Crianças continuam a ficar com as avós

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Ermelinda ajudou a criar quatro netos. Não trabalhava e ocupou-se a cem por cento dos primeiros dois, estava na casa dos 50 anos. Os segundos, dez anos depois, tiveram uma guarda partilhada, entre a creche e a sua casa. É uma das muitas avós a ocupar-se das crianças, o que acontece em um terço das famílias. Já as mães estão a ser "substituídas" pelas creches e amas.

Nos anos 70, oito em cada dez crianças ficavam os primeiros anos de vida com as mães (44,3%) ou com os familiares (33,8%), quase sempre uma avó, revela o inquérito às famílias portuguesas. Este modelo, a que os sociólogos chamam de "maternocêntrico", está a dar lugar a formas mais diversificadas e em que os pais delegam a guarda das crianças a terceiros, em geral as creches (18,6%) ou as amas (12,6%).

Nos anos 90, apenas 26,8% das mulheres tomaram conta dos filhos a tempo inteiro, contra 44,3% das que foram mães há vinte anos. Pelo contrário, a entrega de crianças a familiares aumentou ligeiramente, situando-se na última década nos 36,4%. Os dados mostram que os avós continuam a ter um papel na educação das crianças.

As habilitações literárias e a classe social influenciam bastante a forma como o casal organiza a vida familiar. Nas famílias em que as mulheres não têm escolaridade ou têm apenas o ensino primário, ainda é a mãe que se ocupa dos mais novos, 60,9% e 46,5%, respectivamente. Esta situação só se verifica em 4,5% das entrevistadas que têm pelo menos o ensino superior. E 30 % dos empresárias e dirigentes têm empregada.

As soluções para a guarda dos filhos têm, também, a ver com as estruturas de apoio familiar. E é neste campo que existe um outro factor de desigualdade social quem pouco tem, pouco recebe.

"Foi uma surpresa. Portugal é sempre situado num modelo de Estado-Providência residual e conservador, onde faltam apoios financeiros e serviços. E, para compensar essa falha, existe a teoria da Sociedade-Providência, que é basicamente a família e a comunidade. Isso seria sobretudo importante para as classes sociais desfavorecidas que não podem recorrer ao mercado para completar as lacunas do Estado. Este estudo mostra o contrário. As famílias menos desfavorecidas têm menos apoio familiar e menos ajudas do que as que têm mais recursos económicos e sociais", diz Karin Wall.

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