Crise leva espectador a ver mais televisão
Consumo. Várias empresas de crédito norte-americanas estão a aconselhar os clientes a cortarem as despesas supérfluas, como as assinaturas de TV por cabo. Mas lá, tal como cá, as pessoas preferem cortar nos jantares fora, uma vez que a televisão é ainda um divertimento barato
Também para poupar, as TV aumentam o número de episódios das séries
Um em cada cinco britânicos vai cortar no número de canais pagos de televisão devido à crise económica mas, pela mesma razão, vai passar mais tempo em casa a olhar para o televisor, segundo um estudo da Continental Research.
Em Portugal, a tendência é igualmente para as pessoas "passarem mais tempo frente à televisão, pois essa é a forma mais barata de entretenimento", segundo disse recentemente José Eduardo Moniz, director-geral da TVI.
Nos Estados Unidos, as empresas de crédito estão a aconselhar os clientes a cortarem nas despesas supérfluas, como a televisão por cabo. Mas, antes de desistirem desta opção, os americanos preferem eliminar os jantares fora de casa ou o cinema, até porque "o que vimos em termos históricos é que os operadores de TV por cabo se desembaraçam muito bem em períodos de recessão como 2000 e 2001", lembra Thomas Egan, analista da Collins Stewart.
Uma análise real ao mercado ocorrerá na próxima semana, quando as principais operadoras revelarem os resultados financeiros do terceiro trimestre do ano, mas não se esperam grandes surpresas, dado que a TV por cabo é entendida como uma necessidade básica e os novos televisores preparados para a alta definição se continuam a vender bem.
Perante o interesse do espectador, como reagem as produtoras televisivas à crise económica? A fazer fé na publicação Hollywood Reporter, jogam pelo seguro. Por exemplo, aumentam os episódios das séries já em emissão para evitarem novas produções e os custos associados em promoção. O resultado é que mesmo as más vão sobreviver.
A publicação dá três exemplos: Private Practice (na ABC), Knight Rider (NBC) e Terminator: The Sarah Connor Chronicles, na Fox, vão ter mais nove episódios cada e tal não se deve às audiências, porque têm sido fracas e, "em anos anteriores, teriam sido canceladas". Apesar do efeito de serem "o melhor do pior", têm a vantagem da publicidade associada. Se retiradas da emissão, os anunciantes podiam desistir dos seus compromissos.
A contenção na despesa publicitária afecta os principais canais de televisão, alguns dos quais são detidos por empresas com interesses no cinema, cujo negócio está igualmente a ser afectado com cortes na produção de filmes. Só a Warner Bros., por exemplo, eliminou a produção de 19 filmes por ano.
O cinema também é um bom barómetro para a crise. "Nas últimas quatro décadas, houve sete anos de recessão [nos Estados Unidos] e as vendas de bilhetes cresceram fortemente em cinco desses anos", revelou ao britânico The Times o presidente da Associação de Proprietários de Cinemas (National Association of Theatre Owners), John Fithian.
Mas os últimos três anos em termos de bilheteira têm-se mantido estáveis, enquanto a venda de vídeos decaiu nos três trimestres do ano (menos 3,5%), tal como o aluguer (menos 1,2%). O fenómeno pode ser de simples precaução económica perante as próximas compras natalícias.