Crise abre caminho às marcas brancas
Comprar luxo para a maioria dos portugueses é muito difícil, uma vez que o seu poder de compra está seriamente comprometido com o aumento do IVA, a estagnação salarial ou até redução (no caso dos funcionários públicos) e de uma inflação de 2,7%. Mas para elevar o ânimo "graças a Deus lá vão aparecendo os saldos", defende Ana Simões, de 42 anos, secretária de administração com duas filhas adolescentes (14 e 17 anos), às compras no El Corte Inglés com os olhos postos em marcas como Carolina Herrera, Burberry, Escada ou Armani que, em circunstâncias normais, lhe custariam muito dinheiro.
Mas marcas há como a Zara (e suas marcas 'irmãs', Pull & Bear, Bershka, Massimo Dutti ou Stradivarius) ou H&M que praticam preços mais em conta. E, a avaliar pela expansão dos seus grupos, o negócio até nem tem ido mal.
No entanto, uma grande maioria de portugueses está a comprar menos procurando mais barato, como demonstra um estudo recente da Kantar que aponta para os combustíveis, roupa e alimentação como os mais penalizados. A roupa irá perder 13,5%, enquanto os combustíveis andarão pelos 16,7%.
Já na alimentação, onde a frequência de compra irá cair 5%, assiste-se a um fenómeno interessante: o aumento do consumo das marcas brancas (da distribuição), que, segundo estudo recente da Deco, são 30% mais baratas, em média, do que as marcas do fabricante. Razão por que muitas marcas como a Nestlé, Unilever, entre muitas outras, têm lutado (através da associação Centromarca) para manter as suas margens.
Mas também na roupa as marcas de grande distribuição têm reforçado a sua oferta, criando marcas próprias com descontos substanciais para o consumidor - caso do Modelo Continente com as suas lojas Modalfa.
O caso dos automóveis, onde facilmente é identificado o estatuto de luxo, é interessante em Portugal, com as vendas a registarem valores recordes em 2010, dentro da escala que o País tem, claro está.
Assim, no total, as sete marcas de luxo em Portugal (Porsche, Jaguar, Ferrari, Aston Martin, Lamborghini, Bentley e Maserati) aumentaram as suas vendas em 50%, para 785 unidades, segundo dados de 2010 da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), graças, sobretudo, à Porsche, que vendeu um total de 469 carros (+88%), a Jaguar 469, e a Lamborghini seis (+50%).