Crianças em risco chegam mais velhas às instituições
As crianças e jovens em risco estão a chegar às instituições com idades mais avançadas. Em 2009, das 2187 que entraram no sistema de acolhimento, 1163 (53%) tinham mais de 10 anos. Por terem sido sujeitos a maus tratos físicos e psicológicos reiterados, muitos destes adolescentes apresentam graves problemas de comportamento e de saúde mental para os quais não há ainda respostas adequadas.
"O aumento da idade das crianças que entra no sistema é uma tendência consistente e crescente. Há sempre uma tentativa de reconstruir a família e de esgotar todas as hipóteses no seio familiar", explicou ao DN Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social.
Apesar de haver mais situações sinalizadas por escolas, comissões de protecção de menores e unidades de saúde - até pelos próprios pais - e de estas serem detectadas cada vez mais cedo, aposta-se sempre na recuperação da família antes de retirar uma criança do seu contexto familiar.
"A primazia é sempre o interesse da criança. Mas, às vezes, estas vivem anos entregues a si próprias e só quando falha o último recurso, e, por exemplo, há uma avó que morre, é que se toma uma decisão. E nestas idades não se pode perder tempo. Um ou dois anos é muito tempo", afirmou ao DN Cecília Abecassis, directora do Centro de Alojamento Temporário de Tercena, um lar da Santa Casa da Misericórdia de Cascais que acolhe adolescentes e jovens.
Os dados da Segurança Social mostram que tem vindo a diminuir o número de crianças institucionalizadas e a subir a saída das que estão em instituições. Mas o facto de estas entrarem no sistema com idade mais avançada dificulta o seu projecto de vida e a integração num contexto familiar, por exemplo, através da adopção ou das famílias de acolhimento.
Muitos candidatos à adopção procuram crianças até aos três anos, mas a grande maioria das crianças adoptáveis tem idade superior a quatro.
O relatório da Segurança Social relativo ao ano passado sublinha ainda que o perfil das crianças e jovens em acolhimento está a mudar e que entre estes há uma elevada prevalência de problemas de comportamento (13% do total) e de saúde mental, situações que exigem abordagens diferencia-das, acompanhadas por técnicos especializados capazes de conter estes conflitos.
Apesar de os problemas de comportamento começarem a surgir em crianças cada vez mais novas, os dados mostram que é entre os 15 e os 17 anos que há mais problemas destes.