram disparar os juros da dívida.

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