Crise dos chips. Problemas de stock nos telemóveis e eletrónica
Nem só a indústria automóvel sofre com a falta de semicondutores no mundo. Lojas de retalho especializado, como a MediaMarkt, Fnac ou Worten, admitem problemas de stocks com computadores e algumas gamas de smartphones, bem como com artigos de fotografia e de som. E até em máquinas de lavar a loiça. A solução tem sido oferecer alternativas de outras marcas ou com origem noutros países que não os asiáticos. A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) garante que "não haverá prateleiras vazias" nas lojas, mas que haverá, sim, "dificuldades em repor alguns tipos de produtos", que estão a "demorar o dobro do tempo" a chegar.
Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, aponta as opções políticas das últimas décadas. "Não podemos reduzir a situação que se vive à questão dos chips. A verdade é que há um avolumar de situações, como o aumento dos combustíveis, a falta de contentores ou o disparar dos preços dos transportes, que estão a provocar graves perturbações nas cadeias de abastecimento mais longas. Infelizmente, a Europa está a pagar o preço de ter deslocalizado grande parte da sua indústria para a Ásia, de onde vem de tudo, desde botões e fechos-éclair, a parafusos, porcas ou cabos, e não podemos esquecer", argumenta.
Aumento de preços
Já no retalho alimentar, garante, "não está em causa a ceia de Natal, nem os produtos alimentares em geral", mas o aumento dos combustíveis e a pressão que isso coloca sobre os transportadores torna "inevitável um aumento dos preços" ao consumidor. Quando e em que valor, não se atreve a tentar adivinhar, lembrando apenas que o gasóleo corresponde a cerca de 30% do custo dos transportes. "É bom de ver que qualquer aumento de 2 ou 3% nos combustíveis tem impactos significativos", diz.
Do lado dos operadores, as estratégias têm passado por antecipar encomendas. A MediaMarkt, que começa a planificar as campanhas da Black Friday ou do Natal antes do verão, este ano começou "muito antes". Além disso, reviu as suas previsões em alta, de modo a "assegurar o máximo fornecimento possível", diz Francisco Teixeira, responsável da MediaMarkt Ibérica. A empresa trabalha com "uma grande variedade" de marcas que fabricam nos mais diversos países. "Seremos sempre capazes de oferecer uma alternativa aos nossos clientes", garante.
Medidas atempadas
A Fnac assume que tem sentido falta de "alguns artigos" e admite que haja "alguma escassez". Dependendo da categoria de produto e da marca, os atrasos "podem ir de alguns dias a algumas semanas". Nos livros, procurou "antecipar compras" como forma de contornar a situação. Já a Worten garante que "não há motivos para preocupação" porque, apesar de "alguma incerteza" nas datas de receção da mercadoria, os níveis de abastecimento das lojas "estão muito equiparados" a anos anteriores. "Estamos a assegurar a antecipação das encomendas para não corrermos riscos desnecessários de atrasos e falhas nas entregas", frisa.
A Ikea, por seu turno, diz que tomou "medidas extraordinárias", como "comprar contentores próprios e fretar embarcações adicionais" para "garantir a disponibilidade" de produtos aos clientes. Também Diogo Duarte João, responsável de Relações Públicas da marca em Portugal, admite que "nem todos os produtos estarão disponíveis" na época natalícia que se aproxima, mas sublinha que a situação não é exclusiva da empresa. "As cadeias de abastecimentos, em todo o mundo, continuam a enfrentar enormes desafios devido à pandemia", frisa.
Continente
A Sonae MC, dona do Continente, garante que preparou a próxima época festiva com "criatividade e capacidade de ajuste às restrições", antecipando compras "quando necessário" e usando a sua capacidade de gestão de stocks para minimizar o impacto da crise.
Lidl
A cadeia alemã em Portugal garante que "não sentiu nenhum impacto de relevância maior" com a crise dos contentores. Os atrasos, a existirem, são "pontuais" e a campanha de Natal já está nas lojas.