Crimson Peak - A Colina Vermelha

Os críticos do DN em torno do novo filme de Guillermo Del Toro que tem Mia Wasikowska no elenco
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INÊS LOURENÇO (3/5)

Del Toro saIu do labirinto

Guillermo del Toro está, de novo, na sua praia. É um facto que, depois de O Labirinto do Fauno, a trajetória do seu cinema tem vindo a perder a marca de autor. Mas com este A Colina Vermelha, a tendência inverte-se: o mundo fabuloso e adornado do realizador parece ressuscitar dos mortos. E dizê-lo assim, não está longe do literal. A Colina Vermelha segue a tradição do romance gótico (e não tanto o género do terror sugerido em cartaz), apropriando-se da temática fantasmagórica para conceber uma história entre dois mundos.

A base narrativa é comum a um Rebecca, de Hitchcock, Jane Eyre, de Robert Stevenson, ou O Castelo de Dragonwyck, de Joseph Mankievicz, todos ilustrando a chegada de uma mulher bela e frágil a um castelo imponente e sombrio, com espíritos que habitam quadros. A imaginação de clássicos como estes condicionou a posteridade à repetição de ideias, mas a inovação pode residir ainda no tom, e é esse trabalho que del Toro faz. O que interessa aqui é o romance, em toda a sua obscuridade, firmado num elenco superior, que se harmoniza com o desmesurado e explosivo design de produção.

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JOÃO LOPES (1/5)

O cinema gótico de Del Toro

Desde Cronos (1993), o filme que projectou internacionalmente o nome do mexicano Guillermo Del Toro, até Batalha do Pacífico (2013), superprodução marcada pela "estética" dos jogos de vídeo, tem sido mais ou menos claro que há no seu trabalho uma concepção visual que tende a sobrepor-se a qualquer dispositivo de mise en scène. Com o suporte de um grande estúdio de Hollywood (Universal) e um orçamento de produção superior a 50 milhões de dólares, este gótico Crimson Peak não deixa de ilustrar o mesmo tipo de limitações. A saber: um obsessivo investimento na fabricação da mansão assombrada onde decorre o essencial da acção (é, em si mesma, uma proeza de produção, por certo a ser considerada nas nomeações para os próximos Óscares) e, depois, uma narrativa mais ou menos estereotipada e previsível que, em qualquer caso, nunca é prioritária na visão de Del Toro. Com a sua indesmentível sofisticação técnica, este é, afinal, um cinema típico de um lugar-comum contemporâneo: o de que contar histórias em cinema é, como na publicidade, a arte de criar um "look".

RUI PEDRO TENDINHA (3/5)

Fantasmas mexicanos numa mansão inglesa

São algumas as razões que explicam o facto de Crimson Peak não estar no pedestal do melhor cinema de Del Toro. A maior delas um erro de palmatória do seu argumento: um buracão no meio que faz da sua carga melodramática um entrave à progressão da narrativa, como se o filme ficasse entupido. Comprova-se que o cineasta mexicano é melhor a encenar atmosferas e a desenvolver conceitos do fantástico do que a escrever.

O filme é história de Edith, uma jovem americana na passagem do século XIX para o século XX que decide casar-se com um sinistro lorde inglês. Chegados a Crimson Peak, a sua mansão em Inglaterra, Edith descobre um mundo repleto de fantasmas e a ameaça da cruel irmã do novo marido.

Rodado com cores quentes, um trabalho de câmara sumptuoso e com atores em registo de tom notas acima do que é habitual (destaque óbvio para Jessica Chastain, mais uma vez diferente de tudo o que anteriormente fez), esta imersão em terror estilístico está uns furos abaixo do melhor que Del Toro já criou, mas, por outro lado, permite uma noção de delírio teatral que é em si mesmo um trunfo. Fazemos-lhe a vontade e lembramos: não é terror, é romance gótico.

Título Original: Crimson Peak

Realizador: Guillermo Del Toro

Ano: 2015

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