Crianças com comportamentos sexualizados: quando nos devemos preocupar?
Os comportamentos sexualizados em crianças geram habitualmente alguma preocupação nos pais e noutros adultos. Em que medida podem ser um sinal de abuso sexual? Até onde podem estes comportamentos ser considerados normativos e a partir de que momento nos devemos preocupar?
Sabemos que as crianças não são seres assexuados e, por isso, a exibição de alguns comportamentos sexualizados não tem de ser, necessariamente, um sinal de alarme. Da mesma forma, a mera observação de comportamentos de natureza sexual não permite perceber a sua natureza, motivações ou, ainda, o conhecimento sexual que a criança detém. Assim, importa sublinhar que o comportamento tem sempre de ser avaliado no seu contexto, com especial atenção à sua frequência, duração e intensidade.
De uma forma geral, os comportamentos sexuais nas crianças são habitualmente considerados problemáticos quando envolvem crianças com uma diferença óbvia na idade, tamanho, capacidade intelectual ou responsabilidade ou, ainda, na popularidade e capacidade de liderança (ou seja, quando existe assimetria de poder). Da mesma forma, qualquer interação que envolva algum tipo de coerção deve ser entendida como preocupante (p. ex., manipulação, pressão, oferta de recompensas ou ameaças).
Neste contexto, alguns comportamentos podem ser considerados normativos e não preocupantes como, por exemplo, curiosidade sobre como se fazem os bebés, conversas sobre os seus órgãos genitais, brincadeiras em que mostram o seu órgão sexual/pedem ao outro para mostrar o seu (com os seus pares) ou a masturbação ocasional, sem qualquer tipo de penetração.
Pelo contrário, conversas mais explícitas que denotem um conhecimento sexual precoce, gozar ou embaraçar os outros com recurso a temas sexuais, simular o ato sexual na atividade lúdica ou a masturbação compulsiva que inclua penetração vaginal ou anal devem ser entendidos como sinais de alerta que requerem um olhar mais atento e uma avaliação especializada.
A exibição de comportamentos sexuais desajustados para a idade não significa que a criança tenha sido vítima de alguma forma de violência sexual e pode traduzir a existência de um outro tipo de problemática, que importa avaliar, para melhor intervir.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal