Criopreservação do cordão umbilical não se justifica
Numa nota publicada no site do Instituto Português do Sangue, o organismo lembra que a "probabilidade de uma criança vir a ter uma anemia aplástica grave (...) parece muito baixa (<1 para 50.000) para justificar a conservação de SCU para utilização pelo próprio".
"Sendo uma opção de caráter familiar e privada, o IPST esclarece que o potencial benéfico, para o próprio ou um irmão(ã) é, na verdade, no momento atual, quase residual e geralmente inexistente", lê-se na nota.
Em matéria de considerações éticas, o organismo diz mesmo que há duas objeções éticas a ter em conta: "o aproveitamento de uma maior sensibilidade emocional dos pais da criança, que legitimamente quererão o melhor para o seu filho, e a desigualdade de acesso condicionada pelas condições económicas das famílias".
Recomenda, por isso, que as famílias procurem uma segunda opinião junto de especialistas conhecedores da problemática.
O IPST aponta que a principal motivação para uma família optar pela conservação do SCU é a "noção de que está a oferecer à criança um 'seguro biológico' para o caso de surgir uma doença com indicação para transplante hematopoiético autólogo", ou seja, o recebimento das próprias células.
"Em relação ao potencial de utilização noutras áreas, nomeadamente na chamada medicina regenerativa, poderão surgir utilizações no futuro nomeadamente em cardiologia, neurologia e diabetes. Trata-se, no entanto, de hipóteses por enquanto especulativas, que, no estado atual dos conhecimentos, não justificam a criopreservação autóloga de SCU para utilização na idade adulta", defende o IPST.
Admite, no entanto, que dada a evolução que se tem verificado na terapia celular, "ainda não substanciada em resultados clínicos favoráveis", será necessária uma revisão regular desta matéria.
"Importa pois considerar o rigor da informação fornecida pelos bancos privados aos futuros pais e, na medida do possível, avaliar o grau de compreensão dos mesmos relativamente a essa informação. As famílias são aconselhadas a ponderarem a publicidade que é feita e são alertadas para o risco de publicidade enganosa que as autoridades perseguem", aconselha o organismo.
Na opinião do IPST, é difícil justificar este tipo de procedimentos por parte dos bancos privados tendo em conta os preços atualmente praticados e a relação custo/benefício.
O organismo diz que a decisão final será sempre do foro familiar, mas defende que não é aceitável a "ausência de transparência e publicidade enganosa muitas vezes praticadas pelos promotores".
"As empresas que atuam nesta área devem igualmente fornecer aos seus clientes informação referente ao armazenamento e segurança das unidades no caso de insolvência ou suspensão da sua atividade, já que a propriedade das unidades recolhidas por estes bancos deve manter-se em quem fez o depósito", defende o IPST.