Crise não trava apetite por formação para o turismo
O contágio da pandemia às atividades económicas foi notório desde que a covid-19 chegou em força ao Ocidente, em março de 2020. E desde as primeiras semanas que o turismo percebeu que tinha pela frente um período de dificuldades. As dificuldades acabaram por se traduzir numa crise profunda. Mas nem isso tem afastado os jovens da formação na área do turismo. As escolas do Turismo de Portugal - são 12 no total - formam mais de 3000 alunos por ano em várias áreas do turismo. Neste momento, estão abertas candidaturas para seis cursos - alguns em várias escolas - que arrancam em março. Trata-se de cursos para candidatos que já tenham cumprido o ensino secundário e que procurem formação em áreas como Gestão e Produção de Pastelaria; Gestão e Produção de Cozinha; Gestão de Restauração e Bebidas; Culinary Arts; F&B Management; Hospitality Operations Management.
Ana Paula Pires, responsável para área de Formação do Turismo de Portugal, assume que para estes cursos, tipicamente, "temos sobretudo jovens entre os 20 e os 25 anos - em alguma formação até candidatos um pouco mais velhos. Diria que, dos 20 aos 30 anos são a nossa faixa etária. São sobretudo pessoas que muitas vezes já tiveram experiências de trabalho no setor e reconhecem necessidade de se qualificar mais para desenvolver a carreira".
Há muito que o turismo reclama por mais recursos humanos. Se a pandemia provocou uma travagem a fundo no setor, a verdade é que a necessidade continua a existir e o facto de os jovens quererem ter uma maior capacitação neste setor demonstra que, para muitos, esta área é uma escolha de futuro. "Temos cada vez mais estudantes-trabalhadores. Arriscaria a dizer que são 15% a 20% dos nossos estudantes e são pessoas que vêm do setor", acrescenta.
Quanto ao género, a responsável assume que "já passámos uma época em que tínhamos uma procura mais masculina para termos agora mais procura feminina. Temos bastante equilíbrio, mas temos mais candidatos femininos do que masculinos em geral".
A responsável assume que, mesmo neste ano, "continuamos a ter procura na maior parte dos setores operacionais", como várias funções de cozinha e receção. "Sobretudo na área da cozinha, pastelaria e vinhos continuamos a ter muita procura. A área do serviço de mesa e a área do housekeeping são aquela em que temos menos procura e em que temos de estimular", diz. Estas duas áreas são também uma dificuldade para as empresas que, frequentemente, apontam como das que mais dificuldade têm em recrutar.
A formação nas áreas intermédias, como para os cursos cujas candidaturas foram agora abertas, "não verificamos uma diminuição da procura".
Pandemia exige adaptação
Muitos dos cursos das Escolas de Turismo de Portugal tinham uma componente de estágio em empresas. A pandemia atrapalhou assim os planos de muitos e levou o Turismo de Portugal a encontrar soluções. "A grande adaptação que fizemos passou pela criação de muita formação online, acelerando assim um processo que já estava a dar os primeiros passos."
"Durante esse período, continuamos a fazer a formação dos jovens em número em tudo semelhante ao que vínhamos fazendo antes. Em algumas áreas até mais. Durante o ano 2020 e início de 2021 tivemos uma manutenção, um acréscimo de procura sobretudo em áreas novas, como a da segurança, saúde, marketing. Nessa altura, também reorganizamos o nosso modelo de formação e tivemos algumas dificuldades para realizar alguns estágios porque o setor também não estava a funcionar com normalidade. O que fizemos foi, por um lado, introduzir novos modelos de estágio - criámos a possibilidade, por exemplo, de se poderem fazer estágios de desenvolvimento de projetos de negócios. Nas áreas operacionais o que fizemos foi reorganizar os períodos de estágio e, em vez de os fazerem durante o curso, fizeram no final do curso", remata Ana Paula Pires.